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Campeões na farmácia: idosos, mulheres e homens brancos

Agência Notisa - 05 de julho de 2004 - 14:27

Em 2001, a indústria de medicamentos no Brasil movimentou US$ 5,7 bilhões, colocando o país entre os 10 maiores faturadores do mundo, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma). Um estudo da Universidade Federal de Pelotas, publicado na Revista de Saúde Pública (Vol.38 n.2), investigou quem usa mais remédios, quais as drogas mais utilizadas e o que motiva as pessoas a consumir medicamentos.

O estudo, que pesquisou mais de três mil pessoas no município de Pelotas (RS), abordou indivíduos com mais de 20 anos, a quem perguntaram sobre o medicamento que tomaram, em caso de terem tomado algum, nos últimos 15 dias. Os pesquisadores solicitaram aos entrevistados que mostrassem a embalagem e a receita dos remédios utilizados, visando a anotar nomes e laboratórios fabricantes para posterior classificação em grupos farmacológicos. Os pesquisadores também perguntaram sobre formas de uso dos medicamentos (uso regular ou eventual). Variáveis como sexo, idade, escolaridade, nível econômico e atividade física também foram considerados no estudo.

Da amostra pesquisada, mais de 65% das pessoas haviam usado algum medicamento nos últimos 15 dias, sendo que 47,7% utilizaram um ou dois e 18,2% utilizaram três ou mais remédios. Houve relato de pessoas que tomaram até 15 tipos de remédios nos dias anteriores à pesquisa. “A insatisfação com a saúde também é motivadora de fatores culturais e comportamentais que resultam em um aumento desse uso de medicamentos”, afirmam os pesquisadores.

O estudo também destaca a criação de uma necessidade coletiva de utilizar remédios que considera, em geral, motivada pela propaganda de medicamentos promovida pela indústria farmacêutica. “Utilizar o medicamentos é um processo social controlado por numerosas forças; o desejo de um melhor cuidado com a saúde é apenas uma delas. O aspecto econômico do uso de medicamentos é relevante, pois eles se transformam em importante mercadoria, movimentando altas cifras anualmente”, afirma o estudo.

Dos 4.609 medicamentos utilizados, 45,2% foram para tratamento de problemas agudos e 54,8% para problemas crônicos, sendo que em apenas 5,2% foi constatada prescrição médica desses medicamentos.

Quanto ao uso de medicamentos em relação ao sexo, as mulheres apresentaram prevalência de utilização sempre superior à dos homens, até mesmo quando se eliminam os casos de uso exclusivo de contraceptivos. Apenas 10,6% dos homens utilizaram mais de três medicamentos, enquanto entre as mulheres esse percentual foi de 24,0%. “As mulheres possuem maior preocupação com a saúde e procuram mais os serviços de saúde do que os homens. Além disso, vários programas de saúde (pré-natal, prevenção de câncer do colo uterino e da mama) são voltados para as mulheres; em função disso, elas ficam mais sujeitas à medicalização”, explica o estudo.

Entre os homens, os brancos utilizam quase 30% a mais de remédios do que os homens não-brancos, diferença esta que não foi identificada entre o sexo feminino. Da mesma forma, pessoas com mais idade também utilizam mais medicamentos do que os jovens. Enquanto pessoas de até 29 anos utilizam 0,9 remédio, pacientes com mais de 70 anos chegam a utilizar, em média, até três vezes mais drogas do que os jovens.

A pesquisa também identificou que quanto maior o nível econômico, maior o uso de medicamentos. “O uso de medicamentos depende do fator socioeconômico, que pode prevalecer sobre a real necessidade. Sabe-se que a saúde dos indivíduos de nível socioeconômico mais baixo, em geral, é pior, e isso poderia acarretar uma maior utilização de medicamentos nesse grupo, dado que não foi encontrado. Esse achado está de acordo com a lei dos cuidados inversos em saúde, segundo a qual as pessoas com menores necessidades têm mais e melhores cuidados”, destacam os pesquisadores.

Os analgésicos e antiinflamatórios foram os remédios mais usados (26,6%), seguidos pelos medicamentos que atuam no sistema cardiovascular (24,6%), como anti-hipertensivos (11,0%) e os diuréticos (6,5%). Os medicamentos que atuam no sistema endócrino e reprodutor corresponderam a 12,1% dos medicamentos utilizados. A prevalência de uso de contraceptivos nas mulheres em idade reprodutiva (20 a 49 anos) foi de 26,3%.

Para o estudo, avaliar ainda mais os tipos de medicamentos que estão sendo utilizados, assim como a prática da automedicação, é fundamental para embasar projetos públicos que visem a racionalizar o consumo de remédios. “A avaliação de determinantes individuais de uso de medicamentos indica os grupos mais sujeitos ao seu uso excessivo”, conclui a pesquisa.

Agência Notisa (jornalismo científico - scientific journalism

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