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Especial: João Paulo II chega aos 25 anos de papado

Agência Brasil - 16 de outubro de 2003 - 13:59

Texto: Luciano Pires

Nesta quinta-feira, João Paulo II escreve seu nome outra vez no livro da História. Há exatos 25 anos, ocupa o maior cargo da Igreja Católica. Sua trajetória se confunde com os principais acontecimentos do século XX. Como líder do mundo católico, mediou conflitos entre povos e países, reatou laços desfeitos há séculos e confirmou ano após ano a doutrina Romana. Como figura política, tomou posições, agiu ideologicamente, fortaleceu uns e enfraqueceu muitos outros. Para um polonês de origem humilde que imaginava enveredar-se pelo Teatro, acumular recordes a frente da Igreja nunca esteve entre seus roteiros rascunhados quando jovem. Neste quarto de século, o Papa acostumou-se como ninguém a enriquecer sua biografia. Viajou mais que qualquer chefe de Estado, dominou mais línguas que qualquer poliglota e apertou tantas e tão diferentes mãos como poucos no planeta o fizeram.


Centralizador: Vaticano tem como líder um Papa muito preocupado com questões internas da Igreja

Karol Józef Wojtyla, nasceu em Wadowice, Polônia, a 18 de maio de 1920. Filho mais novo de um casal de camponeses manifestou interesse pela vida eclesiástica na infância, amadureceu sua vocação logo nos primeiros anos da juventude e aos 58 anos tornou-se o Papa (com 103 dos 109 votos do colégio de cardeais) mais jovem desde Pio IX e o primeiro não-italiano a ser eleito desde 1522. A partir daquele 16 de outubro de 1978, Wojtyla entrava para a lista eclesiástica como 261º Papa da Igreja. Para o mundo, passou a ser chamado de João Paulo II.

Ex-professor universitário de filosofia, poeta e dramaturgo publicado, hábil alpinista e esquiador, falando sem embaraço francês, alemão, inglês, italiano e russo, Wojtyla era sem dúvida um astro e trazia uma bagagem notável. Filho de um oficial reformado do Exército, que enviuvou ainda na infância de Karol, era estudante durante a ocupação nazista da Polônia e foi operário numa indústria química e de mineração. Foi também o primeiro Papa em dois séculos que teve algo parecido com uma formação comum - se é que uma tal formação pode ser considerada comum - e até uma namorada. (Trecho do livro Santos e Pecadores - História dos Papas - de Eamon Duff (1998)

João Paulo II acumulou como poucos avanços e retrocessos. Obstinado pela pureza da Doutrina, apoiou-se nas forças conservadoras do Vaticano para justificar sua rigidez na aplicação dos preceitos católicos. Muitos reflexos disto submergem de tempos em tempos quando a Igreja Católica do século XX aborda, por exemplo, temas relacionados à família, à sexualidade, à mulher e a posturas políticas identificadas como “contemporâneas” demais. O centro dessa dureza doutrinária materializa-se na figura do cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o segundo na hierarquia do Vaticano. Como guardião da doutrina, Ratzinger foi um implacável perseguidor de tudo o que pudesse colocar o catolicismo em xeque.


Idade: Aos 83 anos, Wojtyla diminui o ritmo de viagens e discursos

A atitude de João Paulo II para com a Teologia da Libertação seria um dos aspectos mais controvertidos de sua postura teológica. (...) Profundamente hostil ao comunismo, desconfiava das posturas que, na sua opinião, subordinavam os interesses cristãos à agenda marxista. Opunha-se radicalmente, pois, à participação direta de padres e bispos na política e encarava sem o menor entusiasmo as atividades dos prelados como Oscar Romero, arcebispo de Salvador, ou Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, que, na defesa dos pobres, lançaram-se contra os governos. (Trecho do livro Santos e Pecadores - História dos Papas - de Eamon Duff (1998)

O papado de Wojtyla, porém, será lembrado por grandes gestos. Um progressismo muito peculiar ao estilo João Paulo II - que não raro chocou-se com os interesses de seus aliados no Vaticano - de conduzir o mundo católico. De “Papa operário”, passou à condição de “Papa peregrino”. Percorreu o mundo, privilegiou o diálogo, buscou traços comuns nas diferenças de credo e pensamento em nome do consenso. Não por acaso, João Paulo II é reconhecido internacionalmente como artífice atuante nos campos dos Direitos Humanos, da igualdade entre os povos e da justiça. Como poucos, nestes casos, foi progressista.

Para muitos, o Papa João Paulo II é uma figura voltada para o passado, um homem que, à força, quer colocar a rolha de volta na garrafa de champanhe. Para outros, ele mostra o caminho da recuperação do equilíbrio, da restauração da ordem e da verdadeira fé no fluxo do tempo. (Trecho do livro Santos e Pecadores - História dos Papas - de Eamon Duff (1998)

“Em certas coisas, ele está a frente de seu tempo. Não se pode analisar João Paulo II isoladamente. A vida dele é marcada por momentos e movimentos que não podem ser explicados separadamente. Contra a vontade de muitas pessoas o Papa pediu perdão aos maus caminhos seguidos pela Igreja em vários momentos históricos”, diz o dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho (RO), e um dos mais dedicados estudiosos de João Paulo II.


Pobres: O mundo católico despertou-se para a miséria

O perdão é o elo que sustenta todas as vertentes que buscam traduzir o comportamento de João Paulo II. Defini-lo como conservador ou progressista é, na opinião de outro pesquisador, simplificar a figura de Wojtyla. “Cuba é uma antes e outra diferente depois de João Paulo II”, reforça Fernando Altemeyer Júnior, professor do departamento de Teologia da PUC-SP. João Paulo II esteve na ilha de Fidel em 1998. “Acredito que o chamado mundo pobre não tenha muitas críticas a fazer sobre a atuação dele no geral”, completa.

“Não se deve buscar a resposta somente nas estruturas, nos instrumentos e nas instituições, no sistema político ou nos embargos econômicos, que são sempre condenáveis porque lesam os mais necessitados. Estas causas são apenas uma parte da resposta, mas não chegam ao fundo do problema” (Mensagem escrita aos jovens cubanos)

Um paradoxo, no entanto, coloca-se como um dos maiores desafios do Vaticano neste momento. A escolha de um sucessor de João Paulo II se aproxima. Debilitado e sem forças para continuar suas andanças pelo planeta, Wojtyla perdeu o vigor que o mundo católico lhe cobra. Tal escolha coloca o Vaticano diante de inúmeros dilemas. O próximo Papa, assim como João Paulo II, não poderá fechar os olhos para a pobreza e a miséria. Terá de manter abertos os canais de diálogo com outras crenças. Certamente pedirá perdão por muitos atos ainda não assumidos pela Igreja. Receberá como missão promover uma nova investida do catolicismo sobre o Oriente.

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