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Curso sobre a História da Educação - Módulo IV

Nelson Valente - 01 de junho de 2009 - 06:58

Módulo IV

O NEO-HUMANISMO PEDAGÓGICO

(*) Nelson Valente

A educação renascentista

O Renascimento atinge sua plenitude no século XVI, é a terceira grande fase da evolução histórica da educação – o naturalismo pedagógico – que se inicia nessa época e que passa a dominar o pensamento educacional até nossos dias.
O naturalismo pedagógico se caracteriza pelo fato de o homem e o universo serem considerados como as únicas realidades existentes e os valores efêmeros e acidentais passarem a preponderar sobre os valores eternos e substanciais da vida.
Os caracteres fundamentais da pedagogia renascentista são:
Caráter crítico e polêmico, de reação violenta e agressiva contra a educação escolástica;
Caráter naturalista e humanista, pela negação explícita e implícita, dos valores transcendentes e pela consideração do homem como um fim em si mesmo desligado de quaisquer laços com a vida espiritual e eterna;
Caráter individualista e liberal, pela preocupação de educar o indivíduo, não para a sociedade, mas para si próprio, liberto de qualquer disciplina espiritual, de qualquer limitação extra-temporal;
Caráter aristocrático e particularista, por visar à formação do educando para uma certa elite social. A formação do indivíduo humano só se revestia de interesse e importância quando esse indivíduo tinha um valor social reconhecido, quando ele pertencia a um certo meio social, por outro lado, o aristocratismo se explica pelo caráter acentuadamente filosófico da educação -–para realizar até certo ponto o ideal humanista, tornava-se necessário fazer parte de uma sociedade intelectualmente aristocrática; os mestres queriam formar discípulos à sua imagem;
Caráter intelectualista e formalista, por fazer dos estudos clássicos, isto é, da cultura intelectual o objetivo básico de toda a atividade pedagógica; ao lado disso, o culto excessivo da forma em detrimento do fundo das idéias; reagindo contra o formalismo dialético da escolástica decadente, a educação renascentista caiu, ao formalismo retórico ou ciceronismo.

Entre as realizações práticas da educação renascentista, cumpre citar, além da renovação do ensino superior, assinalada com a fundação do Colégio de França, a criação de grande número de escolas e bibliotecas e o desenvolvimento acentuado dos estudos das humanidades (línguas e literaturas clássicas), estendendo-se por essa denominação os estudos que formam, que humanizam, isto é, que desenvolvem os caracteres essenciais e específicos do homem.

A educação reformista

Com a reforma luterana, ocorrida durante a primeira metade do século XVI, rompe-se a unidade da cultura cristã no terreno religioso e moral. A Reforma veio reforçar e completar a obra da revolução renascentista. A Reforma não foi um reflexo de qualquer transformação social ou econômica, mas um movimento de origem puramente espiritual, fruto da iniciativa livre do pensamento religioso, do qual surgiram conseqüências sociais, econômicas e política.
As conseqüências educacionais da Reforma foram não só diretas como indiretas. Diretamente, a reforma secularizou a administração escolar e subordinou a educação ao controle do Estado; deu um sentido religioso à educação humanista então dominante, desenvolvendo ainda mais as tendências individualistas e formalistas da educação do Renascimento. Não é verdade que a Reforma tenha criado a educação primária popular, que tenha elevado o nível cultural da sociedade ou que tenha aumentado o número das escolas elementares então existentes. Essas afirmativas não têm fundamento na realidade histórica. Indiretamente, a Reforma influiu sobre a educação provocando a Contra-Reforma pedagógica, a renovação do ensino católico e a fundação de ordens religiosas destinadas a fins educacionais. Não foram numerosos o primeiros educadores reformistas.


A educação contra-reformista

A irradiação da Reforma e a situação de crescente indisciplina religiosa ameaçando, cada vez mais, a unidade do Cristianismo, já profundamente mutilada pela revolução luterana, obrigaram a Igreja a assumir uma atitude enérgica em face dos acontecimentos, no sentido de restaurar a disciplina espiritual.
O Concílio de Trento (1545), reunido na cidade de Trento, convocado pelo Papa Paulo III, desempenhou um papel de relevante importância na obra da Contra-Reforma. O Concílio corrigiu os abusos, restabelecendo a disciplina eclesiástica em sua primitiva austeridade. Foi a Companhia de Jesus que representou o papel de maior relevo na realização dos objetivos educacionais da Contra-Reforma, fundada em 1534 por Santo Inácio de Loyola, sendo que esta ordem dedicou especial atenção à educação da juventude. A reforma luterana fizera da educação a sua principal arma de combate, de modo que os jesuítas para lutarem contra as forças intelectuais protestantes tiveram de dedicar-se ao ensino e assenhorear-se da cultura humanista que imperava em todas as escolas e universidades.
Dois objetivos educacionais passaram a ser colimados pela Companhia de Jesus: a formação dos membros da Ordem e a educação da juventude em geral. Esses objetivos eram realizados através de uma sólida preparação religiosa e da mais completa educação secular da época. Assim, procuravam formar o cristão perfeito e integral e o homem do seu meio e do seu tempo.
Os colégios dos jesuítas se dividiam em colégios inferiores e colégios superiores, os primeiros correspondendo aos ginásios e os últimos às universidades e seminários teológicos. Ocupavam-se de preferência com a educação secundária, mas não desprezavam a educação primária. Em todos os seus colégios foram instaladas escolas elementares.
O plano de estudos, os métodos de ensino e o espírito que deve animar o trabalho dos mestres se encontravam compendiados na Ratio Studiorum que representava o código de educação dos jesuítas. O Ratio Studiorum dividia o ensino em três grupos de matérias: as letras humanas, a filosofia e a teologia. As letras abrangiam o estudo das línguas e das literaturas grega e latina, compreendendo a gramática, as humanidades e a retórica. A filosofia abrangia o estudo da filosofia de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, da matemática e das ciências. A teologia era estudada pelos membros da Ordem e pelos alunos dos seminários e das universidades. O ideal educativo era conciliar a cultura clássica com a doutrina cristã, fornecendo aos alunos uma preparação humanista sólida e profunda.
Os jesuítas, em sua educação, davam importância à eloquência, não no sentido do cultivo do formalismo verbal mas a eloquência representava a arte de exprimir, com elegância e correção, o que era bem aprendido e bem pensado. Para isso era exigido o conhecimento amplo e perfeito da língua latina. Os alunos deviam falar e escrever corretamente em latim que na época era a língua de uso universal.
Os processos didáticos empregados pelos jesuítas na educação intelectual eram os mais eficientes e variados. Eram: a preleção, a concertação ou discussão, a revisão, os exercícios escritos e a imitação.
O sistema pedagógico da Companhia de Jesus teve por lema a máxima “Non multa, sed multun”, na esclarecida convicção de que os alunos habituados a pensar com exatidão e a exprimir-se com clareza estariam em condições de dedicar-se aos estudos superiores. Os jesuítas sempre combateram, não só o enciclopedismo pedagógico como a especialização prematura que constituem as grandes falhas da maioria dos sistemas educacionais modernos.

A educação Jansenista

Os jansenistas constituíram uma seita religiosa organizada em torno das idéias de Cornélio Jansênio, bispo de Ypres e autor do livro “Augustinus” onde são expostas doutrinas sobre a liberdade humana e a graça divina contrárias à ortodoxia católica.
Os jansenistas se tornaram rivais dos jesuítas não só no terreno religioso, mas também no terreno pedagógico e político. E foi o ambiente hostil criado pelos mesmos contra a Companhia de Jesus um dos fatores que determinaram a expulsão dos jesuítas da França e finalmente a sua extinção pelo Papa Clemente XIV. A pedagogia dos “solitários” constituiu uma reação contra a pedagogia dos jesuítas, não só pelo seu cunho realista, como pela sua feição sombria e pessimista, em contraste com o humanismo cristão e o otimismo sadio e universalista do sistema educativo da Companhia de Jesus.
Os jansenistas admitiram a maldade ingênita da natureza humana. Para eles a criança é essencialmente má, porém, como recebeu o batismo, habituar-se-á à prática do bem se for educada, por métodos rígidos e severos. O dever do mestre é vigiar os alunos e impedir a expansão dos seus impulsos naturais.
O ideal da pedagogia jansenista é o aniquilamento da personalidade do educando. O mestre deve pensar e agir pelo educando.
Apesar do seu pessimismo radical e mutilador, os jansenistas souberam despertar o interesse geral pelo problema da educação e reagiram contra o formalismo pedagógico da sua época, procurando ensinar à criança somente o que poderia pela mesma, ser compreendido.
Os jansenistas empregaram o método fonético no ensino da leitura e utilizaram processos didáticos na educação da infância tornando-se precursores da pedagogia intuitiva. É elogiável sua preocupação de promover a formação moral e espiritual das novas gerações, realizando uma união fecunda e harmoniosa da instrução com a educação.

(*) é professor universitário, jornalista e escritor







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