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Eleições: Não se esqueça do principal, diz Rogério Moura

Rogério Tenório de Moura - 28 de julho de 2008 - 08:42

Toda eleição é a mesma coisa: candidatos proliferam-se como moscas. Cada qual mais entusiasmado com os próprios predicados que, diga-se de passagem, em sua imensa maioria não passa de retórica vazia e projetos que não saem do lugar comum.
Parece que há cada quatro anos há um surto de falta de lucidez e uma aridez de criatividade em níveis hercúleos. Os resultados disso são facilmente visíveis: ruas imundas transformadas em depósito de “santinhos” por cabos eleitorais despreparados (a maioria sequer conhece o candidato para quem trabalham, que dirá o plano de governo).
A falta de senso crítico generalizado toma conta, começando pela parteira idosa que crê já estar eleita devido ao grande número de crianças que ajudou a trazer ao mundo, passando pela tia da escolinha de balé, cujo maior mérito é ensinar algumas piruetas à meia dúzia de infantes, até o peladeiro de final de semana que acha que seria um bom político porque é conhecido por todo mundo (como se política fosse concurso de popularidade)!
Pena que o que eles, e a maioria dos eleitores, se esquecem é justamente do principal: o projeto político. Todos tratam a política como se resumisse a um mero censo de popularidade, como já citei acima, quando na verdade é o contínuo exercício do zelo do bem comum, é a busca da excelência no trato da coisa pública.
O pior de tudo é ver que tal maneira de se conceber a política está tão entranhada na consciência coletiva que nem mesmo as novas gerações conseguem concebê-la de outra forma. Recentemente houve uma tentativa em diversas cidades de nosso Estado, inclusive em Cassilândia, de politizar nossos educandos, levá-los a se interessar pela vida pública por meio de um projeto denominado “Poderes Mirins”. Ato em si mesmo louvável, porém tão pretensioso quanto ingênuo. Passado o momento de euforia das eleições (do concurso de quem é o mais popular!) o projeto tornou-se autofágico e diluiu-se por si só, abandonado à própria sorte, uma vez que nem mesmo os próprios vereadores e prefeitos mirins tiveram a devida assistência para saberem exercer os mandatos que lhes foram outorgados.
Hoje, paira entre os colegas dos eleitos um ar de desconfiança e de falta de expectativa muito comum aos eleitores adultos. Sei que as intenções dos autores do projeto foram as melhores, mas, como diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio; e parafraseando a fala de uma personagem do filme “Batman begins”: não é o que nós somos por dentro, mas o que nós fazemos que nos define. Logo tudo o que foi conseguido com tal projeto foi a antecipação entre as crianças do sentimento de frustração com a política e reforçar entre os políticos mirins um modelo do fazer político que ninguém mais suporta, pois de toda a euforia inicial só restaram decepção e promessas não cumpridas.
Assim o círculo vicioso continua a rodar e a tragar para si mais e mais adeptos, a cada geração novos “chupa-cabras” da coisa pública surgem buscando acomodar-se às tetas da máquina pública e dela tirarem proveito até a última gota, pois ao perceberem-se incapazes de manterem-se no poder inculcando no eleitor um novo olhar sobre a coisa publica acabam resignando-se ao modelo vigente e dançando conforme a música em vez de tentarem eles mesmos orquestrar um novo regime de coisas.
Tornou-se folclórico nas rodas de conversa, mas foi real; o desabafo do senador Eduardo Suplicy, então candidato à prefeitura de São Paulo, quando em plena Praça da Sé, diante de nada menos que um milhão de pessoas, bradou (em estilo nada peculiar ao dele) que a imensa maioria dos que lá estavam eram corruptores. Desceu vaiado sob o olhar desconsolado dos companheiros de chapa. Cercado pelos repórteres que queriam entender o que lhe ocorrerá, ele afirmou em tom assertivo: “Sei que perdi as eleições, mas lavei minha alma, enquanto os eleitores tratarem os candidatos como meio para se tirar proveito pessoal, em vez de porta-vozes do interesse coletivo, não há boa vontade política que dê jeito nesse país.”
Infelizmente, caro leitor eleitor, essa é a mais pura verdade, é impossível se passar este país a limpo esperando mudança de postura de cima para baixo. É uma lei da física, tudo deve ser erigido de baixo para cima para se manter de pé, por que com a política seria diferente? A mudança de mentalidade deve partir das massas, que são a base de nossa imensa pirâmide social, ou o povo começa a tratar a coisa pública como sendo de todos, ou àqueles que sabem que apenas “estão” no poder vão continuar tratando-a como se não fosse de ninguém. Aliás, se eles administrassem sua vida pessoal e seus negócios da forma como gerenciam a máquina pública, já estariam falidos há muito tempo.
Reflita, companheiro de jornada, e faça refletirem, a corrupção é um câncer que consome não só o órgão onde se localiza o tumor, mas todos os demais onde houver uma raiz lançada. É uma corrente, não há como fugir de suas conseqüências; dinheiro não cai do céu para ninguém, nem mesmo para políticos. Meu parco conhecimento me diz que a única provisão que cai do céu é chuva (dizem as escrituras que há muito tempo atrás choveu um pão meio diferente que tinha o nome de maná, mas o sujeito que providenciou isto com o Todo Poderoso tinha tanta moral que conversava com ele cara a cara, como creio que ninguém hoje em dia tem tanta intimidade com Ele...!). Logo, ou combatemos toda forma de corrupção ou jamais teremos um país realmente justo para todos. Ninguém em sã consciência queima dinheiro, quem patrocina candidato, quer favorecimento em licitações; quem arrecada fundos vultosos para campanha, quer fazer lobby; e quem gasta do próprio bolso mais do que teria de volta em curto prazo de forma lícita, quer se aproveitar do cargo para enriquecer ilicitamente.
As desculpas para tentar extorquir candidatos são as mais esfarrapadas: “são todos uns ladrões”, “ninguém faz nada mesmo”, “depois das eleições eles se esquecem da gente”. Contraditório é notar que quem mais sofre por causa disso são os primeiros a buscar satisfazer seus próprios interesses em detrimento do coletivo. Parece tudo arquitetado para se manter as coisas como estão.
Por outro lado, sabemos que fome e doença são necessidade prementes, que acabam levando pessoas trabalhadoras, honestas ao desespero e agirem contra suas próprias consciências, porém esse imediatismo só se torna vigente quando políticas públicas educacionais e econômicas capengas levam o cidadão a esse dilema. Bem, imediatismo é uma atitude infantil, típica de quem não tem maturidade ou meios para abrir mão de um bem menor hoje em favor de um maior amanhã. Então que os cidadãos que não passam por tamanhas restrições, como você, amigo leitor, que teve acesso a esse artigo, comecem a agir como sendo os adultos da grande família que é a sociedade, sejamos os irmãos mais velhos a discernir e esclarecer a todos, pelo bem de nossos irmãos caçulas, menores e indefesos.
Quem transforma seu voto em mercadoria de troca, em instrumento passível de barganha não é digno do direito que tem. Quem negocia seu voto, vende sua alma ao diabo, pois está dando uma procuração em branco a um mau caráter para fazer o que quiser do futuro de sua comunidade depois de eleito. Pense nisso.

Rogério Tenório de Moura
é licenciado em Letras pela UEMS

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