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Corte de programas sociais ainda prejudica famílias

Sandra Luz - Campo Grande News - 09 de junho de 2007 - 08:49

“Sabe: Deus olha por nós. Ele cuida até dos passarinhos e porque não cuidaria da gente?”. É à insistente crença que a costureira Maria Conceição Pereira Silva Nascimento, 50 anos, atribui o fato de continuar agüentando a vida de privações. Com um rosário de problemas de saúde, Maria afirma que não espera mais pelo pagamento de um benefício que há seis meses garantia em casa o que considera um luxo, leite. “Ah, antes até tinha na minha geladeira, hoje vazia né”.

Da máquina de costura Maria tira o sustento para cuidar do marido que tem problemas mentais, dos filhos desempregados e netos ainda crianças. Ela conta que já foi orientada por médicos a deixar a profissão por conta das complicações na coluna, mas pensa que cairia na rotina das outras três Marias vizinhas, que precisam recorrer a um lixão para sobreviver. “Ah, os R$ 130 que eu recebia dava para ajudar os meninos, que estão parados, agora dizem que até o lixão vão fechar”, teme a doméstica Maria Deusa leite Vieira, 46 anos. Ela serefere ao lixão do bairro Nova Lima.

Com um salário mínimo (R$ 380) ela sustenta os cinco filhos, todos menores de 18 anos, e nos fins de semana faz bicos de faxina para complementar o orçamento. Sem voz devido à uma gripe que já dura um mês, Maria Deusa queria ver os filhos longe do lixão, trabalhando, ou fazendo cursos. “Eu até entendo que não de mais o dinheiro da bolsa, mas queria que desse oportunidade para os meninos trabalharem, não no buracão”. Enquanto a mãe fica em uma casa de família, os garotos lavam, passam e deixam a casa impecável, para evitar que a jornada dupla dela seja ainda mais exaustiva. Os mais velhos separam material reciclável para complementar o orçamento.

A outra Maria, essa Cleonice Marques Silva, 47 anos, não pode mais contar com o auxílio dos filhos, todos crescidos. Cardíaca, ela se revla mais preocupada com o marido, Joaquim Silva, 55 anos, que sofreu um derrame e está encostado em uma rede. Ele toma remédios, mas a força para o trabalho já foi e os programas sociais contribuíam muito para a alimentação do casal.

Cleonice, por exemplo, ainda não sabe de qual doença sofre e não tem idéia de como recuperar o peso, estacionado em 33 quilos. “Até acho importante receber o programa, mas meu caçula fez 18, e não tenho mais direito”, resume, sem deixar de lembrar de outros que, segundo ela, precisam mais.

O pequeno Pedro, 4 anos, é quem mais precisa, na avaliação de Cleonice. Morando em uma casa com outras seis pessoas, o menino pouco entende que a geladeira vazia, assim como a despensa, dificilmente serão abastecidas porque o avô Aparecido Pereira, 55 anos, só tem o lixão do fundo de casa como renda. Pereira criou os filhos e agora cuida dos netos, que gostaria de ajudar mais. “Ah, a gente cata isso ai, vive assim agora. Antes dava para mais coisas. Agora é assim só”.

As famílias que vivem atrás do lixão do Nova Lima em Campo Grande são uma parcela das 80 mil que recebiam o Bolsa Escola, de R$ 136, e o Segurança Alimentar (R$ 100). O repasse foi interrompido por determinação do governador André Puccinelli (PMDB) no início do ano para recadastramento. A assessoria de imprensa do governo do Estado informou que o cadastro não foi terminado e falta o cruzamento de informações com o Banco do Brasil. Puccinelli já anunciou que os repasses serão retomados somente em janeiro de 2008. Ele cobra ajuda do governo federal para as ações sociais.

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