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As mudanças sociais influenciam o relacionamento amoroso

Agência Brasil - 06 de março de 2004 - 13:26

Brasília - Além de ser um dos sentimentos de mais difícil conceituação, o amor, principal amálgama do relacionamento humano, tem experimentado um longo período de turbulência que, para muitos, é o responsável pela fragilidade e deterioração do relacionamento entre as pessoas. Embora universal e inerente ao ser humano ele não conseguiu ficar imune as profundas alterações de valores ocorridas nos últimos séculos.

De acordo com a psicóloga Marta Helena de Freitas, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), parte dessa alteração sofrida no nosso \"sentimento maior\" está no século 20, quando ocorreu um processo social que ficou conhecido como secularização, termo derivado do movimento de separação da igreja do estado, e que trouxe para as pessoas uma marcante sensação de descrença para com os valores religiosos.

\"Com a separação dessas duas entidades houve um avanço científico e tecnológico que trouxe no seu bojo a mudança de uma série de valores. A sociedade que era mais gregária, com valores voltados para as relações e para a convivência, passou a se voltar para o conhecimento, para a
produção, para o domínio da técnica. Com isto, as pessoas foram se distanciando uma das outras, já que dirigiam seus focos mais para o terreno prático do que humano\", explica Marta.

Além desse aspecto, a professora comenta que o comportamento do ser humano é multideterminado o que pode gerar uma certa subjetividade. \"Se antes a atenção era voltada para o grupo, hoje as pessoas são mais voltadas para si mesmo\", diz. Há um processo de emancipação do indivíduo, ao mesmo tempo em que ele se torna mais autônomo, se desloca mais aos vínculos das relações em prol de alcançar seus objetivos mais individuais, atingindo o
individualismo.

Para Rosana Rodrigues Gomes da Silva, pedagoga e pesquisadora do amor no interior paulista, essa mudança do sentimento amoroso ao longo dos séculos vem sendo diferente devido a mudança da concepção de vida das pessoas no cotidiano. Para ela, o amor está em fase de evolução. \"Se pensarmos nos primórdios da história, o homem cuidava da caça e tinha uma atividade predominantemente fora da comunidade onde ele precisava prover o alimento para a família. Já a mulher cuidava do ambiente familiar e das crias. Com o passar do tempo a essência permanece, a característica do homem ser o provedor e a mulher é polivalente, ainda se mantêm. Mas, aos poucos observamos que os valores estão se modificando\", comenta.

Um outro aspecto de viva influência no nos relacionamentos amorosos de hoje é a emancipação feminina conquistada na década de 70. Como o homem era o provedor de todo o sustento da família e à mulher estava reservado um papel mais doméstico, portanto menos visível, esse movimento radical trouxe alguns fantasmas para ele. Hoje, a mulher deixou de ser só ela o alvo da conquista e virou caçadora; conquistou mais autonomia e confiança, o que tem modificando as relações entre os sexos. \"Cada ser humano tem características peculiares, apesar da mulher estar buscando uma certa igualdade, acredito que cada um tenha a sua função. Por enquanto o homem não consegue gerar uma vida como a mulher\", exemplifica Rosana.

Marta Freitas concorda e acrescenta que o homem age tal qual seus antepassados. Equilibrar um novo papel é uma tarefa complexa e é preciso se organizar. \"A vida doméstica mudou de ambos os lados. A mulher passou a ter outras responsabilidades, ela está dividida entre família, estética e trabalho, tornando-a sobrecarregada. Uma série de conflitos vieram a tona, pois muita dessas mulheres vieram de famílias que tinham outros valores e também porque mobilizou a imagem masculina\", relata.

Na opinião da psicóloga, estamos passando por um processo \'decartiano\' de relacionamento, ou seja, uma síntese do momento e, mais para frente um outro momento. \"Acredito que se for me pautar em algumas pessoas que tentam relações, quebram relações e depois reconstroem essas relações, estas ficam mais maduras e serenas. Depois do sofrimento as pessoas mudam, ficam mais maduras, os relacionamentos se tornam diferentes, há renuncia e há entrega\", alega.

Marta acredita que por meio desses valores observados é possível ter relações duradouras, mas estas diferentes do que eram antes. As relações estão se reorganizando no novo contexto social. \"Por se tratar de um período de reorganização, nossos filhos já terão resolvido no futuro. Isso favorecerá a que se tenha maior tendência para uma relação mais estável entre as pessoas. Os filhos tendem a reproduzir o modelo dos pais ou fazer o oposto caso não de certo em casa. O mundo tende a refletir, a igreja irá se tornar mais criativa, resgatando a fé, retirando os dogmas e resgatando os valores perdidos\", afirma.
Camila Cotta
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LCC

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