Geral
Doença de Alzheimer: As relações amorosas são, por si só, complicadas
As relações amorosas são, por si só, complicadas. Quando a estas adicionamos a problemática da c a situação torna-se ainda mais complexa. Abordar o tema da sexualidade e intimidade ainda é um tabu mas é fundamental para a resolução de problemas relacionados com companheirismo, intimidade e sexualidade na Doença de Alzheimer.
O cérebro controla o nosso comportamento e emoções, determinando o nosso desejo sexual e comportamentos socialmente aceitáveis. Como tal, à medida que a doença evolui é natural que surjam alterações de comportamentos a nível sexual, entre os quais:
• Aumento do desejo sexual;
• Menor interesse sexual ou inexistente;
• Maior ou menor desempenho sexual;
• Alteração no comportamento sexual, preocupando-se menos com o parceiro;
• Alguns casais têm a capacidade de se adaptar a estas alterações facilmente, outros têm uma maior dificuldade em gerir todo este processo. É comum que os parceiros dos doentes de Alzheimer se sintam culpados, frustrados, ressentidos, embaraçados, confusos e com medo.
• Culpados por recusarem investidas sexuais dos seus companheiros ou por desejarem uma vida sexual satisfatória.
• Frustrados devido a problemas que surgem durante o acto sexual, ou pela incapacidade do companheiro em satisfazê-lo, ou em demonstrar interesse nas suas necessidades.
• Ressentidos por suprimirem as suas próprias necessidades ou pelas acusações de infidelidade por parte do companheiro demente.
• Embaraçados ou Confusos pelas alterações no comportamento e assédio sexual do companheiro que não se lembra do seu nome ou pelo seu desejo sexual incessante do mesmo após a relação sexual.
• Medo de ser egoísta, de atender às necessidades do companheiro, ou de ferir o orgulho se recusar avanços sexuais.
Necessidade de intimidade física
O aumento do desejo sexual fruto do desenvolvimento da doença é comum em doentes de Alzheimer e, muitas vezes gera conflitos entre este e o parceiro. Em alguns casos, este desejo sexual é manifestado em locais inapropriados sendo normal que o companheiro se sinta culpado ou não saiba como responder perante uma situação destas. O facto de muitas das vezes o companheiro sexual ser também o cuidador, faz com que o desejo sexual deste seja menor.
Por outro lado, existem casos em que o doente de Alzheimer apresenta um menor desejo sexual devido à depressão. Nestes casos, o tratamento da depressão leva a que o desejo sexual seja reposto.
Procura de companheirismo
À medida que a doença evolui, o doente de Alzheimer deixa de reconhecer o seu companheiro podendo procurar contacto físico íntimo com terceiros. Estas situações são recorrentes em doentes que se encontram em lares e, nestes casos, o tema deve ser tratado de uma forma delicada e é aconselhável que relações extra-conjugais sejam evitadas. A mesma questão também se levanta para o companheiro. Em alguns casos estes não se encontram felizes sexualmente e procuram pessoas fora da relação.
Comportamentos que podem ser erradamente interpretados como sexuais
Em algumas situações, a reacção do doente de Alzheimer pode ser considerada inapropriada quando este apenas estava a tentar comunicar ou obter uma resposta. Por exemplo, um homem pode colocar o pénis fora da roupa para tentar demonstrar que precisa de ir a casa de banho, no entanto, a maioria das pessoas entende como uma expressão de cariz sexual. É importante ter em mente que alguns dos comportamentos considerados anormais não têm um cariz sexual mas podem significar:
• Necessidade de ir à casa de banho;
• Desconforto causado por roupa apertada;
• Tédio e frustração;
• Necessidade de afecto;
• Mal-entendido relativamente às necessidades e comportamento dos outros;
• Confundir alguém com o seu parceiro.
Apesar da relação e intimidade do casal sofrer alterações quando um dos parceiros apresenta Doença de Alzheimer, é importante preservar os momentos a dois e focar os aspectos positivos da relação. Eis algumas sugestões de actividades que podem ser feitas a dois:
• Ouvir música;
• Rever álbuns de fotografias;
• Conversar sobre o passado;
• Caminhadas;
• Pequenos projectos (como jardinagem e pintura);
• Exercício físico;
• Dança;
• Assistência em cuidados de higiene (manicure, barbear,..).
Capacidade de consentir as relações sexuais
Uma outra questão que se levanta na área da sexualidade é capacidade do doente decidir se quer ou não ter relações sexuais com o seu companheiro ou terceiros. O facto de ter doença de Alzheimer não significa que o indivíduo não tenha capacidade de tomar as suas decisões e de reconhecer as suas consequências. Principalmente na fase inicial da doença a capacidade de decisão é variável, sendo fundamental distinguir quando é que o doente reconhece o parceiro e avaliar a sua capacidade de decisão e de expressão dos seus desejos.
Caso o doente não seja capaz de comunicar a sua decisão, em algumas situações é possível compreender o que este quer transmitir através da linguagem não-verbal. No entanto, é importante estar atento, principalmente a sinais de relutância por parte do doente. Esta temática traz grandes problemas éticos e legais, sendo um assunto bastante delicado que tem que ser tratado com todo o cuidado.