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Casados há 60 anos, Osvaldo canta e reza aos olhos de Evanir, seu grande amor

Campo Grande News - 05 de novembro de 2017 - 08:30

A rotina é a mesma, há 60 anos, desde que se casaram. (Foto: Marcos Ermínio)
A rotina é a mesma, há 60 anos, desde que se casaram. (Foto: Marcos Ermínio)

Aos 83 anos, uma das melhores sensações de Osvaldo é acordar com a certeza que ainda tem o amor da sua vida ao lado. Por isso, depois do primeiro bom dia, ele e Evanir caminham até o oratório da sala para rezar o terço e agradecer pelos primeiros minutos do dia. A rotina é a mesma, há 60 anos, desde que se casaram.

"Tem dia que ele está desanimado, mas eu não rezo sem ele. Então, vai nem que seja arrastado. Temos de agradecer pela nossa felicidade juntos", descreve Evanir Ferreira Pereira, de 79 anos. "E depois disso, ainda faço nosso café, senão ela nem olha pra mim", brinca Osvaldo.

Casados desde 30 de março de 1957, dona Evanir e seu Osvaldo tem 8 filhos, 22 netos e 40 bisnetos. Em seis décadas de convivência, o que surpreende é a demonstração de carinho aparente, sem nenhum esforço, que virou o combustível da vida.

Evanir começa a puxar na memória detalhes sobre a ligação que começou na infância, morando na mesma rua, em Corumbá. "Essa história é longa, com partes difíceis e até engraçadas", lembra. "Osvaldo era um menino quando a mãe morreu cedo. Nos conhecemos na mesma rua, dividindo os brinquedos, mas era tanta criança que eu nem imaginava estar perto dele no futuro".

Osvaldo foi servir à Marinha quando ela tinha 13 anos. Evanir também já pegava no pesado para ajudar a família. "Minha mãe tinha 14 filhos para cuidar e comecei a trabalhar para ajudar em casa. Ela me chamava às 4h da manhã para fazer o café e a farofa para meu pai levar de almoço na roça".

Evanir tinha pouco mais de 45 kg e caminhava 10 quadras por dia para buscar água no chafariz da cidade. "Todo mundo ia até lá buscar a água que vinha do rio. Eu ajeitava um pano na cabeça e carrega 18 litros em um balde, sem derramar".

A água era usada para lavar roupa, cozinhar e tomar banho. Depois das atividades em casa, ela ia até a roça com os irmãos ajudar o pai na colheita. "A gente trazia saco pesado com melancia nas costas. Depois, papai vendia tudo na cidade. Com o dinheiro, ele comprava o que estava faltando em casa. No outro dia, era tudo de novo".

Foi observando a dedicação de Evanir que Osvaldo tentou conquistar a menina. "Eu já estava com 16 anos quando ele voltou para Corumbá e foi trabalhar em uma padaria. Todo dia que eu passava na rua, ele jogava pedrinhas no balde para chamar atenção, mas eu nunca olhava, tinha horário para chegar em casa, naquele tempo papai batia de cinto".

Depois de muita pedrinha, Osvaldo tomou coragem e foi até a casa de Evanir com uma cesta de pães. "Eu já tinha conversado com um tio sobre ela. Sabia que era uma moça muito direita e trabalhadora", lembra Osvaldo.

Até o dia que decidiu pedir Evanir em namoro. "Papai fez o café e ajeitou a cadeira a espera de Osvaldo. Mas quando chegou em casa, o tio dele que começou a falar", conta Evanir. "Imagina o medo que eu estava de apanhar", completa Osvaldo. Enquanto o pai de Evanir balançava a cabeça de um lado pro outro, o nervosismo só aumentava. "Ele custou a dar a resposta, até que aprovou o nosso namoro, desde que fosse dentro das regras dele".

Dos encontros ingênuos na praça da cidade, Osvaldo diz que lembra dela sempre vigiada por alguém. "Custei a pegar na mão dela", recorda. Enquanto as visitas eram ainda mais rigorosas. "Eu chegava às 19h e tinha que partir às 22h, sem direito a beijos e abraços".

Foram 2 anos até o pedido de noivado que durou mais três anos até a família ter condições de bancar um casamento. "Era uma vida muito humilde. Não tinha água encanada, luz e as vezes faltava o pão de manhã. Por isso a família comia mandioca frita no café. E quando veio o pedido ele não tinha dinheiro para comprar o terno e nem eu fazer o vestido".

Com o tempo as coisas foram melhorando e, depois de muito trabalho, Evanir viu um pai dar um grande passo na vida. "Ele conquistou seu primeiro carro de boi, naquele tempo isso era um luxo, custava caro. Ainda lembro dos bois, o Fusquinha e o Barroso".

Juntando um pouquinho daqui e dali, Osvaldo correu atrás dos móveis, construiu o fogão a lenha e ajeitou detalhes da festa, ansioso, pela chegada de Evanir a igreja após três anos de espera. "Foram dois dias de festa. Um bolo de três andares, um vestido lindo que ela ganhou da costureira e 340 convidados. No carro nem coube todos os presentes", comemora.

Casados, foram anos trabalhando juntos na roça até o casal tentar um vida diferente em Campo Grande. E apesar de todas as dificuldades, o amor e a família que ia aumentando, era o consolo na hora exata e a cura para qualquer angústia. "É com paciência e oração que a gente supera tudo. É claro que já brigamos, mas sempre nos entendemos. Esse é o segredo para os 60 anos de casamento e tinha que ser o mesmo para todas as relações".

Pela casa, ao lado dos retratos da família, Osvaldo se emociona ao falar do amor de sua vida. "Eu agradeço a Deus por ter enviado ela pra minha vida. E nada vai separar o nosso amor", diz o marido.

E antes de terminar a história, Osvaldo encara Evanir no fundo dos olhos e canta, para retribuir o amor transparente que marcou os dias de oração e paciência ao longo dos 60 anos.

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