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Dívida rural "bloqueia” dinheiro do plantio

Fernanda Mathias / Campo Grande News - 22 de setembro de 2006 - 13:57

O Banco do Brasil só liberou, até agora, 16% dos R$ 600 milhões reservados para custeio da safra agrícola 2006/06 em Mato Grosso do Sul. O plantio começa no próximo mês. O alto nível de endividamento dos produtores rurais é apontado como o principal responsável pelo baixo volume emprestado.

A obrigatoriedade de contratação de seguro agrícola para liberação do custeio em 28 municípios do Estado, com taxas que vão de 1,5% a 4%, é outro fator que estancou nos últimos dias a procura pelo crédito. Até o momento deram entrada no Banco do Brasil 15 mil pedidos de renegociação das dívidas, o que significa 80% dos 18 mil contratos entre custeio e investimentos, firmados para a safra passada. Desses, 2,8 mil ainda não foram processados e hoje é o prazo final para produtores apresentarem documentações pendentes ao banco.

O gerente de Agronegócios do Banco do Brasil, Loureno Budke, afirma que as dificuldades no campo, que geraram uma série de protestos e medidas do governo federal refletiram no atraso do processamento de dados. Apesar de o pedido de renegociação reduzir os pontos do cliente na análise de risco, devido à conjuntura foi determinada manutenção dos limites em vigor na safra passada.

Ainda assim, o produtor que prorrogou dívida tem margem menor de recursos para tomar na proporção do que foi renegociado. Um produtor, por exemplo, que emprestou R$ 1 milhão na safra passada e renegociou R$ 700 mil só poderia, dentro desta lógica, emprestar R$ 300 mil desta vez.

Para fazer com que os negócios aconteçam o Banco do Brasil tem desenvolvido trabalhos in loco com os produtores, como em Caarapó, onde praticamente 100% do custeio já foram negociados, segundo Budke. Ele acredita que, se por um lado o endividamento é alto, de outro a estabilização do câmbio pode trazer segurança para o setor produtivo. “Já era esperado que o produtor, endividado e com dúvida em relação ao futuro, se retraísse”, diz o gerente.

O presidente do Sindicato Rural de Maracaju, Luís Alberto Moraes Novaes, foi um dos que pediram prorrogação do prazo para pagar sua dívida e espera análise do banco para saber quanto poderá financiar desta vez. Ele afirma que muitos produtores sequer terão margem para contratar o crédito e acabam recorrendo aos financiamentos junto de empresas de insumos, pagando juros bem mais caros, cerca de 20% ao ano, quando o FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) tem taxa de 8,75%.

Eduardo Riedel, integrante da Comissão de Agricultura da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), acredita que a descapitalização do produtor reduza a área com soja em 5% a 10% na próxima safra, além de o nível de investimento em tecnologia que tende a cair mais uma vez.

Na safra passada, problemas de estiagem e preços fizeram com que os produtores investissem menos em defensivos agrícolas. Conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a comercialização de agrotóxicos no primeiro semestre deste ano recuou em 34%.

Riedel alega que o nível apertado de renda do produtor acaba inviabilizando o pagamento da taxa do seguro rural e defende que a obrigatoriedade de contratação seja retirada pelo menos nos municípios onde o valor é maior (4%), como Rio Brilhante, Bonito e Itaquiraí. “Hoje a margem de lucro é muito estreita. O produtor tem custo de R$ 1 mil por hectare, que produz de R$ 40 a 50 sacas”, afirma. A cotação da saca de 60 quilos da soja está entre R$ 21,00 e R$ 22,00.

O produtor Juliano Shmaedcke reclama que nos moldes em que está o seguro agrícola somente beneficia a instituição financeira que o opera. Ele afirma que a cobertura em caso de frustração é muito baixa, de 34 sacos por hectare, quando a média de produtividade é de 40 a 50. Além disso, aponta, a proteção mais necessária está relacionada à variação do câmbio. Ele lamenta o acréscimo de mais 1,5% na conta do financiamento, “em um momento em que a margem de lucro é muito apertada”, alega.

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