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Cacique do Ar: a sua história contada por Manoel Afonso

Manoel Afonso - 27 de julho de 2004 - 11:25

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Cine Maracanã: o público delirava com Tarzan enfrentando crocodilos; com o jeitão atrapalhado do Mazaroppi; com as chanchadas do Oscarito e Grande Otelo: com a pontaria do John Wayne e o talento de outros ídolos de uma época ingênua e romântica. Para a cidade pequena, o cinema, localizado nos fundos do bar do Deodato, onde hoje é o”Porteirão”, bastava. De propriedade do Donato e do Acy Barbosa Sandoval (Balofo), foi inaugurado em 1960, e tinha gerador próprio de energia, com o Quarentinha (falecido ano passado em Goiânia) sendo o operador do projetor. A praça era de grama e chão batido, onde jogava-se futebol; o prefeito João Albino, o governador João Ponce de Arruda e o presidente JK. Foi ano de eleições: eleitos Fernando Correia e Jânio Quadros. Era ali o ponto de encontro da juventude, onde se discutia futebol e se paquerava, com os rapazes tendo direito a brilhantina, calça de linho impecável e camisa “volta ao mundo”. As moças – de saia plissada bem abaixo do joelho. Mini-saia nem pensar! A energia elétrica da cidade era fornecida pelo Chico da Luz desde 1953, que cobrava pelo número de “bicos” do consumidor.
Imaginem a juventude dourada da época, sem grandes opções de lazer, ouvindo as músicas do serviço de auto falante do cine Maracanã: Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, Angela Maria, Nilton Cesar,Teixerinha, Roberto Carlos e Wanderleia, entre outros. Pois é, esse som existia graças a iniciativa dos inseparáveis Zé Ancelmo e Hugo Silva – que anunciavam a programação cinematográfica e veiculavam anúncios do comercio local. Os locutores, é claro, eram os dois.
Mas com o crescimento da cidade, o cine Maracanã deu lugar ao Cine Alvorada, ( atual Malule), construído pelo Donato e inaugurado em 13 de junho de 1964: um prédio imponente, e o serviço de auto falante foi para um prédio alugado em frente a praça, funcionando em dois períodos: de manha (Hugo) e à tarde (Zé). Conta-nos Zé Ancelmo que a cidade parava ao ouvir “A Ave Maria”, que antecedia ao anúncio de falecimento Anote-se que a “empresa” ganhou nova e definitiva denominação: “Cacique do Ar”. Nesta época, Orfeu Cardoso (o Miguin), filho do Salvador Cardoso estreou como locutor e depois substituiu Quarentinha como operador do projetor no cinema.
Mas com o ingresso de Zé Ancelmo na Secretaria da Fazenda, o serviço de auto falante acabou vendido para Lauro Souza, dinâmico , que promoveu o teatro, concurso de cantores, e outros eventos que congregavam o melhor da juventude estudantil e da sociedade. Aliás, logo quando eu e o Girotto chegamos à cidade, em 1974, participamos como jurados destes eventos nas manhãs dominicais. Foi ele que incentivou a fundação do “GEMA”, e foi seu primeiro presidente e responsável pela construção da primeira quadra de esportes da cidade. Uma glória para a época. O “Cacique” era o porta-voz da cidade, nos momentos de alegria e de dor. Se a população – que não via ainda a televisão – tinha apenas nas emissoras de rádio de São Paulo as fontes de informações e entretenimento, o “Cacique” cumpria e bem seu papel naquele contexto social.
Lauro Souza resistiu bravamente com o “Cacique do Ar” até a inauguração da Rádio Patriarca em 3 novembro de 1.984, sendo o locutor oficial da cidade, na recepção às autoridades, nos comícios e outros acontecimentos que exigiam um profissional de excelente voz. Podia-se até discordar dos bordões ufanistas ou do excesso de entusiasmo do Lauro nos comícios, mas não se pode negar sua competência e vibração que vinha do fundo da alma. Esse o Lauro, cuja imagem ficou associada ao “Cacique do Ar”, a quem – rendemos aqui nossa homenagem, juntamente com o José Ancelmo e Hugo Silva . Por tudo que fez, Lauro é parte da história da cidade; ajudou a escrever capítulo importante e portanto não pode ser esquecido.
Fica o registro. E resta a saudade de um tempo que não volta mais.

(O autor é advogado e comentarista
da TV-Record-MS – C. Grande)








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