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Cassilândia - Zico Pereira: chegou onde poucos chegaram

Por Manoel Afonso - 06 de março de 2007 - 07:44

“A vida não é a que gente viveu, e sim a que a gente recorda e como recorda para ser contada”, diz Gabriel Garcia Marques.
Focar os olhos para o passado é um exercício sem igual, de mãos dadas com a sutileza das palavras, sob pena de se cair na vala amarga das lamentações. Gosto muito de reaquecer o fogo da saudade, sem mágoas, resgatando personagens e fatos adormecidos no embalo do tempo.
Aceleramos o tempo e não sabemos mais o que fazer com o passado. Somos empurrados para o deserto; deixamos de cultivar nossas origens!
Teimo em resistir e de vez em quando enfio a mão no coração para retirar tesouros que o tempo não destruiu. Agora, é a vez dele: Zico Pereira, que no último dia 26 completou 93 anos de idade. Como podia esquecer dele? A gente não se cruza pelas esquinas da vida faz tempo, mas eu sei que ele continua lá no seu recanto feliz, ao lado da sua Isaura, naquela vidinha de dar inveja: galinha no terreiro, vaca no pasto, porco no chiqueiro, fruta no quintal e verdura fresca na horta. Quanta hospitalidade: quantos almoços festivos e pamonhadas. Simplicidade recheada de felicidade!
Pouca gente sabe, mas o Zico nasceu em 26/02/1914 no Córrego da Barra, a 15 kms de Cassilândia e teve 20 irmãos vivos.. Seus pais moraram alguns anos perto da Ponte do Zeca Pereira em Itajá. Cinco anos após o casamento (1938), o casal mudou-se para Cassilândia, morando algum tempo na casa de seu sogro Isaias Bito até que fosse construída a casa atual na chácara.
Em Goiás, nasceram os filhos Dina, Deta e Tutuca e em Cassilândia – Vanderlan, Vasco e Vanderlei. Hoje os netos são onze, os bisnetos dezesseis e os tataranetos são três. Dentro da realidade da época, Zico conseguiu criar e encaminhar todos os filhos para uma vida digna. Fez de tudo um pouco, tendo inclusive explorado uma olaria na chácara, de onde saíram tijolos utilizados em muitas construções, como da Igreja da Praça da Matriz. Também trabalhou com carro de boi e com um caminhão no transporte de produtos agrícolas e porcos na região. Foi na sua chácara onde funcionou o aeroporto da cidade, de grande importância para o desenvolvimento.
Zico sempre teve aquele estilo da Família Pereira: falando alto, receptivo, franco, mas sem agressividade e participativo na comunidade; do futebol como goleiro aos jogos de dominó, truco, bisca e escopa com seus inseparáveis Tiuca, Vaildo, Jamil, Zé do Tiúca, Gonçalo e Lázaro. Também não perdia um baile, considerado que era um verdadeiro “pé de valsa”. Na política era um apaixonado do PSD, companheiro de Sebastião Leal, João Cadete e João Leal.
O tempo que se dane: continuo vendo o Zico; Olavo - de batismo - corinthiano - usando chapéu de feltro -todo faceiro entregando leite em sua bicicleta pelas ruas da cidade ou conversando ali no armazém do Joaquim Silva E...quanta gente bebeu daquele leite! Zico e Izaura são abençoados por Deus - curtindo a velhice onde viveram, perto dos parentes, amigos, vendo céu estrelado de lua bonita, ouvindo passarinhos e galo cantar de madrugada. Eles sabem: nada tem a reclamar! Só a agradecer. De vocês, essa é a recordação que tenho e precisava ser contada para toda cidade. Gente como vocês a gente guarda no coração. Saudade de vocês...daquela vida vivida.

Manoel Afonso

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