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Consumo de fitoterápicos exige cuidados

Agência Brasil - 12 de janeiro de 2004 - 13:45

Quem nunca tomou algum chá para aliviar a dor de estômago ou combater o resfriado? Pelo menos 80% da população mundial recorre às plantas medicinais, segundo uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema é que a maioria dos consumidores desconhece a falta de controle de qualidade desses produtos, principalmente quando comercializados nas feiras livres ou em estabelecimentos sem credenciamento. Uma análise microbiológica realizada em cinco espécies diferentes de fitoterápicos aponta 84% de contaminação por fungos e bactérias. Foram analisados chás e cápsulas recolhidas em uma barraca de rua, em três farmácias de manipulação e num grande distribuidor localizado na cidade de São Paulo.

O estudo - realizado entre agosto de 2000 e julho de 2001 - avaliou 50 amostras de sene, boldo, espinheira santa, cáscara sagrada e alcachofra, que são usadas com fins terapêuticos. As plantas vendidas por ambulantes, geralmente em condições precárias, registraram as maiores quantidades de microorganismos nocivos à saúde. “Esse produtos são armazenados em sacos plásticos abertos e ficam expostos, todos os dias, à poluição, ao calor e à umidade do ar”, explica Fabiane Camargo Gomes Nunes, autora do trabalho apresentado como dissertação de mestrado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Fabiane alerta que lavar e ferver as plantas não diminui os riscos que as espécies de fungos podem trazer à saúde. Apesar dos microorganismos não resistirem a altas temperaturas, sua toxicidade permanece nas folhas. “Dependendo da freqüência da ingestão, as toxinas podem causar desde simples transtornos gastrointestinais até danos mais graves ao organismo, como o câncer de fígado”, diz.

Outro dado importante revelado pelo estudo é quanto ao controle de qualidade que é questionável até mesmo em estabelecimentos fixos, com autorização de funcionamento emitida pela Vigilância Santiária. O número de fungos nos fitoterápicos das três farmácias de manipulação avaliadas variou entre 15 e 25 espécies diferentes, contra as 30 encontradas nas ervas adquiridas na rua. O índice de contaminação chegou a 77% nas amostras in natura avaliadas na distribuidora de produtos incluída na pesquisa.

A maioria dos 106 fungos identificados no estudo são prejudiciais à saúde. É o caso dos gêneros Aspergillus e Penicillium, que provocam alergia respiratória. Eles representam, respectivamente, 60,5% e 20% dos microorganismos encontrados nas ervas medicinais.

Individualmente, a maior incidência encontrada foi a da espécie Aspergillus flavus, que registrou 22% entre todos os microorganismos. A contaminação com esse fungo pode produzir elevadas concentrações de aflatoxinas - toxinas ligadas à diminuição da resistência a infecções, transtornos gastrointestinais e câncer hepático.

“É preciso adotar medidas mais efetivas de fiscalização, pois o consumidor parte do princípio de que o produto vendido em farmácias de manipulação é seguro”, afirma a professora do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Unifesp Olga Fischman Gompertz, que orientou a pesquisa.

As amostras que receberam melhor avaliação foram as dos produtos esterilizados, recolhidas na distribuidora: 23% delas tinham contaminação. Porém, a quantidade de microorganismos encontrados estava dentro dos limites permitidos por lei. A responsabilidade sobre a qualidade do produto é compartilhada entre fornecedores, distribuidores e farmácias, argumenta a diretora do Grupo Técnico de Medicamentos do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, farmacêutica Emiko Fukuda. Segundo ela, boas condições de armazenagem são imprescindíveis para que não ocorra a proliferação de microorganismos nesses produtos.

Emiko aconselha as pessoas a não comprar fitoterápicos de vendedores ambulantes, pois não há fiscalização sobre a atividade deles. “Com a comprovação médica da intoxicação, o consumidor deve procurar a Vigilância Sanitária para que possamos verificar os indícios de venda de produtos em condições impróprias para consumo e punir os responsáveis”, afirma. (JUnifesp)

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