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Crônica: Uma Nômade

Cidinha Marsal - 19 de agosto de 2012 - 07:29

Uma Nômade
Somos todos nômades, ou estrangeiros de NÓS mesmos. Nossas seguranças foram se perdendo ao longo do caminho e junto de nossas incertezas sobre nossa condição tão humanamente moderna seguimos em exílio, não, ou de vez em quando, pertencendo. Nem sequer o que é caminho assume um contorno preciso, por vezes é deserto, noutras é confusão. Solidão e medo são companheiros da viagem. E se as palavras, as nômades, pudessem ser nomeadas o nome delas seria “nostalgia”. Nostalgia é o modo de ser nômade pela palavra.
Adivinho as coisas que não tem nome e que talvez nunca terão. É. Eu sinto o que me será sempre inacessível. É. Mas eu sei tudo. Tudo o que sei sem propriamente saber não tem sinônimo no mundo da fala mas enriquece e me justifica. Embora a palavra eu a perdi porque tentei falá-la. E saber tudo-sem-saber é um perpétuo esquecimento que vem e vai como as ondas do mar que avançam e recuam na areia da praia. Civilizar minha vida é expulsar-me de mim. Civilizar minha existência a mais profunda seria tentar expulsar a minha natureza e a supernatureza. Tudo isso, no entanto não fala do meu possível significado
Estranho-me como se uma câmera e cinema estivesse filmando meus passos e parasse de súbito, deixando-me imóvel no meio de um gesto: presa em flagrante. Eu? Eu sou aquela que sou eu? Mas isto é um doido faltar de sentido! Parte de mim é mecânica e automática - é neurovegetativa, é o equilíbrio entre o não querer e o querer, do não poder e de poder, tudo isso deslizando em plena rotina do mecanicismo. A câmera fotográfica singularizou o instante. E eis que automaticamente saí de mim para me captar tonta de meu enigma, diante de mim, que é insólito e estarrecedor por ser extremamente verdadeiro, profundamente vida nua amalgamada na minha identidade. E esse encontro da vida com a minha identidade forma um minúsculo diamante inquebrantável e radioso indivisível, um único átomo e eu toda sinto o corpo dormente como quando se fica muito tempo na mesma posição e a perna de repente fica “esquecida”.
É. Mas parece que chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão morrer. Tenho que começar por aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada vez que eu caio, pois cada vez quando eu caio a raça humana em mim também cai. Aceitar-me plenamente? É uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a minha palavra tem um coração onde circula sangue .
Há, portanto um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feitas com a confiança com quem se entregariam duas compreensões.

Cidinha marsal.
Psicóloga- re-significando a vida

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