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Em Pirenópolis, incêndio alerta para preservação

Marina Domingos/ABr - 03 de junho de 2004 - 11:08

A cidade de Pirenópolis (GO), declarada Patrimônio Nacional pelo Iphan desde 1988, agora reivindica o reconhecimento como Patrimônio Mundial da Humanidade. O pequeno município de 18 mil habitantes foi fundado em 1729, dois anos depois da antiga capital do estado, a cidade de Goiás. A conservação dos imóveis realizada por moradores e visitantes fez com que um patrimônio de quase 300 anos fosse preservado.

“Costumamos dizer que a salvação de Pirenópolis foi o esquecimento de mais de um século. Terminado o ciclo do ouro, a cidade foi abandonada e somente redescoberta quando Brasília foi construída, há 44 anos”, lembra Sívio Cavalcante, arquiteto do Iphan responsável pelo patrimônio tombado na cidade.

Apesar da preservação das igrejas e do casario colonial, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, a maior e mais visitada da cidade, pegou fogo em setembro de 2002. O incêndio causou comoção nos moradores, que acompanharam a tragédia sem poder fazer nada.

Na época, não havia um destacamento do Corpo de Bombeiros no município e a ajuda custou a chegar. “Das 15 imagens tudo que era de madeira foi queimado, virou cinzas. Só conseguimos preservar cinco, que os próprios moradores salvaram do fogo, e que tínhamos restaurado pouco antes do incêndio”, conta o arquiteto.

Da igreja do século XVIII, construída em taipa de pilão, técnica que consiste na socagem do barro em formas de madeira, só sobraram as paredes com dois metros de largura e 12 de altura. “Tivemos que reaprender a fazer engenharia, porque a técnica trazida da África pelos escravos já não é mais utilizada nos dias de hoje”, explicou ele.

Exposição

O apelo da população fez com que o Iphan decidisse abrir o canteiro de restauração para que todos pudessem acompanhar as obras, criando a exposição Canteiro Aberto. Segundo Sílvio, a intenção foi preencher o vazio psicológico causado na população, acostumada a ir todos os dias à igreja, o principal marco da cidadezinha. “Foi muito triste perder esse patrimônio de que eles cuidavam com tanto carinho”, disse o arquiteto do Iphan.

Serão três anos de reconstrução para recuperar parte das perdas, uma vez que todo o acervo de imagens e o altar folheado a ouro foram totalmente consumidos pelo fogo. A primeira fase já começou com a limpeza e a catalogação do que foi destruído. A Sociedade de Amigos de Pirenópolis (Soap) e o próprio Iphan coordenam a restauração técnica, que é executada pela Construtora Biapó.

A parte financeira ficou a cargo da Companhia Energética de Goiás (Celg), da Caixa Econômica Federal e da Petrobras, que juntas vão destinar R$ 3,6 milhões, isentos de impostos graças à Lei Rouanet. “Desse total, já temos R$ 2,6 milhões captados”, conta ele.

Numa etapa posterior o maior trabalho será recompor a parte interna da igreja, já que não existem mais imagens sacras e adornos para completar o altar. O Iphan ainda não definiu como poderá substituir as peças – se fará cópias ou irá comprar novas imagens. “É uma questão conceitual muito grave, porque a obra de arte, em princípio, não pode ser replicada”, explica o arquiteto.

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