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Dilma quer ganhar no tapetão

Dante Filho * - 30 de abril de 2013 - 10:00

Dilma está com medo de perder a próxima eleição. As tentativas da base aliada em mudar as regras do jogo sucessório ao querer proibir que novos partidos políticos tenham acesso ao fundo partidário e tempo de televisão denota, com clareza, o desejo autoritário em manter em desequilíbrio uma disputa, que, na sua essência, começa altamente desequilibrada e deformada.

Já são difíceis as chances da oposição vencer no contexto atual da reeleição. Agora, imagine então se passar todas as medidas pretendidas pelo governo nos últimos dias (tolhendo a estruturação de novos partidos e misturando no cenário a aprovação de algumas PECs contra o judiciário, que enfraquecem os contrapesos necessários para fazer funcionar nossa democracia em formação). Ou seja: não terá pra ninguém. Será melhor nomear a presidente como donatária da Nação.

Analistas e parlamentares tem denunciado o casuísmo da lei que passou na Câmara dos Deputados e foi para o Senado que reduz a capacidade de novos partidos em se colocar em igualdade de condições na disputa do próximo processo eleitoral. Malandramente, argumenta-se a favor da tese de que o quadro partidário brasileiro é uma bagunça e é preciso colocar ordem no mafuá. Correto. Mas é bom que se pergunte: por que exatamente neste momento?, e só depois de o governo perceber que, somando candidaturas das oposições ( com Eduardo Campos do PSB no meio), Dilma correrá o risco de ficar do tamanho de todos os outros, tendo inclusive que se preocupar os Eimaeis e Levys Fidelis da vida, para somar votinhos para chegar ao segundo turno?.

Se o leitor está confuso com essa discussão, vamos enquadrá-lo na metáfora mais acessível ao entendimento. Corre o jogo no gramado entre dois times de várzea. A disputa é decisiva e está complicada. No primeiro tempo, a peleja termina zero a zero. Mas antes de começar a etapa final, meio dúzia de cartolas determina mudanças na regra da partida. Para um dos times não existe mais impedimento, falta ou pênalti. Ele pode fazer o diabo. Qualquer reclamação, fale com o bispo. Assim, não será preciso ser gênio para saber quem tem mais chances de vencer.

Esse é o caso do jogo sucessório. Dilma tem a caneta na mão, recursos infinitos, tempo de TV, com máquina operando a seu favor, mídia espontânea, enfim, todas as condições objetivas, e, mesmo assim, realiza manobras para garantir que o resultado final seja uma certeza e não algo conquistado pela capacidade de convencimento em torno de propostas de Governo.

Tem mais: Dilma tem amplo apoio partidário, centrais sindicais enfileiradas, lideranças políticas como Lula, popularidade consolidada e doadores ávidos para contribuir com a caixinha de campanha.

Diante disso, é de se perguntar o que pode dar errado para a sucessão da presidente? Aparentemente, pouca coisa, talvez o chacoalhar da economia, um escândalo aqui outro ali, uma frase infeliz, coisas pontuais que podem causar mais espuma do que votos.

Claro que num contexto de lançamento de candidatos de peso em nichos regionais estratégicos e personagens com forte apelo de novidade poderá criar um leque de opções que despertem no eleitorado a vontade de votar, em primeiro turno, com o coração, e só depois, numa segunda rodada, com alguma dose de razão. Sempre foi assim.

Dentro disso, fica difícil compreender o atual desespero de Dilma. Ela teme o quê? Ter que entregar o próximo governo ao PMDB? Ser fragilizada pelo desempenho da economia? Sofrer o processo de fadiga de material, visto que será cobrada das promessas não cumpridas da campanha anterior? Tudo é muito estranho. Talvez ela tenha informações de cocheira que nós, os comuns mortais, não temos e que, por isso, ficamos sem condições de analisar com muita clareza o rumo do navio.

Ou ainda: nossa presidente talvez esteja temerosa em imaginar que a partir de agora tenha de fazer tantas concessões ao eixo político que a sustenta que ficará quase impossível governar lá frente. Além disso, há o risco de sua campanha caracterizar-se por tantas garantias de vitória que leve parte do eleitorado ( principalmente da classe média) a imaginar que a construção de sua candidatura está contra os fatos e decida pagar pra ver.

O fato é que a cada eleição os políticos se deparam com novos tipos de eleitores. A realidade brasileira tem um dinamismo surpreendente que a cada processo tende a criar novos imaginários sociais. As máquinas modernas de campanha conseguem renovar suas leituras de contexto e ajustar essas demandas com marketing e formação de imagem. É verdade: elas podem muito, mas não podem tudo.

*jornalista e escritor([email protected])

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