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Comunicadores de Ciência no o 4º Congresso Internacional

Agência Notisa - 16 de abril de 2005 - 06:53

A importância da inclusão de aulas práticas na educação primária esteve entre os principais temas abordados.

A Terceira Conferência Internacional para Comunicadores de Ciência aconteceu em paralelo ao 4º Congresso Internacional de Centros de Ciência, no Riocentro. O seminário “O Papel dos Comunicadores de Ciência no Desenvolvimento da Educação de Ciência” reuniu profissionais da área no último dia do evento, quinta-feira, no Riocentro.

O físico brasileiro Ernest Wolfgang Hamburger, professor de física experimental da Universidade de São Paulo abriu o seminário relatando sua experiência como professor universitário e comunicador de ciência. Para ele, o comunicador tem como papel principal aumentar a participação do público e divertir aqueles que o assistem, mas o professor também pode usar técnicas semelhantes. A diferença é que o professor precisa se aprofundar no assunto para transmitir todo seu conhecimento aos alunos. O professor citou Jean Piaget que diz que “é preciso sacudir e confundir para, então, chegar à compreensão” como a base para transformar o ensino de ciência em algo agradável e acessível para alunos de diferentes idades . “Chacrinha foi o maior comunicador da televisão brasileira. Seu famoso jargão ‘eu não vim para explicar, eu vim para confundir’, mostra que ele estava ali para mexer com os telespectadores. Professores ou comunicadores de ciência precisam aguçar o interesse de seus ouvintes, para que eles tenham vontade buscar o conhecimento”, disse Ernest.

O físico ressaltou a importância da inclusão de matérias práticas nas escolas. “A maioria dos professores aprendeu a ensinar de forma teórica, estimulando os alunos a usarem a famosa ‘decoreba’ ´pos também não passaram por experiências e observações práticas enquanto alunos. Desta forma, não estimulam o pensamento criativo dos alunos e estes não se interessam por assuntos que são, aparentemente, frios. Muitos não buscam alternativas para entreter a turmas pela dificuldade de manter a ordem na turma. Mas o resultado vale o esforço”, relatou Ernest. Por outro lado, a concentração dos centros de ciência especificamente em museus e escolas ainda deixa a população adulta não universitária fora do foco de atenção. Segundo Ernest, aproximadamente 2 milhões de pessoas visitam estes locais ao ano. Mas para ele, o número é ainda inexpressivo para que os efeitos na população sejam visíveis. “A esperança é que aumente a freqüencia e os efeitos se propagem”, disse o professor. “Para que a ciência deixe de ser algo restrito a uma pequena parcela da população devemos atacar as frentes, priorizando a capacitação de professores, principalmente de primeiro grau. Existem muitos projetos na área, mas os esforços ainda não articulados.”, concluiu.

O escritor indiano Lockman Londhe possui nove livros de ficção científica publicados e analisou o papel do professor e do comunicador de ciência no ensino formal e informal. Segundo ele, o professor de disciplinas biomédicas fala para um público homogêneo. É uma platéia de ouvintes que escolheu estudar ciência por conta própria. Já o comunicador fala para setores mais amplos da socidade – e que, muitas vezes, não estão receptivos, seja por medo, preconceito ou falta de interesse – e tem como objetivo tornar cidadãos mais informados acerca dos diversos assuntos abordados pela ciência. Lockman também abordou as diferenças entre os cientistas e os profissionais de comunicação. “O cientista inventa e produz conhecimento, enquanto o comunicador divulga, dissemina e disponibiliza as informações científicas de maneira a torná-la compreensível ao grande público. Sem o cientista, a ciência permaneceria estagnada e sem o comunicador, a sociedade continuaria ignorante e sem atitude científica”, disse. De acordo com ele, “a ciência praticada por poucos profissionais afetará a vida de muitas pessoas e o público tem direito de saber o que acontece atrás das portas fechadas dos laboratórios”.

Segundo o escritor, o segredo para atrair um leitor é escrever de forma que eles se convença de que seu bem-estar está em jogo. “Assim ele percebe que não conhecer os fatos é uma desvantagem para sua vida”, afirmouo. Sua experiência na Índia, indica que praticamente qualquer tópico científico pode ser escrito de forma interessante. “A atual Era da Ciência perpassa todos os aspectos das nossas vidas. Nós, comunicadores e professores somos como missionários e devemos disseminar o conhecimento científico pelo mundo. Desta forma a existência humana será mais feliz e significativa”, concluiu.

O físico Naik-Satan Suhas é responsável pelo Planetário de Nehru em Mumbai, na Índia. Nos últimos oitenta anos, os planetários adquiriram um importante papel no ensino de astronomia. O céu estrelado – reproduzido com bastante realismo por projetores – atrai a atenção de crianças e adultos e é capaz de explicar conceitos complexos de forma simples e prazerosa. “O planetário é capaz de romper a barreira entre arte e ciência, pois são necessários profissionais de áreas diversas como músicos e fotógrafos para reproduzir imagens fiéis e torná-las emocionantes. Mas sua utilidade não se limita ao estudo da astronomia. Com o advento de modernos projetores, praticamente qualquer assunto pode ser ensinado neste ambiente, principalmente matérias como história e geografia, acredito que todos”, disse Naik-Satam. Outro indicano, A. P. Deshpande, é secretário honorário da organização Marathi Parisha e já escreveu mais de 500 artigos e 25 livros sobre divulgação científica. Seu trabalho é voltado principalmente para o público infantil. A organização que ele coordena tem como objetivo tornar o ensino de ciência de forma prazerosa. Para ele, “toda cozinha pode se tornar um laboratório”. Entre diversos exemplos de como as aulas práticas podem aguçar a curiosidade das crianças, o que ele considera mais expressivo como resultado é o caso de um menino que havia aprendido em aulas práticas de física que volume e pressão são constantes, quando um aumenta o outro diminui. A criança chegou em casa e disse ao pai (que estava bastante fora de forma e com problemas de hipertensão arterial): — me ensinaram que quando um volume aumenta, a pressão diminui. Deve haver algo errado com você ou com as aulas de física, já que quanto maior você fica, sua pressão também aumenta.” Segundo o Deshpande, só é possível obter estes resultados porque os pais também são convidados para as feiras de ciência das escolas locais. Assim, trocam experiências com os professores e podem até mesmo comprar brinquedos científicos produzidos por seus filhos. “É preciso criar uma ponte entre a casa da criança e a escola. A educação teórica não tem conexão com a vida. Qualquer assunto pode ser explicado de maneira divertida e, assim, atrair a atenção inclusive de alunos extremamente desatentos”, concluiu Deshpande.
Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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