Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Sexta, 19 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Cassilândia:Leia artigo da juíza de Direito sobre idosos

*Luciane Buriasco Isquerdo - 16 de setembro de 2011 - 14:15

Ser idoso: um recomeço

A vida é cheia de recomeços e um deles é quando a idade chega e você já não consegue fazer o mesmo que antes, aposentou-se, ficou viúvo(a), os filhos estão grandes, com suas próprias vidas, não dependendo mais de você.
A gente não planeja muito essa fase da vida. Estima-se, inclusive, que nem poupamos o suficiente e, se não pouparmos ao menos 10% do que ganhamos na vida adulta, precisaremos da ajuda dos filhos ou do governo na velhice.
Muita gente não sabe, mas não existe mais aposentadoria só por idade. É, em regra, por tempo de contribuição, ou seja, pelos pagamentos que você fez ao longo da vida ao INSS. No serviço público, são necessárias contribuições e idade. Mesmo o benefício da Assistência Social ao idoso – mais de 65 anos, sendo que a Constituição Federal já garantia esse benefício a pessoa com 70 anos ou mais – depende da família não ter condições de sustentar o idoso. Tem que ser, além de idoso, carente. E é considerado carente todo idoso cuja renda familiar per capita em sua casa não ultrapasse um quarto de salário mínimo (R$ 136,25). Na Justiça a gente tem abrandado isso, mas a Assistente Social precisa constatar indo na casa da pessoa, se é de fato carente e precisa do benefício.
Por falar em direito dos idosos, o idoso tem direito a medicamentos gratuitos. Bom, isso na verdade todo mundo tem direito no Brasil. No caso do idoso, o atendimento também é preferencial. O idoso tem direito a meia entrada nas festas e cinemas, igual estudante, e tem preferência na fila. Na hora de viajar de ônibus de um Estado para outro, duas vagas por ônibus são reservadas para idosos, grátis, e tem desconto de 50% para as restantes. Mas o idoso tem que ganhar até dois salários mínimos, neste caso. Quanto aos processos no Fórum, os de idoso têm uma etiqueta própria – uma flecha vermelha, igual de réu preso e outras prioridades, para andarem mais rápido.
No aspecto saúde, importante a família estar atenta ao Alzheimer e à depressão, normalmente presente nos casos de demência nessa idade. Pequenos esquecimentos podem ser bobagem, ou início de Alzheimer. E tristeza pode ser depressão. Daí a importância de um bom acompanhamento médico.
Já li que o segredo de Hebe Camargo, segundo ela, foi ter se mantido sempre curiosa, aprendendo coisas novas.
Uma idosa digna de nota, aqui perto de nós, foi Goiandira do Couto, de Goiás Velho, que faleceu recentemente. Tinha 95 anos quando a conheci, no final do ano passado. Estava ótima, reclamava apenas de uma leve labirintite e dizia ainda fazer o serviço de casa. Foi uma pintora fantástica, que criou uma técnica de pintar com grãos de areia, fininho, colando a areia encima do traçado. E areia colorida naturalmente, que ela procurava na montanha. Foram vários prêmios recebidos, conheceu Presidentes da República, chegou a dançar com Juscelino Kubistchek. Foi prima de Cora Coralina, escritora famosa de Goiás. Goiandira era filha de um juiz também poeta, escritor e jornalista. Ela foi professora, alfabetizou os policiais militares de Goiás na época. Contando-me tudo isso, disse de repente uma frase que eu jamais vou esquecer. Disse: É, foi uma vida cheia!
Termino com Victor Hugo, poeta francês do século XIX, que sobre as idades da vida, sintetizou assim:
“Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós”.

*Luciane Buriasco Isquerdo
Juíza de Direito da 2.ª Vara de Cassilândia

SIGA-NOS NO Google News