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Demora na liberação de milho preocupa pesquisadores

Sandra Luz / Campo Grande News - 03 de outubro de 2006 - 14:06

Adriano Hany
Adriano Hany

Após a discussão científica e legal da introdução da soja geneticamente modificada na lavoura brasileira, o próximo cereal a ganhar a pauta de discussão de órgãos reguladores e governos dos estados é o milho. A explicação é da pesquisadora da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós/Universidade de São Paulo) Luciana Di Ciero, participante da Organização Não-Governamental CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia). De acordo com a pesquisadora, as pesquisas em torno do milho geneticamente modificado, o milho transgênico, estão avançadas enquanto o País ainda patina na regulamentação de produtos comuns, entre eles a própria soja, que demorou anos para ser aprovada pela Ctnbio (Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia). “Há produtos que estão na pauta desde 1998”, explica.

A pauta da Ctnbio é analisada em reuniões mensais e no mês de setembro, será avaliada a liberação de seis variedades de milho geneticamente modificado, duas de algodão, uma vacina, uma de arroz e uma de soja com valor nutricional agregado. Conforme a pesquisadora, se for desconsiderada a morosidade que o País tem imprimido para a liberação do plantio desses produtos, com ênfase para o milho, situações como a que ocorreu com a soja há alguns anos podem ser evitadas. Como o plantio da soja transgênica não foi liberado, mesmo com pesquisas provando a segurança do produto, agricultores do Rio Grande do Sul iniciaram cultivos clandestinos, introduzindo o grão modificado geneticamente na lavoura brasileira de forma ilegal.

Sem um trabalho efetivo em relação ao milho, que é a segunda cultura de maior destaque no País, a situação tende a repetir-se, considerado que já há lavouras do produto geneticamente modificado na Argentina e Paraguai, ressalta a pesquisadora.

Para o professor José Maria da Silveira, do NEA/Unicamp (Núcleo de Economia Agrícola e Ambiental do Instituto de Economia da Universidade de Campinas), a morosidade para a liberação do plantio de produtos geneticamente modificados, mesmo com o montante de pesquisas sobre o assunto, reflete a resistência ao novo, mas termina por prejudicar até mesmo a economia do País. Como os produtos resultam de estudo para resistência a pragas e situações adversas de clima, a demora em sua liberação inclui em maiores custos de cultivo e demanda aplicações mais significativas no manejo.

O pesquisaror explica que atualmente os produtos geneticamente modificados são plantados em praticamente todos os países que têm a agricultura como ponto economicamente forte, como Estados Unidos, China e Austrália. Até mesmo a América Latina está avançando, mas o mesmo não ocorre no Brasil por excesso de restrições. Hoje, a Ctnbio, por exemplo, conta com integrantes que pouco compreendem da pesquisa genética e que barram a aplicação dos estudos científicos.

O pesquisador defende a introdução de trangênicos como forma de benefício ao meio ambiente, com a redução do uso de herbicidas, larvicidas e, inclusive implementos agrícolas porque a diminuição da aplicação de implementos (máquinas agrícolas) reflete na queda da emissão de gases nocivos à camada de ozônio.

Ainda segundo o pesquisador, que visitou o Campo Grande News juntamente com a pesquisadora Luciana Di Ciero, o uso de materiais geneticamente modificados pode significar um novo rumo para países como a África, onde há significativa crise alimentar.

Na opinião do presidente da Aprossul (Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso do Sul), Carmélio Romano Ross, é importante a difusão de informações sobre o assunto em favor do agronegócio. “Acho importante ver que pesquisadores de universidades conceituadas continuem falando desses aspecto. Hoje, se quisermos ser exportadores, pensando em nível externo, devemos pensar na competitividade”.

Para Ross, a demora na liberação do milho transgênico não deve repetir os problemas causados pela introdução de lavouras de soja pirateada no Brasil dentro das mesmas proporções. O milho é um produto híbrido, e a semente precisa ser renovada a cada lavoura, mas o risco existe. Entre os prejuízos que hoje os produtores de semente enfrentam está a questão do pagamento de royalties às empresas produtoras que, como explica Ross, podem cobrar pela tecnologia em qualquer etapa da produção. O produtor não descarta a existência de lavouras com o uso de milho geneticamente modificado implantadas irregularmente.


Na opinião do produtor, a biotecnologia ajuda no aumento da qualidade dos materiais, reduz custo e impulsiona o agronegócio. Ross também criticou a composição da Ctnbio, explica que a política adotada pelo governo federal tira a competitividade. “São questões ideológicas e políticas dispostas na comissão. Até mesmo na lei da biotecnologia houve restrições tão grandes à pesquisa que praticamente a inviabilizaram”.

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