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Brasil ocupa o quarto lugar em acidentes de trânsito

Juliana Andrade/Agência Brasil - 19 de setembro de 2003 - 10:56

Uma curva mal sinalizada, na estrada que liga Natal a João Pessoa, mudou a vida de Cassius Valle, de 31 anos. Há três meses, depois de um dia de trabalho, ele seguia para casa, sozinho, quando perdeu o controle do veículo, que capotou. Valle usava cinto de segurança e não havia ingerido bebida alcoólica. Mas reconhece que excedeu um pouco a velocidade, fator que, combinado à curva inesperada, acabou deixando graves seqüelas: Cassius ficou tetraplégico e, há alguns dias, trocou o antigo endereço pelo Hospital Sarah Kubitschek, onde faz terapia funcional para tentar recuperar os movimentos.

“Você fica dependente das pessoas. A gente cresce para ter uma independência e de uma hora para outra você se torna totalmente dependente para as mínimas coisas”, diz Cassius. A história dele é um dos cerca de 350 mil acidentes que deixam feridos no Brasil. Por ano, são mais de 30 mil mortes nas estradas e avenidas brasileiras, numa proporção de um caso a cada 18 minutos. A violência no trânsito tem um custo social de R$ 10 bilhões por ano.

O Brasil ocupa o quarto lugar do ranking mundial de acidentes de trânsito. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), a taxa de mortes é de 6,8 para cada 10 mil veiculos, enquanto nos Estados Unidos é de 1,93 e na França 2,35. De acordo com o Ministério da Saúde, de janeiro a julho deste ano, os acidentes de trânsito consumiram entre 30% e 40% do que o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou com internações por causas externas (aquelas resultantes de acidentes e violência em geral), equivalente a R$ 268,7 milhões. Na rede Sarah Kubitschek, referência mundial em reabilitação, mais da metade dos casos atendidos é de vítimas da violência no trânsito.

O diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Ailton Brasiliense, lembra que esses acidentes geralmente são relacionados à ingestão de bebidas alcoólicas antes de dirigir, à alta velocidade e à ausência do cinto de segurança, além da imprudência do pedestre. Por isso, a mudança de comportamento do cidadão é o foco principal da Semana Nacional de Trânsito, que começou ontem (18) e termina na próxima quinta-feira.

Com o tema “Dê Preferência à Vida”, o governo quer, por meio da parceira com estados, municípios, empresas, organizações não-governamentais e escolas, promover uma mudança cultural, que permita a redução dos altos índices de acidentes. Em várias cidades serão realizadas palestras, blitzes educativas, exposições, apresentações de mímica e de peças teatrais para chamar a atenção dos brasileiros para o problema. Um dos pontos altos da programação será no domingo (21), quando balões brancos serão soltos no mesmo horário, em dezenas de cidades.

Segundo o ministro das Cidades, Olívio Dutra, a campanha faz parte de um conjunto de medidas que serão colocadas em prática. Ele frisou que, como se trata de mudança cultural, as ações não podem ser passageiras, mas sim contínuas e duradouras. Além da campanha, será lançado até o final do ano que vem o projeto inspeção técnica veicular, em fase de elaboração. Segundo o diretor do Denatran, os 31 milhões de veículos da frota nacional terão que passar por manutenções periódicas preventivas, o que reduz o risco de acidentes causados por má conservação dos carros. Quando for licenciar o carro, o motorista deverá apresentar o laudo de inspeção.

A medida também beneficia os compradores de carros usados, que terão a garantia de comprar um produto que não é roubado, sem multas e em boas condições eletrônicas e mecânicas. “Assim, você moraliza o mercado de carros usados”, destacou Brasiliense, ao informar que um terço da frota nacional troca de mãos a cada ano.

Até agora, ainda não foi definida a periodicidade da inspeção nem quem ficará responsável por ela. Para o ministro, essa competência deve ser dos municípios. “Fica mais próximo da comunidade. Bom seria o mais descentralizado possível’, disse. O serviço será cobrado dos motoristas, mas, de acordo com o diretor do Denatran, o preço será acessível. “O objetivo não é arrecadar, e sim aumentar a segurança”, frisou Dutra.

Outra ação prevista é a identificação automática dos veículos, por meio de chips. Segundo Ailton Brasiliense, um terço dos carros em circulação não têm licenciamento, muitos por serem roubados, e a falta de fiscalização acaba estimulando a impunidade.

O governo também aposta na parceria entre o Ministério das Cidades e a Universidade de Brasília, já oficializada, para buscar a paz no trânsito. O objetivo do projeto de educação e cidadania é transmitir as noções básicas sobre o tema a crianças, jovens e adultos. “Os primeiros frutos já serão visíveis a partir do ano que vem”, afirmou Brasiliense, que está confiante no envolvimento da sociedade.

Desde a criação do Código de Trânsito Brasileiro, há cinco anos, a média que era de 8 mortos para cada 10 mil veículos caiu para 6,8. O diretor do Denatran atribui essa redução à mudança de comportamento de muitos motoristas e pedestres. Segundo ele, o índice atual é bem mais otimista que o registrado há 40 anos, quando a proporção era de 28 mortos para cada 10 mil carros.

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