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Bandeira de MS é azul, mas para os criadores deveria ter sido ocre

Campo Grande News - 02 de maio de 2016 - 07:45

Por trás do azul da bandeira de Mato Grosso do Sul existiu um ocre pouco convencional para a época, mas que exaltava a cultura rural do então novo Estado. As cores do desenho que viria a representar até hoje um povo, acabou sendo alterado pelo governo da época, ainda em ditadura militar.

O arquiteto Mauro Miguel Munhoz, 57 anos, relembra a história com facilidade. Apesar dos anos de carreira na profissão e na realização da Flip (Feira Literária de Paraty), criar bandeiras não costuma acontecer com frequência. “Eu sou um dos criadores, éramos todos estudantes de arquitetura da USP (Universidade de São Paulo), não tínhamos nenhuma experiência na arte da heráldica. Éramos estudantes e não é todo dia que se cria uma bandeira para um Estado brasileiro. Ficamos muito entusiasmados”, afirma.

Nos registros históricos de Mato Grosso do Sul aparece com frequência o nome de Mauro como criador da bandeira, mas outros alunos também participaram, como o artista plástico Alex Flemming.

“Nós éramos uma equipe do 2º ano da FAU-USP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e resolvemos concorrer no concurso nacional que foi lançado para a criação da bandeira do novo estado do Mato Grosso do Sul. Não me lembro exatamente todos da equipe, mas acho que éramos cinco, eu, Mauro Miguel Munhoz, Vera Domschke, e outros”, relembra Alex.

Mauro diz que a predominância do seu nome na história foi um acordo entre os estudantes. "Precisava escolher um na inscrição e acabou sendo o meu", aponta.

Além do verde e do branco, a bandeira tinha no lugar do azul, a cor ocre. “Nós ganhamos o primeiro prêmio, mas ainda era a época da Ditadura e fomos notificados que eles trocariam a cor ocre pelo azul. Justificaram dizendo que não heráldica, o que não fazia sentido. Hoje eu até tenho simpatia pelo azul”, explica Mauro.

A justificativa da cor anterior seria a tradição econômica e cultural de Mato Grosso do Sul pelo agronegócio. “O Mato Grosso do Sul tem essa questão da monocultura, de você ver a terra após a colheita, terra rajada, de cor marrom. Eu ficava pensando justamente que isso era o que nós queríamos, mas que hoje seria um tanto irresponsável homenagear. Essa questão da madeira ser retirada, dos commodities, na exploração da natureza, na questão agrícola, são coisas que não pensávamos na época”, reflete.

Mauro diz que o ocre era uma lembrança do tom vermelho de Mato Grosso do Sul. “A terra, o tom quente de Mato Grosso do Sul, terra avermelhada e bonita, era isso que queríamos passar”, reflete.

Já Alex Flemming se lembra que naqueles tempos, o grupo apresentou dois projetos para a bandeira e que ambos foram escolhidos para a final. “Nossa adrenalina de estudante subiu muito”, ri.

Pintor, escultor e gravador, Alex mora há 25 anos na Alemanha. De Mato Grosso do Sul, mantém a imagem que conheceu antes do concurso, quando pegou o trem da morte rumo a Bolívia. “Passei por aí quando ainda era só Mato Grosso, para fazer a clássica viagem para a Bolívia no famoso "trem da morte", quando eu era estudante e tinha acabado de entrar na faculdade”, explica.

A bandeira de Mato Grosso do Sul foi a única do currículo do pintor, “é difícil se criar novos Estados”, mas emblemática. Ao encontrar sul-mato-grossenses, Alex costuma contar a história de criação. “Provavelmente nos jornais daí de Campo Grande da época deve estar os nomes de todos nós. Daquela equipe sensacional, a maioria virou arquiteto e somente eu virei artista plástico”, comenta.

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