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Brasil ainda luta para que se use a camisinha

Agência Notisa - 11 de dezembro de 2004 - 07:42

Apesar do reconhecimento internacional do país do programa brasileiro para DST/Aids, há regiões como o sertão cearense que mal têm acesso ao preservativo.

Nos últimos anos, a polêmica da distribuição gratuita de remédios destinados aos soropositivos (os ARVs — anti-retrovirais) tem merecido destaque em todos os fóruns internacionais sobre HIV/Aids, nos quais o Brasil é citado como modelo. O que poucos sabem, e é pouco divulgado, é que também há um outro Brasil muito distante desta discussão — em lugares como o sertão cearense, até mesmo o preservativo é difícil de ser encontrado. Nesses locais, não é possível nem mesmo comprar o produto, fundamental para a prevenção da doença. O relato é de Márcia Araújo Martins, da ONG Aliança Luz, que há seis anos desenvolve um trabalho no interior do Ceará com o objetivo de aumentar os pontos de venda do preservativo a um preço acessível à população. “O comércio de camisinha é concentrado nos centros urbanos, onde ela é vendida sempre por um preço elevado”, afirmou durante o 14º Seminário Franco-Brasileiro de Aids, encerrado hoje, no Rio de Janeiro.



Segundo Márcia, as principais áreas de trabalho do projeto são os locais que nunca venderam preservativo, como postos de gasolina, barracas de praia e associações comunitárias. Atualmente, o projeto abastece 1200 pontos de venda com lotes de camisinha subsidiados e material educativo em mais de 50 cidades do Ceará, tanto do litoral quanto interior. Para facilitar o acesso e a aceitabilidade, o comércio é feito, prioritariamente, em locais alternativos, às vezes usando apenas uma pequena banca de madeira em uma praça. “Nossa finalidade não é vender camisinha, é trazer a população para os pontos de venda”, explicou . Apesar de não ser o foco de atuação, sempre há preocupação em disponibilizar informações sobre DST/Aids. “Muitas comunidades não possuem postos de saúde ou farmácia”, lamentou.



Segundo a pesquisadora, tudo é feito em parceria com pessoas da comunidade, que ficam responsáveis pelo comércio. O projeto fixa uma margem de lucro, um teto para o preço de venda e fiscaliza o serviço, com o apoio dos envolvidos. Márcia citou, como exemplo bem sucedido, o município de Icapuí que antes do projeto só possuía um local de venda e hoje conta com 35, sendo que cada caixa com três unidades é vendida a um real. “Em alguns lugares do Ceará, está ocorrendo até mesmo uma disputa de quem vende mais barato”, disse.



No início, o principal obstáculo encontrado pelo projeto foi conhecer a realidade local e ganhar a confiança das pessoas. “Não tem como cair de pára-quedas em uma comunidade”, afirmou a pesquisadora. Ela contou que, em algumas situações, o projeto foi obrigado a trabalhar com supermercados e farmácias, pois a população desconfiava do preço mais barato e simplesmente não comprava as camisinhas. Além disso, ela explica que o comércio tradicional deve ser respeitado. “Como eu vou chegar a uma comunidade em que a farmácia do Seu João funciona há 30 anos e não vou falar com ele?”, exemplificou.



Hoje, segundo Márcia Martins, as perspectivas do projeto são, além de aumentar em 30% a venda de camisinhas, promover novas intervenções dentro das unidades de saúde e estabelecer o programa através de coordenações regionais no Ceará.

Agência Notisa ( jornalismo científico - science journalism)

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