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Doente costuma ser considerado parcialmente culpado por câncer de pulmão, mostra estudo inglês

Agência Notisa - 05 de maio de 2011 - 14:26

Agência Notisa – Cada vez mais ocorrem campanhas de saúde voltadas para a divulgação e prevenção de hábitos e rotinas que tornam mais provável o desenvolvimento de câncer. Um efeito desta estratégia é que, sabendo quais atitudes são responsáveis por maiores chances de ter a doença, acometidos por alguns tipos específicos de câncer passam a ser considerados culpados por esta condição. O câncer de pulmão, pela conhecida relação existente entre a doença e o ato de fumar, é aquele que aparece mais destacadamente como de responsabilidade do próprio doente. Esta é uma das conclusões do artigo “Variação na atribuição de culpa para diferentes tipos de câncer” (tradução livre), de autoria dos pesquisadores Laura Marlow, Jo Waller e Jane Wardle, do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College London (Inglaterra). O trabalho foi publicado ano passado na revista Cancer Epidemiology, Biomarkes & Prevention.



O estudo contou com a participação de uma amostra de 1.620 mulheres, que tiveram que avaliar, numa escala de 1 a 10, o quanto uma pessoa acometida com cinco tipos diferentes de câncer poderia ser considerada culpada pela sua condição, sendo 1 relacionado a nenhuma culpa e 10, totalmente culpada. Os tipos de câncer avaliados foram de mama, colo de útero, intestino, pulmão e leucemia.



Segundo os autores, o câncer foi por muito tempo visto como uma doença que ataca aleatoriamente, mas as recentes descobertas de comportamentos de risco para seu desenvolvimento estão mudando esta visão. Por um lado, enquanto esta maior consciência da influência dos próprios hábitos é importante na medida em que pode ser um incentivo para o início de mudanças em direção a uma vida mais saudável, isto também pode gerar reações negativas contra pessoas com certos tipos de câncer, ao associar a doença com seu comportamento individual.



No estudo em questão, houve pouca atribuição de culpa para leucemia e câncer de mama (9% e 15%, respectivamente), enquanto pacientes com câncer de pulmão foram considerados pelo menos parcialmente responsáveis por 70% das entrevistadas. Já as atribuições de culpa para câncer de intestino e colo de útero foram maiores entre as participantes com melhores graus de educação. Este achado se relaciona diretamente com o fato de, apesar de haver comportamentos de risco para estes dois cânceres – câncer de colo de útero se relaciona com o vírus HPV, transmitido via ato sexual, enquanto que o de intestino sofre influência dos padrões de dieta e da condição de obesidade ou sobrepeso, explica o texto -, tal relação não é tão óbvia ou divulgada quanto a de câncer de pulmão.



Ao mesmo tempo, o baixo índice de culpabilização do câncer de mama se relaciona à ideia de que o principal fator para seu desenvolvimento é hereditário, apesar de haver pesquisas que o relacionam com estilos de vida como abuso de álcool e sobrepeso/obesidade. Além disso, o fato de ser um dos tipos mais comuns da doença faz com que mulheres, alvo do estudo, tenham vivenciado a luta de família e amigas contra este câncer, o que as torna “menos suscetíveis a atribuí-lo a culpa”, especulam os autores.



Para os pesquisadores, um dos problemas desta atribuição imediata de culpa é que tal percepção pode mudar negativamente a forma como pacientes são tratados não só por pessoas comuns, mas também dentro de instituições de saúde. Além disso, esta associação pode afetar a própria maneira como pessoas doentes encaram sua condição. “Se as atribuições feitas pelos pacientes forem similares àquelas feitas pelas mulheres deste estudo, pacientes com certos tipos de câncer podem ter um risco aumentado de culparem a si próprios, e isto poderia afetar seu ajustamento e qualidade de vida”, consideram no artigo.



Na visão dos autores, a divulgação de comportamentos de risco é fundamental para que haja queda nos índices da doença, mas campanhas de saúde deveriam prestar atenção aos possíveis impactos negativos da imediata associação de culpa para certos tipos de câncer. “Se a educação para saúde focada em fatores de risco comportamental também reconhecer que a mudança de hábitos de saúde é difícil, talvez as atribuições parem na responsabilidade (sem se estender para imposições de culpa)”, consideram os autores. Até mesmo o câncer de pulmão pode ser encaixado nesta abordagem, exemplifica o texto. O artigo chama atenção para a realidade de que “apesar do elo muito forte entre fumo e câncer de pulmão, cerca de 10% dos pacientes com esta condição não são fumantes, e muitos outros fumantes vão lutar repetidamente para largar o vício”, o que evidencia o quão precipitadas podem ser algumas estigmatizações de pessoas com câncer.


Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)


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