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Cacique conta a luta por reaver terras em MS

Janaína Rocha/ABr - 29 de março de 2006 - 15:43

Rio Quente (Goiás) – O Mato Grosso do Sul é um dos estados que tem maior população indígena do Brasil, com quase 54 mil indígenas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000, perdendo para o Amazonas (mais de 113 mil), Bahia (64 mil) e São Paulo (63 mil). Os povos Guarani-Kaiowá, Terena e Kadiwéu predominam no MS, mas há mais três etnias, segundo o auxiliar de enfermagem Hilário da Silva, um kadiwéu. Os Guató, um desses povos, recuperam seu território há cerca de 15 anos. Hoje ficam a 350 quilômetros de Corumbá via Rio Paraguai.

"Éramos um povo extinto. Fui expulso das terras quando tinha 15 anos por causa de um fazendeiro que disse que as terras eram dele. E a gente acreditou", conta Severino Ferreira, que é o cacique guató, com 66 anos de idade.

Severino então foi para Corumbá. "Eu pensava que a gente nem tinha direito, mas um dia a Funai apareceu e convidou a gente para voltar para a terra. A gente se alegrou e voltei a procurar meus parentes." Na ocasião, Severino tinha por volta de 45 anos.

Entre cerca de 30 idas e vindas de Brasília para "brigar com o Exército" e recuperar as terras, Severino conseguiu apoio também do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). "A gente conseguiu a terra, mas não tinha como ir. A Marinha não queria levar. Não tinha lancha, não tinha barco. Aí a gente conseguiu, com a ajuda do Cimi, montar uma associação e conseguir dinheiro fora do Brasil para construir nosso barco".

Num barco, na ocasião, com capacidade para 10 pessoas, Severino levou 40. "Não posso deixar as pessoas. A gente faz a mesma coisa hoje. No barco, agora, cabem 30, mas eu levo 60, 80. Todo mundo precisa ir para cidade, viajar. Como vou deixar um parente sem ajuda? Só a gente pode fazer por ele".

Ele conta que a língua está quase se perdendo, mas que Veridiano, um senhor de 80 anos, está ensinando as crianças. "A gente aprendeu que a gente tem um direito na Constituição. E hoje tem escola, saúde. E também não acreditamos mais em todo mundo".

Ele afirma que está procurando um substituto, mas que só tem encontrado pessoas muito autoritárias. "Só se faz as coisas acontecerem se você convidar as pessoas, não forçá-las".

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