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Bancada de MS dividida sobre gestão Severino

Fabiana Silvestre e Josy Macedo / Campo Grande News - 23 de março de 2005 - 19:11

Polêmico nas declarações e comportamento, o presidente da Câmara Federal, Severino Cavalcanti (PP), não surpreendeu somente ao vencer o candidato governista, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT). Com afirmações conservadoras e estratégias políticas pouco ortodoxas – como ameaçar romper com o governo caso não tivesse indicado o deputado federal Ciro Nogueira (PI) para o Ministério das Comunicações – o pernambucano está longe de ser unanimidade no Congresso.
Ele divide opiniões, inclusive, entre a bancada federal de Mato Grosso do Sul. Nenhum parlamentar diz ter votado em Cavalcanti, embora Nelson Trad (PMDB) tenha preferido não revelar o voto.
O deputado Waldemir Moka (PMDB) não quis falar sobre a gestão do novo presidente. “Não quero comentar esse assunto. O meu único comentário é que o meu candidato era o Virgílio”, afirma o peemedebista.
Trad lembra que tem “anos de convivência com Severino na Casa”. “Em nada me surpreende o comportamento dele, nem a incontinência verbal. Severino colocou em votação propostas importantes, que certamente continuariam engavetadas se a presidência fosse ocupada por outro parlamentar”, diz, referindo-se à Lei de Biossegurança e à MP-232.
Para Trad, os três mandatos do pepista e a experiência dele na Mesa Diretora o credenciam a fazer um bom trabalho. “O mais importante é que ele tem uma postura de independência do governo, o que confere mais autonomia ao legislativo”, analisa.
Segundo o peemedebista, Cavalcanti está sendo alvo de preconceito por suas convicções pessoais e por ter vencido as “forças” do governo. “Ele se sobressai porque tem coragem de falar o que pensa e se torna alvo das indignações da mídia e de setores da população. Mas ele não aprova nada sozinho. As decisões são também da Mesa”, explica.
Mês atípico - O petebista Antônio Cruz, que afirma ter votado em Greenhalgh nos dois turnos, conforme orientação do partido, tem a mesma opinião de Trad e diz que é cedo para se tirar conclusões sobre a gestão Cavalcanti. “O primeiro mês é atípico, de adaptação, mas penso que Severino está indo bem. É autêntico, humilde e tem experiência na Mesa Diretora”, avalia.
Para Cruz, as declarações polêmicas do presidente têm sido retratadas de forma pejorativa na imprensa, o que demonstra, conforme o deputado, o preconceito quanto à “origem humilde” do parlamentar.
“É natural o Severino demonstrar seus posicionamentos pessoais. Mas ele, como presidente, está colocando as matérias em discussão, e isso é o importante”, afirma.
Geraldo Rezende (PPS), que participa da Mesa Diretora como terceiro suplente, lembra que a vitória de Cavalcanti foi uma reação do Congresso à indiferença do governo Lula.
“Apesar de conservador, apesar dos arroubos, Severino agilizou votações importantes. Somos de projetos opostos, mas temos que reconhecer que ele trouxe à tona projetos polêmicos, que certamente continuariam engavetados se o vencedor fosse outro parlamentar”, diz, também mencionando a Lei da Biossegurança, a MP-232 e até mesmo a comissão externa da Câmara Federal que apura as mortes de índios por desnutrição em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Conforme Rezende, Cavalcanti contribuiu para a formação do grupo de trabalho.
O deputado sul-mato-grossense destaca, no entanto, que é contra a proposta que aumentou a verba de gabinete dos parlamentares em 25% - O valor subiu de R$ 35 mil para R$ 43.750, elevando em R$ 4,448 milhões as despesas mensais da Câmara. “Medidas como essa provocam uma avaliação negativa da população sobre o legislativo federal”, explica.
Desgaste – Para o coordenador da bancada federal de Mato Grosso do Sul, Antônio Carlos Biffi (PT), mais que uma avaliação negativa, a gestão Cavalcanti provoca “um forte desgaste da imagem da Câmara junto à população”.
Biffi, que afirma ter votado em Greenhalgh, tece várias críticas ao novo presidente. “A avaliação desse primeiro mês é temerária. O desempenho é pífio, em cima de bravatas e muito distante do que o Brasil merece”, analisa.
Segundo o petista, Cavalcanti não tem nem mesmo controle e discernimento para conduzir as sessões. O quadro, conforme ele, deve se agravar ainda mais com o passar do tempo. “Agora a lua-de-mel com o governo já começa a se desgastar. É preciso apresentar serviço”, diz.
Biffi acredita que, para evitar novos deslizes, o PP deverá “blindar” Cavalcanti, restringindo o contato dele com a imprensa.
Quanto às sessões, Biffi diz que deverão ser comandadas pelos vice-presidentes. “Cavalcanti deve presidir mais as sessões de homenagens”, conclui.
Vander Loubet (PT) também considera Cavalcanti infeliz nas declarações, por “inexperiência e imaturidade”. “Ele está confundindo o partido com a presidência da Câmara”, explica, lembrando a ameaça de romper com o governo caso não pudesse indicar o ministro das Comunicações. “Desse jeito ele bota a faca no pescoço do presidente Lula. Isso sem contar as proposições inoportunas, como o aumento da verba de gabinete”, diz Loubet, que declara ter votado no candidato governista (Greenhalgh).
Para João Grandão (PT), o comportamento de Cavalcanti enfraquece a Casa perante a sociedade. “Podem imaginar que todos somos iguais”, analisa. O petista afirmou esta semana que os parlamentares que votaram pela eleição de Severino vão acabar avaliando as atitudes que ele vem tomando. “Não tenho nada contra a pessoa dele, mas à forma como está levando as coisas”. O deputado defendeu uma reação dos petistas, alegando que o gesto de Severino estaria repercutindo em toda a Câmara.
O deputado Murilo Zauith (PFL) não foi localizado, por telefone, para comentar a gestão Cavalcanti.

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