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Especialistas divergem sobre adiamento do Fator
Brasília - A transferência, para janeiro de 2009, da entrada em vigor do Fator Acidentário de Prevenção (FAP) que recompensará as empresas que investem na segurança dos empregados com redução na alíquota do Seguro de Acidente de Trabalho provocou opiniões divergentes entre especialistas ligados à saúde do trabalhador.
Médicos do trabalho disseram acreditar que o adiamento representa uma atitude prudente do governo. Representantes de entidades ligadas aos trabalhadores, no entanto, alegaram que a medida representa um recuo e prejudica os empregados.
Para o presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), Carlos Campos, a nova data de início da aplicação do FAP poderá evitar futuras contestações dos empresários. A intenção do governo é boa, mas é preciso fazer tudo com muito cuidado, para não criar problemas lá na frente, disse.
Segundo o secretário nacional de Políticas de Previdência Social, Helmut Schwarzer, o adiamento foi necessário a fim de dar mais tempo para os empregadores analisarem os registros de acidentes de trabalho, que serão levados em conta na hora de definir o fator utilizado para determinar a alíquota de cada empresa. Ele também apontou a necessidade de a Receita Federal terminar a atualização dos cadastros.
Já o diretor do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat), Pérsio Dutra, disse acreditar que a decisão do governo de deixar o FAP para 2009 não trará benefícios para o governo, muito menos para o trabalhador. O adiamento significa apenas dar mais prazo para as empresas contestarem o nexo técnico-epidemiológico até o final do próximo ano. Enquanto isso, milhares de trabalhadores vão continuar a se acidentar e não ter os direitos reconhecidos, avaliou.
Apesar das opiniões distintas quanto ao mérito do adiamento, os representantes das duas entidades rebatem os argumentos dos empresários de que a metodologia utilizada para definir o nexo técnico-epidemiológico seja irregular. Os critérios para definir uma doença como diretamente relacionada ao trabalho foram definidos pelo Ministério da Previdência com a participação da sociedade médica e são bastante confiáveis, rebateu Carlos Campos, da Anamt.
O diretor do Diesat afirmou que a metodologia obedece a critérios científicos, porque não foi baseada em amostras, mas analisou as ocorrências de doenças em todas as empresas do país. Foi feito um censo nacional para avaliar a incidência dos problemas de saúde não se trata de uma mera pesquisa que se concentrou em poucas regiões, disse.
Pérsio Dutra rebateu ainda a alegação dos empresários, de que a comprovação do acidente de trabalho deveria ser feita caso a caso, não por meio do nexo técnico-epidemiológico: O médico perito teria de verificar as condições de trabalho na empresa a cada registro de doença, o que é impossível.
Para o presidente da Anamt, no entanto, além de representarem uma conquista para os trabalhadores, o FAP e o nexo técnico-epidemiológico trarão benefícios aos empresários a médio e longo prazo. Num primeiro momento, o empresário terá de investir, mas esse gasto será compensado no futuro por resultados sociais, observou.