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De sapateiro a médico e destaque mundial com pesquisa

Saulo Moreno/ABr - 09 de setembro de 2004 - 16:51

Brasília - Terceiro dos dez filhos de um tropeiro da região sul da Chapada Diamantina, na Bahia, o médico Antônio Raimundo Lima Cruz Teixeira traz do berço o exemplo de dedicação em busca de conhecimento. Para resumir sua história até a formação em medicina pela Universidade Federal da Bahia, em 1967, ele diz que “comeu uma fazenda em troca de educação”. A frase é a explicação para a decisão do pai, que havia comprado terras quando a família começou a crescer, e depois vendeu-as para pagar os estudos dos filhos, todos formados, seis deles professores de nível superior, quatro PHDs.

É com orgulho que o cientista Antônio Teixeira revela a origem humilde do interior baiano. No processo de transferência, disse que o primeiro passo dos país foi partir da Serra das Maracas e levar os filhos para Jaguaquara, cidade na região de Jequié, onde estudou em um colégio Adventista, “caro”, lembra. Para o sustento da família, o pai montou uma espécie de fábrica e oficina, onde produzia arreios e sapatos. “Tenho as mão marcadas, cortadas. Fui sapateiro”, revela com orgulho.

À medida em que cresciam, os filhos iam para a capital do estado, Salvador, em busca de ensino superior e trabalho. Com o esforço inicial dos três mais velhos, aos poucos toda família foi transferida e todos se formaram. Entre os irmãos do pesquisador Antônio Teixeira, existem mais um médico, um economista, um físico, um sociólogo, um matemático, um biólogo, um assistente social e um administrador de empresas.

Hoje, cientistas do mundo inteiro passaram a ter um novo entendimento sobre diversas doenças ainda sem cura a partir do resultado de pesquisas realizadas por cientistas da Universidade de Brasília. O grupo do Laboratório Multidisciplinar de Pesquisa em Doença de Chagas, coordenado pelo professor Antônio Teixeira, descobriu que o genoma humano, ou seja o conjunto de informações transmitido dos pais para os filhos e que determina nossas características é modificado a partir da infecção pela picada do barbeiro, o inseto transmissor do mal. O trabalho foi publicado pela revista norte-americana Cell, a mais respeitada publicação científica internacional na área de biomedicina.

Há pelo menos 30 anos, Teixeira trabalha com grupos de cientistas em busca de explicações e até de uma possível cura para essa doença, que mata mais que a Aids no Brasil. Com os recentes resultados, o professor Teixeira já imagina a possibilidade de produção de uma vacina, a ser criada a partir de substâncias descobertas na saliva do barbeiro. O medicamento seria exclusividade brasileira.

“O Brasil precisa investir em conhecimento para ter o que registrar. Como se pode falar em patentes sem ter o que patentear?”, reclama o cientista, do alto do respeito que tem no mundo científico, como autor de diversos trabalhos publicados em publicações estrangeiras. O Journal of Biological Chaemistry, por exemplo, revelou para o mundo que o trabalho do cientista brasileiro abre caminho para o entendimento de doenças como tuberculose, lepra, clamídia, arteriosclerose e outros males auto-imunes de causas desconhecidas, como a própria Aids.

Nas pesquisas que desenvolveu, hoje de destaque internacional, Teixeira descobriu que as glândulas salivares do barbeiro produzem substâncias farmacológicas como vasodilatadores, anti-coagulantes, anti-agregador de plaquetas – que previne a trombose – e antibióticos. Nos últimos 6 anos, o laboratório da UnB chegou a produzir em pequena quantidade várias dessas substâncias, identificadas por meio da tecnologia do DNA recombinante, que produz o gene artificialmente. Agora, o cientista aguarda condições para produção em alta escala, quando então poderá fazer os testes toxicológicos e determinar o potencial biotecnológico de mercado.

Em defesa do desenvolvimento de pesquisas, o professor prega a liberação urgente de recursos para o que considera uma exigência da situação. Segundo ele, “na última década, o financiamento à pesquisa foi feito muitas vezes com base em critérios políticos, sem que se julgasse de fato o mérito da questão. O que nós queremos é que o mérito seja colocado em primeiro lugar para que haja uma busca de recursos baseada naquilo que uma equipe já fez, ou está fazendo, e que por isso merece os recursos necessário para progredir”.

Ao longo do tempo em que esteve envolvido com as pesquisas sobre a Doença de Chagas, o professor Antônio Teixeira considera que o grupo coordenado por ele conseguiu criar uma infra-estrutura na universidade que é tida como de boa qualidade. “Mas, quando se compara isso com as possibilidades de acesso às novas tecnologias, vê-se que fica difícil entrar numa corrida do tipo globalização da ciência. O que nós precisamos na verdade é dos instrumentos para que continuemos a avançar, que hoje nos falta”, afirma. Ele lembra que pelo seu grupo de pesquisas já passaram muitos cientistas capacitados, mas que não puderam continuar os trabalhos por falta de recursos

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