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Especial: o presidente dos bonés

Por Gabriela Guerreiro/ABr - 26 de outubro de 2003 - 13:58

Eles foram chegando aos poucos. No início, eram singelos presentes entregues ao presidente da República. Com o passar dos meses, começaram a fazer parte da rotina dos encontros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro e fora do Palácio do Planalto. Nesses quase dez meses de governo, os bonés definitivamente já fazem parte da vida e da imagem do presidente Lula, difundida em vídeo, fotografias e, por que não?, numerosas charges e caricaturas reproduzidas diariamente Brasil afora. Desde que tomou posse em 1o de janeiro deste ano até a semana passada, o presidente já havia recebido 52 bonés - de diferentes cores e formas, ostentando os mais diversos símbolos, à direita e à esquerda no espectro político.

O acervo fica à disposição do presidente, em um espaço reservado para guardar todos os presentes recebidos pelo chefe de Estado no Palácio da Alvorada. Mas das muitas lembranças que recebe todos os dias, os bonés passaram a ter maior destaque depois que o presidente se deixou fotografar com o boné do Movimento dos Sem-Terra (MST), durante encontro com integrantes do movimento em julho deste ano. Entre muitas críticas e algumas manifestações de apoio por ter usado o boné, o episódio só serviu para reforçar o que já está comprovado: todos querem “fazer a cabeça” do presidente.

Principalmente depois do boné do MST, o acessório passou a fazer parte da rotina de Lula. O acervo do presidente reúne bonés de times de futebol, de movimentos sociais, empresas, festas, shows, e até algumas “derivações” do produto, como dois tradicionais chapéus no estilo tirolês, recebidos em audiências em homenagem às colônias européias na região Sul do Brasil. Os bonés também fizeram Lula encarnar vários estilos: roqueiro, ao receber o presente de músicos de um festival de música em Brasília; atleta, durante encontro com os brasileiros que foram aos jogos Pan-Americanos, ou mesmo o estilo tradicional, quando usa os bonés para se proteger do sol ou homenagear empresas, movimentos, entidades.

De Senna a Lula

Quem comemora a “febre” dos bonés são os moradores de Apucarana, cidade do interior do Paraná. Conhecida como Capital Nacional do boné, a cidade, situada a 300 km de Curitiba, produz em média seis milhões de bonés por mês, dos quais 15% são destinados à exportação. Tudo começou na década de 80, quando Apucarana ficou famosa em todo o mundo por produzir os famosos bonés usados pelo piloto Ayrton Senna. Hoje, as principais de bonés do país estão na cidade paranaense.

Os fabricantes paranaenses comemoram o “incentivo” que o produto vem recebendo ao fazer a cabeça do presidente. Com a queda nas vendas desde o início do ano, depois que o Real se desvalorizou frente ao dólar, os empresários recuperaram o otimismo com o impulso dado pelo presidente aos bonés. "Nós, como fabricantes, estamos comemorando porque, mesmo que involuntariamente, as fotos e imagens de Lula com algum boné promocional na cabeça devem resultar em aumento de pedidos de clientes e num aquecimento da indústria", avalia Cleiton Story, proprietário da Ritto's Bonés Promocionais e presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Bonés de Qualidade, com sede em Apucarana.

O setor de fabricantes de bonés gera mais de seis mil postos de trabalho na cidade, e é o responsável pela maior parcela de empregos em Apucarana. “Estamos felizes com a propaganda positiva e não-intencional que Lula fez do nosso principal produto. Agora só falta as demais empresas despertarem para a força do marketing que o boné tem. Está mais do que comprovado que esse acessório é o melhor brinde promocional para alavancar uma marca", defende Cleiton Story.


Figueiredo, presidente militar, vestia à paisana e procurava esconder o quepe, que os fotógrafos, magistralmente, captavam "no ar"
O apoio indireto prestado pelo presidente é tamanho que os fabricantes de bonés de Apucarana pretendem marcar uma audiência com Lula para prestar uma homenagem. E, mais uma vez, o boné estará em cena: os empresários querem presentear Lula com um modelo estilizado do produto, estampado com a bandeira do Brasil.

Se continuar no ritmo atual, até o final do governo o presidente Lula poderá contribuir com peças “raras” para o único museu de bonés do país, instalado em Apucarana. Se, em quase dez meses de governo, o presidente já recebeu mais de 50 bonés, até o final de 2006 terá contabilizado quase 300 - na média de um boné e meio por semana.

Enquanto o boné poderá se tornar a “marca” registrada de Lula até o final do governo, outros presidentes também entraram para a história pelo modelo que escolherem para usar na cabeça. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram imortalizados com os tradicionais chapéus no estilo “panamá”. Os presidentes do período que sucedeu o golpe de 1964 posavam com seus quepes típicos do uniforme militar. Presidentes diferentes, com estilos distintos. Cada um com seus símbolos, marcas e linguagens.



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