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Cachaça e caipirinha, sucesso genuinamente brasileiro

24 Horas News - 22 de julho de 2012 - 11:11

A breve história da popularidade da cachaça nos Estados Unidos é mais ou menos assim: chega o novo milênio. Os americanos descobrem e gostam da caipirinha (o que é fácil). Os americanos aprendem a pronunciar caipirinha (um pouco mais difícil). Os americanos aprender a pronunciar cachaça, o destilado brasileiro necessário para preparar uma caipirinha (bem mais difícil).

E as coisas estão mais ou menos nesse pé. Apesar de uma subida constante nas vendas da cachaça nos últimos cinco anos e de uma disponibilidade cada vez maior de marcas, o consumo da bebida tem se mostrado limitado. Na mente dos consumidores, poucas bebidas estão tão ligadas a um único coquetel (no caso, um coquetel que talvez já tenha sido bem mais popular).

A cachaça, porém, pode estar pronta para dar início a um segundo ato.

Em abril, depois de uma longa campanha encabeçada por alguns produtores do destilado e pelo governo brasileiro, os Estados Unidos decidiram iniciar o processo que vai reconhecer a centenária bebida sul-americana de cana-de-açúcar como uma categoria à parte. Os fabricantes não vão mais ser forçados a rotular seus produtos como “rum brasileiro”. (Em troca, o Brasil vai oferecer um reconhecimento semelhante ao bourbon americano e ao uísque do Tennessee.)

Além disso, em maio, a Diageo, o gigante conglomerado de bebidas, direcionou seus esforços internacionais para a Ypióca, a terceira maior marca de cachaça do Brasil, comprando a empresa por cerca de 470 milhões de dólares. Esses votos de confiança no elixir nacional do Brasil chegam num momento em que o país se prepara para dois momentos de extrema exposição: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de Verão de 2016.

\"Eu acho que eles serão uma enorme bênção para a cachaça\", disse Cate Martin, proprietária do Smuggler”s Cove, um “bar tiki” (isto é, um bar de ambientação polinésia) de São Francisco, sobre os dois eventos internacionais realizados no Brasil.

Porém, para aproveitar ao máximo o momento, o destilado primeiro tem que se livrar de sua imagem restrita. \"Esse processo é análogo ao que o rhum agricole passou por aqui\", disse Cate, mencionando o primo franco-caribenho da cachaça, que também é destilado a partir do suco da cana-de-açúcar.

“Ele é tipicamente associado a uma bebida, o Ti”Punch”, disse ela, referindo-se à bebida feita de rhum agricole, limão e calda simples. “É uma ótima introdução ao rhum agricole”. “Eu acho que os produtores de cachaça agora estão dizendo: “Podemos começar com a caipirinha, mas não podemos parar por a픓, disse Cate.

Alguns dos lugares aonde esses produtores vão são bares como o de Cate. A explosão dos bares tiki nos últimos anos possibilitou que a cachaça tivesse uma nova oportunidade. Os criadores do destilado detestam quando ele é confundido com o mundo do rum.

“Eles sempre brincam dizendo que o rum deveria ser chamado de cachaça caribenha, e não o contrário”, disse Steve Luttmann, fundador da marca Leblon.

Ainda assim, não há como negar que a cachaça tende a se integrar facilmente no mundo exótico e encharcado de rum dos bares tiki. No Lani Kai, localizado no SoHo, em Nova York, Julie Reiner mistura o destilado com suco de limão, calamansi (uma pequena fruta cítrica nativa das Filipinas), creme de coco e suco de lichia para preparar um coquetel chamado Triângulo das Bermudas. O tiki bar PKNY, no Lower East Side, vende o Don Gorgon, misturando o destilado com Aperol, suco de limão e calda simples, coroando o coquetel com água gaseificada e canela ralada. O cardápio do Smuggler”s Cove inclui uma batida, uma bebida deliciosa cheia de creme de coco e gelo picado cujo pedigree brasileiro tem origens anteriores às da caipirinha.

“Atualmente, o cardápio da maioria dos bares de coquetéis oferece um coquetel preparado com cachaça que é diferente da caipirinha”, disse a mixologista Aisha Sharpe. Uma de suas contribuições – uma mistura de xarope de capim-limão e gengibre, suco de limão e suco de melancia chamada Ooh Yeah – passou recentemente a integrar o cardápio de coquetéis do Breslin, em Manhattan.

A melhoria da qualidade do destilado que está chegando às regiões costeiras dos EUA também tem elevado um pouco a sua reputação.

“Muita gente acha que a cachaça é uma espécie de combustível de foguete”, disse Luttmann. “De certa forma, essa fama é merecida, porque as cachaças que chegavam aqui no começo eram mais industriais.”

Essas cachaças mais grosseiras funcionam bem para as caipirinhas, para as quais vale a regra de ouro de “quanto pior for a cachaça, melhor é a caipirinha”, de acordo com Dushan Zaric, proprietário do bar Employees Only, de Manhattan.

O limão e o açúcar de fato disfarçam as imperfeições do destilado. Mas a força bruta não deve funcionar em coquetéis como o Lazy Lover, uma criação popular do Employees Only preparada com cachaça, suco de limão, Chartreuse verde com infusão de jalapeño, beneditina e néctar de agave.

“As cachaças finas hoje disponíveis no mercado são uma reminiscência de uma forma de rhum agricole”, disse Zaric. “Elas têm uma nota herbal forte, além de serem limpas. Quando queremos misturar e criar coquetéis relaxantes, as marcas mais recentes funcionam.”

O Smuggler”s Cove vende outra bebida, o El Draque, que usa um destilado que muitos americanos nem sequer sabem que existe: a cachaça envelhecida.

“Como a maioria dos barmen nunca foi ao Brasil, não sabe do papel importante que as cachaças envelhecidas exercem na cultura do país”, disse Dragos Axinte, cuja cachaça envelhecida Novo Fogo é mantida em barris reaproveitados de bourbon durante dois anos.

Isso pode mudar em breve. Matti Anttila, presidente da Cachaça Cabana, está considerando a implantação de uma linha de cachaças envelhecidas utilizando diferentes madeiras brasileiras. O lançamento da primeira está previsto para 2013. A São, uma marca orgânica introduzida em 2011, vai apresentar um produto envelhecido em aproximadamente um ano. E a Leblon, marca líder nos Estados Unidos, vai lançar uma em agosto.

Luttmann vê a versão envelhecida, que no Brasil é considerada uma bebida sofisticada, como a solução para melhorar a imagem da cachaça, limitada a temperaturas quentes.

“Ela ainda é sazonal”, disse ele. “É como acontece com a margarita e o mojito: as vendas disparam no verão.”

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