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Caso Calabresi: vítima confirma agressões

TJGO - 24 de abril de 2008 - 08:37

“Eu rezava todos os dias, pedindo a Deus para me livrar daquilo”. Com essas palavras, a estudante Lucélia, de 12 anos, vítima de tortura, maus-tratos e cárcere privado relatou ontem (23) ao juiz José Carlos Duarte, da 7ª Vara Criminal de Goiânia, de que forma os crimes ocorreram. Estavam presentes na audiência a mãe dela, Joana D´Arc da Silva, acusada de tê-la entregue a terceiros em troca de dinheiro e a doméstica Vanice Maria Novaes. O Ministério Público (MP) arrolou 13 testemunhas e, após o depoimento da menina, o juiz pretendia ouvir pelo menos mais quatro pessoas ainda hoje.

A empresária Sílvia Calabresi Lima, que juntamente com Vanice responde pelos três principais crimes, não compareceu com autorização do juiz. Também estavam ausentes Marco Antônio Calabresi e Thiago Calabresi, acusados de omissão a tortura. Em juízo, Lucélia recontou todas as agressões e maus-tratos por que passou, lembrando-se eventualmente de algumas que ainda não haviam sido relatadas. Disse que passou a morar com Sílvia por vontade própria, tendo passado a sofrer agressões três meses depois, no dia em que quebrou uma porta de vidro do apartamento da família.

A partir de então, segundo recordou, os “castigos” passaram a ser frequentes, e cada vez mais terríveis. “Uma vez ela me deu uma surra com cinto de fivela e foi até o cinto se destruir. Depois me deu pancadas com rodo e umas 60 vassouradas”, relatou, informando que, na ocasião, ficou muito machucada e teve de ser levada ao médico sendo que, no caminho, Sílvia a instruiu a dizer que havia caído de uma escada, e ameaçou matá-la caso contasse a verdade. “Também menti para minha mãe”, afirmou, quando questionada se Joana D´Arc sabia do que se passava.

Para explicar o motivo pelo qual não contava o caso e não fugia do apartamento, Lucélia informou que Sílvia dizia que se ela “ao menos pensasse” em sair, seus irmãos seriam encontrados mortos na semana seguinte, e sua mãe também. Segundo a menina, tais agressões já existiam antes de Vanice passar a trabalhar na casa. Quando a doméstica foi contratada, Sílvia a incumbiu de vigiar Lucélia e relatar se ela estava cumprindo suas tarefas. “Muitas vezes ela ligava para casa e perguntava para a Vanice se eu estava de castigo”, disse a menina, garantindo que todas as atitudes da doméstica ocorriam a mando da empresária.

Por outro lado, segundo ela Vanice tinha o hábito de relatar tudo a Sílvia que, em seguida, como represália, colocava a menina de castigo. Como exemplo disso, Lucélia citou uma ocasião em que Silvia a proibira de se alimentar e, depois de muitas horas, já bastante faminta, pediu comida a Vanice, que então ligou para a patroa contando o fato a ela. “A Vanice fofocava tudo”, resumiu, dizendo que em seguida Silvia ordenava à doméstica que acorrentasse a menina.

Lucélia disse que já chegou a ficar quatro dias sem comer nada, ocasião em que ingeriu ração de cachorro para se nutrir. Confirmou que a empresária a obrigou a ingerir fezes e urina de cachorro por várias vezes, bem como a limpar a sacada do apartamento com a língua. “Ela fazia essas coisas várias vezes e quando fazia, era tudo de uma vez: uma alicatada na língua, vassourada na cabeça, comer fezes, ficar sem comida e depois ser acorrentada por horas”, lembrou-se, chorando.

A menina relatou que um dia contou tudo a Marco Antônio, que combinou de levá-la da casa na madrugada seguinte. Contudo, Sílvia descobriu o fato e impediu o marido, dizendo que gostava de Lucélia. Segundo a estudante, Marco Antônio teria dito a Silvia, nesta ocasião, que “não era possível que ela não soubesse que aquilo era um absurdo e dava cadeia”. (Patrícia Papini)

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