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Autoridades ainda não têm noção do prejuízo com motins

Campo Grande News/Humberto Marques e Marta Ferreira - 16 de maio de 2006 - 18:48

Minamar Junior
Minamar Junior

Na primeiro foto, o pátio do presídio transformado em
Por volta das 15h desta terça-feira (16 de maio), um grupo formado por parentes de detentos do Estabelecimento Penal de Segurança Máxima de Campo Grande ainda aguardava notícias sobre os presos que, no domingo, viram-se envolvidos na maior rebelião que o presídio já vivenciou. Hoje, a imprensa teve acesso pela primeira vez a alguns setores da Máxima após a crise, que se espalhou também em outros três grandes presídios de Mato Grosso do Sul – instalados em Corumbá, Dourados e Três Lagoas. Nessas quatro unidades, a realidade é semelhante: diante dos estragos, ainda não há uma estimativa de custos ou mesmo de gastos para recuperar as unidades prisionais. Em Dourados, os detentos do Harry Amorim Costa são obrigados a dormir no pátio, sem previsão para que retornem às celas.

Os muros da Máxima na Capital ocultavam um quadro difícil de ser descrito, após os presos promoverem uma “quebradeira” geral na instituição. Fernando Anunciação, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, estima que, das 179 celas existentes no presídio, pelo menos 60% foram destruídas no motim. Com isso, locais que já estavam superlotados com 18 detentos, agora comportam 30. Sem contar os setores de Saúde (onde, de 21 alojamentos, apenas sete estão operacionais, e os gabinetes médicos e odontológicos foram totalmente destruídos) e a área Administrativa.

Nessa divisão da Máxima o prejuízo foi total, atingindo não apenas computadores e material de escritório, como também os prontuários e as fichas dos detentos. O resultado, segundo um agente penitenciário, é que toda a documentação terá de ser novamente levantada do zero, a partir dos processos arquivados nos Fóruns e Comarcas.

Logo na entrada do maior presídio em funcionamento na Capital, os visitantes se deparam com as quase mil armas utilizadas durante a rebelião – entre facas artesanais, cortadores de grama, tesouras, pinças, lanças, foices e equipamentos dentários, além de muitas cordas. À frente, na entrada do setor administrativo, ainda hoje é freqüente a entrada e saída de operários e agentes, carregando consigo o material destruído, boa parte ainda em chamas. No prédio, as salas de reunião e do diretor-geral da unidade foram as menos poupadas pelos amotinados. O calor das chamas literalmente derreteu as paredes, tornando evidente que “o mais energúmeno dos seres vai saber que não tem condições de trabalho por aqui”, como relatou, indignado, um agente que aguardava a presença da PM para dar suporte às ações de segurança.

Ao caminhar pelo corredor que dá acesos aos pavilhões, o que se encontra é um quadro similar. A gráfica, operada pelos presos, teve os equipamentos atacados. Na cozinha, resquícios de alimentos espalhados pelo chão são a prova dos saques promovidos por alguns presos. Nas celas que ainda se mantêm operacionais, os detentos gritam por água e remédios. Enquanto o Corpo de Bombeiros cuida de regularizar o abastecimento – apesar dos canos danificados durante a revolta – enfermeiros tratam de alguns pacientes dentro das possibilidades. “O atendimento médico e odontológico vai ter de ser feito em outro lugar”, relatou anunciação.

Cerca de 150 presos foram removidos do presídio da Capital, encaminhados para o Centro de Triagem, Instituto Penal ou Presídio Militar. Com isso, a Máxima ainda serve de “lar” pra 1,2 mil apenados. Os responsáveis pela segurança dos mesmos, conforme o presidente do sindicato dos agentes, aguardam para ter condições de trabalho, com o suporte da PM para garantir sua integridade física. Informações extra-oficiais indicam que 60 policiais estão no presídio. Porém, são utilizados para todas as demandas do sistema penal, incluindo transferências e escoltas.

Interior – Em Corumbá, onde a rebelião durou menos tempo, os estragos foram menores e os presos p voltaram às celas normalmente. Em Três Lagoas, onde a ação durou 25 horas, assim como na Capital, o diretor do presídio, Willian Emanuel Barbosa, disse que os prejuízos ocorreram em menor escala e não atingiram as 80 celas.

De acordo com ele, três computadores foram quebrados, a marcenaria onde parte dos detentos trabalha foi parcialmente destruída e o almoxarifado onde os alimentos são guardados também foi atingido. Barbosa disse que ainda não é possível calcular o tamanho do prejuízo.

Punição –A Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) ainda não aplicou punições específicas aos homens apontados como comandantes das ações. Em Três Lagoas, pelo menos oito condenados foram identificados como os líderes do motim, mas ainda não houve punição ou transferência. As únicas decisões anunciadas até agora foram a suspensão das visitas de quarta-feira e a suspensão do banho de sol a que os internos têm direito todos os dias.

O diretor-geral da Agepen, Luiz Carlos Telles, disse ao Campo Grande News que, por enquanto, é impossível ter noção dos estragos. De acordo com ele, primeiro é preciso resolver onde colocar os presos das unidades mais danificadas. .

Em Dourados, uma das alternativas em estudo é transferir parte dos detentos para o presídio federal inaugurado em Naviraí em março, e que ainda não foi ativado porque faltava estrutura. Telles não explicou como isso deverá ser feito. A unidade tem 72 celas, vaga para 330 presos e custou R$ 5 milhões aos cofres públicos.

Armas – As operações de varredura realizadas no presídio confirmaram o que as cenas das rebeliões já tinham mostrado: que as ações de repressão não conseguem nem desarmar os presos nem impedir a entrada de celulares. Em Campo Grande, foram perto de mil armas artesanais encontradas, e há a suspeita que os detentos possuem três armas de fogo. Em Três Lagoas, cerca de 250 e em Corumbá, além de um número de armas não informado, foram encontrados seis celulares, 31 rádios portáteis e 31 aparelhos de televisão, segundo as informações do site Corumbá On Line.

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