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Delcídio diz o que pensa para a Folha; leia

Cadú Bortolotto - 04 de julho de 2005 - 06:31

O jornal Folha de São Paulo publica neste domingo entrevista do presidente da CPMI dos Correios, senador Delcídio do Amaral(PT/MS), onde ele afirma que alguns setores do PT erram ao tentar desqualificar o deputado Roberto Jefferson(PTB/RJ), em vez de defender a apuração das denúncias que o deputado tem feito à imprensa e nos depoimentos que prestou no Congresso Nacional.
- A tática da desqualificação não resolve e muitos dos problemas que nós estamos enfrentando foi porque minimizamos determinadas questões que acabaram nos levando a essa situação – disse Delcídio à Folha.

O senador também não concorda com a tese de que existiria uma “conspiração das elites” para derrubar o presidente Lula.

- Muitas coisas aconteceram em cima dos nossos próprios erros. Agora, conspiração de elite? Não entendo isso. Acho esse discurso totalmente "demodé". É sem sentido e não ajuda em nada. Você já imaginou nós, em pleno século 21, começarmos a falar de luta de classes de novo? É demais...

Na entrevista, que mereceu manchete em um dos jornais de maior circulação do país, Delcídio diz que, apesar dos problemas enfrentados agora, o presidente Lula será candidato a reeleição.

- É a maior liderança que nós temos. Basta ver a leitura que a opinião pública faz dele. O presidente Lula percebe claramente o momento que estamos vivendo. Ele tem uma sensibilidade enorme, é bem informado. Não tenho dúvida nenhuma de que vai retomar o controle da situação.



A íntegra da matéria é a seguinte:



É erro desqualificar Jefferson, diz Delcídio

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para se proteger, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), 50, faz o sinal da cruz três vezes antes de presidir as sessões da CPI dos Correios. Não sem motivo. Além dos ataques da oposição, confronta seu partido com críticas francas.
Depois do quente depoimento de Roberto Jefferson (PTB-RJ) na última quinta, quando as denúncias de corrupção se ampliaram, concluiu que é um erro tentar desqualificar o deputado."Não é possível desqualificá-lo. O governo, inclusive, já tomou providências em relação a algumas denúncias feitas por ele. São coisas que o dia-a-dia comprovou", diz Delcídio, que também é o líder do PT no Senado.Filiado desde 2001, o senador não hesita em apontar outros equívocos e problemas do governo, mas poupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diz que é preciso vencer a "catatonia" diante da crise política e ser mais "proativo". Só assim o quadro eleitoral de 2006 não ficaria mais complicado para Lula.
Em retrospecto, outro reconhecimento: o governo deveria ter enfrentado uma CPI em 2004, quando eclodiu o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil gravado negociando propina numa função anterior, em 2002.
Um assumido "quase tucano", com trajetória política apadrinhada por tucanos e pefelistas, Delcídio condena o "revanchismo" contra o governo Fernando Henrique Cardoso e descarta a tese de parte do PT e dos movimentos sociais de que haveria um golpe em curso para atingir Lula.
"Conspiração de elite? Não entendo isso. Acho esse discurso totalmente "demodé". Você já imaginou nós, em pleno século 21, começarmos a falar de luta de classes de novo?", ironiza.
Senador em primeiro mandato, Delcídio diz ser um homem religioso e "comandado pelas mulheres". "Minha mulher [Maika] é brava e minha mãe é mais ainda. Ela fica vendo a CPI pela TV e brigando comigo: "Põe ordem nos trabalhos, corta a palavra daquele lá". E eu digo: "Mãe, não é assim'", diz ele, pai de três filhas.
Além de fazer o sinal da cruz, não deixa de tocar em uma imagem de santo quando vê uma nem de recorrer diariamente à leitura do salmo 91 da Bíblia, que diz: "Caiam mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; tu não serás atingido".

Ele falou à Folha na sexta.



Folha - A CPI dos Correios começou sob desconfiança de ser chapa-branca. Duas semanas depois, o estigma permanece?
Delcídio Amaral - A CPI está caminhando sem obstáculos. A imprensa está acompanhando permanentemente todos os passos. Nessas duas semanas, avançamos muito, não só nas oitivas mas nos requerimentos que foram aprovados. Ao mesmo tempo, apesar do enfrentamento, que é natural no clima de tensão, a CPI está trabalhando normalmente. Tem um debate mais acalorado aqui ou ali, mas avançou.

Folha - Rapidamente a CPI enveredou pelo "mensalão". Vai dar para evitar avançar nessa apuração?
Delcídio - Nos depoimentos, não dá para controlar. Existem requerimentos que tentam atropelar, não têm nenhuma ligação com a denúncia nos Correios, mas os requerimentos que foram aprovados até agora, mesmo os que podem ampliar o leque das apurações, têm ligação com os Correios. Assuntos relacionados com a denúncia do "mensalão" serão tratados na outra CPI [cuja instalação está prevista para a próxima semana]. Será um processo interativo, vamos avaliar o que compete a uma ou a outra.

Folha - É possível circunscrever a CPI aos Correios quando há denúncias contra várias estatais?
Delcídio - Nós estamos com duas semanas de investigações. Por enquanto, aprovamos requerimentos procurando tomar iniciativas ligadas ao fato gerador.
Nossa prioridade agora é apurar as gravações, ver os interesses por trás delas, ouvir os diretores, analisar os contratos, mas é evidente que os fatos é que vão demonstrar a amplitude da investigação e, por isso, as próximas semanas serão de extrema importância.





Folha - O depoimento do deputado Roberto Jefferson não foi um divisor de águas?
Delcídio - O depoimento do Roberto Jefferson foi amplo. A intenção era discutir os Correios, mas entraram outros assuntos, alguns até pertinentes, como financiamento de campanha e um sem-número de questões ligadas à gestão pública.
Em relação a outros assuntos, como denúncias em Furnas e no IRB, temos de analisar e ver o que está no foco da CPI e o que não tem nada a ver.

Folha - A estratégia do PT foi tentar desqualificar Roberto Jefferson. É possível fazer isso diante de tantas evidências?
Delcídio - Não é possível desqualificá-lo. Tenho absoluta certeza de que nem todos na bancada do PT compartilham dessa estratégia. O governo inclusive já tomou providência em relação a algumas denúncias feitas por ele.
São coisas que o dia-a-dia comprovou. É um erro, neste debate, desqualificar o Roberto Jefferson. Temos de investigar se as denúncias são pertinentes ou não.
A tática da desqualificação não resolve e muitos dos problemas que nós estamos enfrentando foi porque minimizamos determinadas questões que acabaram nos levando a essa situação.

Folha - O sr. se refere às denúncias contra o ex-subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz?
Delcídio - O primeiro teste que o governo enfrentou foi o caso Waldomiro Diniz, ao qual poderia ter sido dado outro encaminhamento. Se tivéssemos feito a CPI há um ano e meio, quando o governo ainda era forte politicamente, antes das eleições municipais, muitos dos problemas atuais poderiam ter sido evitados, e o desfecho, diferente.

Folha - O governo não fica desmoralizado pelo fato de as investigações estarem sendo pautadas por Roberto Jefferson? Não deveria tomar a frente nas investigações?
Delcídio - O governo tinha de tomar a dianteira, ser mais proativo. O que está acontecendo é que estamos sempre agindo após os fatos. Essa é a razão de eu defender uma ação mais ostensiva não só na política quanto na área executiva, administrativa.

Folha - O presidente Lula tem a real dimensão da crise?
Delcídio - O presidente Lula percebe claramente o momento que estamos vivendo. Ele tem uma sensibilidade enorme, é bem informado. Não tenho dúvida nenhuma de que vai retomar o controle da situação.

Folha - O sr. acha que Delúbio Soares e Sílvio Pereira deveriam ser afastados da direção do PT?
Delcídio - Na última reunião do diretório, decidiu-se mantê-los. Eu sou obediente, acato as decisões do diretório, sou um homem de partido. Esse é um assunto controvertido na bancada, há opiniões divergentes, mas decidimos acatar a decisão do diretório.

Folha - Jefferson comparou o atual governo ao do ex-presidente Collor. O sr. acha que se vive uma situação política parecida?
Delcídio - São coisas diferentes. O governo, se agir, tem todas as condições de retomar o controle das ações, mas precisa fazer.





Folha - O governo fala em diálogo com a oposição, mas propõe CPIs para investigar o governo anterior. Isso ajuda?
Delcídio - Eu acho que esse campeonato de CPIs é uma perda de tempo, absolutamente inviável do ponto de vista prático, porque não temos nem parlamentares suficientes. Esse enxame de CPIs não vai trazer nenhum benefício para a sociedade.
O cidadão não é bobo. Ele mesmo vê que está havendo uma espécie de esgrima política. Acho que revanchismo não é bom para ninguém.

Folha - Alguns setores dizem que haveria um golpe em curso para derrubar o presidente Lula. O sr. concorda com a tese da conspiração das elites?
Delcídio - Não. Muitas coisas aconteceram em cima dos nossos próprios erros. Agora, conspiração de elite? Não entendo isso. Acho esse discurso totalmente "demodé". É sem sentido e não ajuda em nada. Você já imaginou nós, em pleno século 21, começarmos a falar de luta de classes de novo? É demais...

Como o sr. vê o panorama político deste momento de crise até o período pré-eleitoral?
Delcídio - Eu acho que nós precisamos agir. Nós não podemos ficar nessa catatonia em que estamos envolvidos porque efetivamente o quadro para 2006 vai se complicando cada vez mais.

Folha - O candidato do PT será o presidente Lula ou sua reeleição está inviabilizada?
Delcídio - Inegavelmente será o Lula. É a maior liderança que nós temos. Basta ver a leitura que a opinião pública faz dele.
Agora, é evidente, o momento exige determinação. Precisa de um timoneiro para que as coisas tenham rumo.

Folha - O PT sempre se pautou pela questão da ética. Esse patrimônio está dilapidado?
Delcídio - Não. Nós não podemos generalizar. Os fatos pontuais não podem sinalizar que todo o partido é assim. Não é.
O PT está passando por tudo aquilo que os partidos de esquerda em vários países, especialmente na Europa, passaram. É uma reavaliação de procedimentos, de discurso e de práticas.

Folha - Vai haver baixas?
Delcídio - Acho que sim. Isso deve ocorrer. É do processo. Não é nenhuma curva fora do ponto.

Folha - Mas, diante da opinião pública, o PT terá de mostrar uma nova cara?
Delcídio - O partido entra em 2006 tendo a consciência de que aprendeu muito e evidentemente com uma cara diferente, com a experiência de governo.

Folha - A oposição está superando os governistas na CPI?
Delcídio - Não. A CPI é um palco político. Você tem de ter ciência disso, da biografia de cada um e das vaidades. Você tem de fazer um estudo social e humanístico dos parlamentares para que a CPI possa funcionar. É uma aula de antropologia política.

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