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Cérebro só amadurece depois dos 20 anos, diz pesquisa

Agência Notisa - 07 de novembro de 2005 - 06:02

Pesquisa norte-americana revela que somente após os vinte anos acontece o amadurecimento da área do cérebro responsável por esta função. Isto explicaria o forte impacto das drogas entre os jovens.

Drogas, lícitas ou não, interferem em todas as etapas de desenvolvimento do homem. Os neurotransmissores naturais do cérebro interagem com aquelas substâncias provocando danos ao organismo e ao ambiente social em que vive o usuário. Estas e outras questões foram ditas pela psiquiatra Ana Cecília Petta Roseli Marques, professora do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, durante o 5º Simpósio Internacional sobre Álcool e outras drogas. O evento está sendo realizado no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, no Rio de Janeiro, e vai até dia 9 de novembro.

Cérebro
Estudos recentes sobre o desenvolvimento do cérebro realizados por pesquisadores da Universidade da Califórnia apontam peculiaridades que podem explicar o fato de os jovens apresentarem menor resistência ao apelo das drogas. “O córtex pré-frontal, área do cérebro responsável pela capacidade de tomar decisões, começa a amadurecer somente após os vinte anos de idade. Portanto, antes dessa idade, o jovem não apresenta total capacidade para decidir o que é melhor para si, inclusive em relação às drogas. Precisamos rever conceitos, antes defendidos, como empurrar um jovem de 18 anos para fora da casa dos pais”, disse a especialista em palestra.

Consumo entre jovens
De acordo com dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) coletados em 2004, os jovens brasileiros começam a fumar tabaco mais ou menos aos 13 anos. O consumo de maconha e cocaína tem início, em média, a partir dos 14 anos. Com 12 anos, muitas crianças já consomem álcool no Brasil. Ana Cecília afirmou que “podemos perceber que a droga lícita é consumida em primeiro lugar. Isto nos dá um parâmetro para projetar políticas eficazes de prevenção” O CEBRID também analisou o comportamento dos jovens usuários de drogas com relação à freqüência escolar. Usuários de drogas estão entre aqueles que mais faltam às aulas. Entre os entrevistados que costumam consumir a droga mais de 100 vezes ao ano, 81,8% abandonou a escola. Entre aqueles que nunca usaram drogas, a taxa de evasão escolar é de 14,1%. O acesso à universidade também passa a ser comprometido. No estudo apenas 11,8% dos usuários que consomem a droga mais de 100 vezes ao ano chegam ao curso superior. Entre aqueles que nunca experimentaram as substâncias a taxa é de 39%. A escola é encarada como um fator de proteção, diminuindo as chances de o jovem se envolver com drogas. Os resultados também indicaram que os usuários de maconha apresentam 2,5 vezes mais chances de ter ideação suicida e 2,9 de efetivamente tentar o suicídio, principalmente entre meninas”, disse Ana Cecília. O chamado uso de baixo risco, com um consumo menor das substâncias, também pode trazer graves conseqüências ao usuário e aqueles que convivem em seu meio. “Indivíduos com uma morbidade psiquiátrica podem apresentar um episódio com o uso da droga”, afirma a psiquiatra.



Diferenças
O mesmo estudo também demonstrou que existem diferenças com relação ao sexo. As drogas mais consumidas por jovens mulheres são os ansiolíticos (calmantes) e as anfetaminas (estimulantes e moderadores de apetite, por exemplo). Para entender, é preciso conhecer o contexto em que elas estão inseridas. “O aumento do número de casos de AIDS, a gravidez precoce e o medo da violência levou muitas meninas para as drogas, e não o contrário”, disse a professora. Entre os homens há maior consumo de maconha, cocaína, energéticos e esteróides anabolizantes. E, de acordo com a pesquisadora, as conseqüências do consumo das drogas vão além dos danos cerebrais. “Como um jovem intoxicado decide e executa a ação de colocar o preservativo para, então, manter relações sexuais? Ele simplesmente não irá usá-lo. Assim, aumentam os risco de transmissão de doenças e gravidez precoce”, disse.

Meninos de Rua
Estudo realizado pelo pesquisador Kaminer em 2004 indicou que 89% dos usuários de drogas têm outro transtorno psiquiátrico, sendo a depressão o mais prevalente. Outro estudo citado pela pesquisadora indica que a redução no consumo de maconha, entre usuários poderia reduzir a incidência de esquizofrenia em até 8%. A maconha é a droga mais consumida no mundo. De acordo com o estudo do CEBRID, 60% dos meninos de rua consomem maconha. A pesquisadora esclarece a alta taxa de consumo da droga nessa população. “Estas crianças e adolescentes consomem substâncias entorpecentes com o objetivo de se automedicar, matar a fome e tirar o sono, já que precisam ficar alerta aos perigos da cidade. As drogas mais consumidas por eles são solventes e a maconha”, explicou. Relatório elaborado pela ONU aponta o Brasil como um país promissor no que diz respeito ao aumento do consumo de anfetaminas. O consumo de ecstasy, por exemplo, vem crescendo a cada ano.

Drogas e profissão

Estudo realizado na USP mostrou o impacto na profissão dos usuários de drogas. Estes faltam duas vezes mais ao trabalho. Entre os 2% dos entrevistados que afirmaram consumir drogas, a maconha foi relatada com maior freqüência. Cerca de 60% consomem a substância regularmente. Já cocaína é ingerida por 18% dos usuários. Segundo a psiquiatra, “além de comprometer a própria saúde, estes profissionais também são responsáveis por acidentes no ambiente de trabalho”. O custo final do consumo de drogas, nos Estados Unidos, chega a 150 bilhões ao ano. De acordo com Ana Cecília, ainda não existe um estudo que avalie este impacto no Brasil. “Mas é preciso começar a pesquisar a origem dos problemas e buscar soluções. Só assim é possível modificar as estatísticas atuais”, alertou pesquisadora.



Agência Notisa (jornalismo científico – science journalism)

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