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Câncer de mama destruiu padrão, mas fez surgir beleza mais forte em Mychelle

Campo Grande News - 21 de agosto de 2018 - 13:00

Mychelle decidiu fazer as fotos sem lenço ou peruca porque é como ela se reconheço no espelho. (Foto: Fernanda Vianna)
Mychelle decidiu fazer as fotos sem lenço ou peruca porque é como ela se reconheço no espelho. (Foto: Fernanda Vianna)

Olhar no espelho e reconhecer a imagem foi um processo de reconstrução para a funcionária pública Mychelle Ribeiro Diacopulos Moraes, não apenas da autoestima, mas também da própria identidade. Aos 32 anos, ela descobriu um câncer de mama, enfrentou a cirurgia e depois a quimioterapia, procedimentos que interferem de maneira visível no corpo e nas emoções.

Lidar com a doença exige suportar mais que os sintomas físicos, também envolve o peso que acompanha o medo. "Câncer é uma palavra forte, muito estigmatizada e relacionada com a morte, eu sou casada e tenho duas filhas. No momento do diagnóstico vivi um processo de luto por mim mesma", diz Mychelle ao relembrar o turbilhão de emoções negativas que vieram com a notícia.

"Eu me vi imersa em uma tristeza muito grande. Aquele sentimento me acompanharia pelos dias que viriam pela frente, tristeza pelo resultado, pelo tratamento oncológico, pela dor. Me imaginei como uma pessoa mutilada, triste e sozinha".

A feminilidade foi parar na berlinda, mas Mychelle reagiu e em um ensaio fotográfico assumiu a beleza que até então desconhecia. Tudo ainda é um exercício diário, existem dias em que os danos da autoestima estão mais presentes que em outros. Mas com a "retratoterapia", também veio a compreensão de que os padrões não devem pesar e que ser feminina não depende de cabelo longo ou seios robustos.

Responsável pelo ensaio, a fotógrada Fernanda Vianna diz que a proposta era traduzir em imagens o espírito de Mychelle. Antes de cada ensaio ela conta que costuma buscar inspirações na internet, mas nesse caso foi difícil encontrar referências capazes de representar a leveza com a qual ela encarou o câncer."A ideia da 'retratoterapia' é justamente trabalhar o emocional da pessoa através da imagem, fotograifas que retratratem esse momento que é tão íntimo e mostrar a alegria e a delicadeza dessa fase com que ela tem passado por isso."

"Quando vi o resultado das fotos fiquei muito feliz, achei que transmitem delicadeza e beleza. É claro que uma mulher sem cabelo chama a atenção, mas não acho que foi uma foto dramática de alguém tentando ficar bonita, foi uma foto com alegria em que registrei um momento importante da minha vida".

Até ir para frente das câmeras, Mychelle teve de vencer os medos, que começaram com o diagnóstico. "Durante um auto-exame consciente eu senti o caroço no seio, procurei minha médica imediatamente, a consulta foi no dia 27 de fevereiro e no dia 14 de março já tinha o resultado. Um intervalo de 15 dias. No meu caso, a cirurgia veio primeiro, porque o tumor não era tão grande e a intenção era impedir que ele crescesse, uma escolha que fiz junto com a minha médica ao ter certeza que era a melhor opção. Ali, eu tinha duas escolhas: podia acordar num dia com dor e escolher fazer dessa dor um grande fardo pelo resto do dia, acordar com essa dor e não deixar que ela tome conta do resto do dia".

Mychelle nunca teve problemas com a própria imagem, conta que antes do cancêr nunca teve vontade de alterar nada em si mesma."Eu sou uma mulher vaidosa sempre tive cuidado com o meu cabelo, com o meu corpo. Sei que tive a sorte de ser submetida há uma cirurgia de retirada da mama e na mesma cirurgia fazer a reconstrução. Quem me vê por fora, não percebe a diferença, mas eu vejo. Eu sei que não é minha mama. Não queria me ver no espelho, os médicos estavam comemorando o sucesso estético da cirurgia, mas eu não concordava com eles." Ela passou por um processo de voltar a habitar a própria pele, redescobrir a beleza e acabar com a imagem que as outras pessoas projetavam nela por causa da doença.

"A 'quimio' está muito ligada com o cabelo, eu ouvi com restrição aquelas frases clássicas como: 'O importante é o que você está viva' e que meu cabelo iria crescer de novo', mesmo assim eu não queria raspar a cabeça. Eu recebi com tristeza, sabia que meus amigos e médicos queriam outra postura de mim. Além dos efeitos clássicos da quimio, eu tinha que ver meu cabelo - que é um símbolo da feminilidade da mulher - cair. Primeiro, foram poucos fios, até chegar em um ponto em que você coloca a cabeça no travesseiro e ele cai, passa um pente ou coloca uma presilha e ele cai, a quantidade é cada vez maior. Só ficou mais fácil quando resolvi raspar, foi outra etapa que precisava de aceitação".

O tratamento ainda restringe algumas das atividades que antes eram rotina para Mychelle, fica cansada, mais irritada, tem sono, dores e enjoos por causa dos remédios, mas sabe que cada dia é outra etapa vencida. Mas a experiência deixou a leveza e o amor como lição. "Sempre tive o apoio integral da família, do meu marido que me fez ter a certeza de que eu não seria defininida pelo cabelo ou pelo peso, que quem sou depende do que está dentro de mim".

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