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Entrevista com o ministro José Dirceu

Spensy Pimentel/Voz do Brasil/ABr - 04 de março de 2005 - 08:40

O Brasil recomeça este mês as negociações com os Estados Unidos para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, avisa: a orientação do governo brasileiro é "avançar nas negociações", mas "sempre dentro e a partir dos interesses do Brasil, os interesses nacionais".

O ministro explica que serão seguidas as diretrizes defendidas pelo país desde a Declaração de Miami. O texto foi aprovado em 2003 e flexibiliza as negociações para o acordo, deixando mais espaço para os interesses brasileiros em ampliar acesso a mercados, mas respeitando acordos estabelecidos na Organização Mundial de Comércio em relação a temas como propriedade intelectual.

A avaliação de Dirceu foi feita em entrevista exclusiva ao programa Voz do Brasil. Leia a seguir a íntegra da conversa telefônica, concedida a partir da Embaixada do Brasil em Washington.

Voz do Brasil – Ministro, como foi hoje o encontro com a secretária de Estado americana, Condollezza Rice?

Ministro José Dirceu - O encontro foi muito proveitoso, porque nós reafirmamos a parceria e o interesse de aprofundar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Como nós sabemos, os Estados Unidos são o nosso maior parceiro comercial, o maior investidor no Brasil.

O presidente Lula e o presidente Bush têm tido uma relação muito profícua, muito proveitosa para os dois países, muito proveitosa para a América do Sul, e nós estamos de novo reiniciando as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e trabalhando em torno da possível visita do presidente Bush ao Brasil no final do ano.

Os negociadores do Brasil e dos Estados Unidos retomaram a agenda com base na declaração de Miami. O Brasil, evidentemente, é um país mais complexo para chegar a um acordo em relação a Alca, porque é um país que tem uma base industrial, tem um grande mercado interno, quer mais acesso aos mercados norte-americanos e tem uma agenda com relação a investimentos, serviços, mais difícil do que os outros países da América Latina. De qualquer forma, acredito que o reinício das negociações foi um bom sinal.

Voz - Qual é a orientação política do governo brasileiro para as negociações da Alca?

Dirceu - Avançar nas negociações, procurar concluí-las, sempre dentro e a partir dos interesses do Brasil, os interesses nacionais. O Brasil quer mais comércio, precisa de mais comércio para resolver seus problemas sociais, para garantir o desenvolvimento, para superar a sua dependência de capitais externos, e tem interesse e disposição de negociar nos campos que são de interesse dos Estados Unidos.

Mas, tem que preservar e proteger a sua indústria, o seu mercado interno, o setor de compras governamentais, de propriedade intelectual, de serviços. O Brasil hoje é um grande exportador de serviços já na América Latina. Portanto, são áreas que, para avançar, precisamos de reciprocidade, precisamos sempre ter em conta o interesse nacional. Mas acredito que podemos olhar o futuro com otimismo.

Voz - O sr. também teve encontros com investidores aí, em uma semana em que vários números positivos da economia foram divulgados aqui no Brasil. Qual a visão que esses investidores e os Estados Unidos, de um modo geral, têm tido sobre o nosso país?

Dirceu - A visão que eu encontrei aqui é uma visão boa, positiva, muita expectativa com relação aos avanços da economia brasileira, um grande respeito pelo Presidente Lula e também uma grande confiança no Brasil neste momento.

Tenho certeza que conseguimos levar aos investidores aquilo que é de interesse do Brasil neste momento: mais investimentos na infra-estrutura, particularmente na área de transporte, de energia, e também mais comércio. Encontrei aqui um clima de muita confiança no Brasil e de muito empenho na melhoria do comércio e nos investimentos.

Voz do Brasil - O sr. teve também encontros nas Nações Unidas. Como foram as conversas em relação a esse movimento internacional que o Brasil tem liderado sobre as Metas do Milênio?

Dirceu - O chefe de gabinete do secretário Kofi Annan, mr. Mark (Mark Malloch Brown), me recebeu com elogios à ação do Brasil, com propostas concretas de realizarmos uma conferência de troca de experiências com países da dimensão do Brasil – a Índia, a África do Sul, a Indonésia. E também com a expectativa da conferência que as Nações Unidas vão realizar no final do ano que vai tratar das Metas do Milênio.

O Brasil, segundo mr. Mark, é um exemplo, você tem programas que devem e podem ser levados a outros países. Nos cumprimentou inclusive pelos avanços na relação com a sociedade civil, com as empresas, com o programa que a Bolsa de Valores de São Paulo lançou de ações sociais e também com a logomarca e com o site que nós temos hoje sobre as Metas do Milênio e com os avanços do Brasil na alfabetização, na redução da mortalidade infantil, no avanço da Saúde da Mulher, no Bolsa Família, no combate contra fome, na área de saneamento.

Acredito que hoje o Brasil é respeitado internacionalmente, apesar de que precisamos avançar muito, e mais, no combate a fome, no combate a desigualdade, na criação de empregos. Mas, acredito que nesses dois anos nós já temos um reconhecimento internacional.

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