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Especial: horário de verão começou com Getúlio Vargas

Agência Brasil - 18 de outubro de 2003 - 15:17

Brasília -Começa neste domingo, 19, a trigésima edição do horário de verão brasileiro. À meia-noite de sábado para domingo, os relógios deverão ser adiantados em uma hora nos estados das regiões Sul e Sudeste e, ainda, no Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Este domingo de 23 horas será compensado mais adiante com um sábado de 25 horas, o dia 14 de fevereiro de 2004, que marca o término da vigência da medida.

O horário de verão tem por objetivo aliviar as condições de operação do sistema elétrico interligado no período crítico do dia, entre 18h e 21h, o chamado “horário de pico”, quando a demanda por energia atinge seus patamares mais elevados. Durante os quatro meses em que o horário é adotado, em geral de outubro a fevereiro, a redução no período crítico varia de 4% a 5%.

Num estado como o Paraná, por exemplo, a redução de carga no horário crítico deverá ser de 6%, ou de 200 megawatts, o que equivale à demanda, nesse período, da cidade de Londrina, o segundo maior centro urbano do estado.


"O objetivo fundamental é poupar energia nos horários de pico, sendo uma medida necessária para melhorar a a segurança do sistema elétrico", segundo Dilma
Segundo a ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, "o objetivo fundamental é poupar energia nos horários de pico, sendo uma medida necessária para melhorar a a segurança do sistema elétrico, eliminar riscos de sobrecarga, além de reduzir a geração das termelétricas (em particular nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais,Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul). Bahia, Tocantins e Mato Grosso não serão atingidos pelo horário de verão porque a medida não resultaria em ganhos de confiabilidade para operação do sistema elétrico em condições normais de emergência.

"Muita gente pensa que a finalidade é reduzir o consumo de energia, mas os efeitos práticos nesse campo são insignificantes", comentou a engenheira Christina Courtouke, da coordenação de Operação da Companhia Paranaense de Eletricidade. O Ministério de Minas e Energia estima que a economia no período de mudança de horário deve ser de 2.250 MW, ou 0,5%.

De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a redução do consumo de energia de 1985 a 2001 registrou média de aproximadamente 1%, mas vem caindo ao longo dos anos. O verão de 1991/1992 foi o que apresentou o maior índice, 2,6%. No período passado, o índice chegou ao mínimo já registrado, 0,2%.


História

A história do horário de verão no Brasil começou na década de 30, pelas mãos do então presidente Getúlio Vargas: sua versão de estréia durou quase meio ano, vigorando de 3 de outubro de 1931 até 31 de março de 1932.

Nos 35 anos seguintes, a medida foi instituída em nove oportunidades: em 1932, de 1949 a 1952, em 1963 e de 1965 a 1967. Depois de muitos anos esquecido, a medida ressurgiu em 1985 por decreto do presidente José Sarney. Desde então, não deixou de ser adotado em nenhum ano.


O desperdício da luz diurna foi o alvo da primeira campanha à favor do horario de verão
O horário de verão foi cogitado pela primeira vez em 1784, por Benjamin Franklin, um dos homens mais influentes da história política e científica dos Estados Unidos. Partindo da observação de que, durante parte do ano, nos meses de verão, o sol nascia antes que a maioria das pessoas se levantasse, ele concluiu que, se os relógios fossem adiantados, a luz do dia poderia ser melhor aproveitada. A maioria da população passaria a acordar, trabalhar e estudar em consonância com a luz do sol, e com isso não se consumiriam tantas velas nas fábricas e residências daquela época. A idéia, na época, não chegou a sair do papel.

Em 1907, na Inglaterra, um construtor chamado William Willett, membro da Sociedade Astronômica Real, deu início a uma campanha que propunha alterar os relógios no verão para reduzir o que classificava de "desperdício de luz diurna".
Willett morreu em 1915, um ano antes de a Alemanha adotar sua tese e se tornar o primeiro país no mundo a implantar o horário de verão.


Resistência

Desde 1985, quando passou a ser adotado regularmente até os dias de hoje, o horário de verão sofreu progressivas flexibilizações. Nos primeiros anos, ele envolvia todo o território nacional. Hoje, dispensa todo o Norte e Nordeste, além do estado de Mato Grosso. Estudos em curso atualmente no Ministério de Minas e Energia avaliam se é possível flexibilizar ainda mais, sem perigo para a estabilidade do sistema.


A luz do dia permanece até às19h e proporciona atividades ao ar livre depois do expediente
De toda forma, há quem defenda que o horário deva permanecer, como o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ). O integrante da Comissão de Minas e Energia da Câmara acredita que o horário é uma excelente forma de educar a população sobre a necessidade de economizar. “A energia é um bem escasso e caro. Hoje, com a cobrança do ICMS, se torna muito mais oneroso para o contribuinte”, ressaltou.

O deputado Fernando Ferro (PT-PE), que também faz parte da comissão, diverge. De acordo com ele, a mudança no horário causa mais transtornos do que benefícios. “A economia é pequena e poderia ser atingida se fossem realizadas campanhas de racionalização do uso da energia na época do verão”, disse.

Desde 1990, no Nordeste, o horário de verão acontecia apenas na Bahia. A decisão de suspender a medida na totalidade da região, tomada este ano pelo Ministério das Minas e Energia, levou em consideração a opinião dos nove governadores nordestinos. Segundo a Companhia Hidrelétrica do São Francisco - Chesf -, embora a Bahia concentre o maior número de indústrias na região, o ganho médio que vinha sendo obtido com a mudança era de apenas 0,5%.


“O sol, no Nordeste, funciona como um relógio para a população. Essa mudança tira o referencial das pessoas.”, argumenta Geraldo
O comunicador Geraldo Freyre, da rádio Jornal, de Recife, é um dos campeões de audiência em Pernambuco. Durante o período em que o horário de verão vigorou no estado, entre 2001 e 2002, ele chegou a liderar uma espécie de campanha popular contrária à medida. Ele diz que a rejeição de seus ouvintes em relação à medida “chega a 90%”. “O sol, no Nordeste, funciona como um relógio para a população. Essa mudança tira o referencial das pessoas.”, argumenta. Geraldo, que aplaude a suspensão do horário de verão em toda a região, também defende as campanhas educativas, em lugar da medida.

O consultor em energia Armando Franco, da Tendências, de São Paulo, também considera o horário de verão dispensável. Segundo ele, o sistema de energia do país tem condições de atuar sem a mudança. “Hoje, está sobrando energia, por causa da redução da demanda e a crise econômica”, explicou.

O horário de verão é implantado todo ano por decreto do Presidente da República, com base em informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, que definem em quais locais o horário será adotado. Além do Brasil, o horário de verão também é adotado nos países da União Européia (entre março e outubro), da América do Norte - Estados Unidos, Canadá e México (entre abril e outubro), além da Rússia, Turquia e Cuba. No hemisfério Sul, a medida é adotada entre outubro e março na Austrália, Nova Zelândia e Chile.


Texto: Carolina Pimentel, de Brasília
Lúcia Nórcio, de Curitiba
Márcia Wonghon, de Recife

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