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Geral

As boas e más lembranças de Cafu na Seleção Brasileira

CBF News - 20 de novembro de 2004 - 08:31

Cafu jamais vai esquecer o dia 29 de abril de 1998. No Maracanã lotado por 99.6907 pagantes, o lateral que quatro anos antes fora tetracampeão do mundo nos Estados Unidos passou o amistoso contra a Argentina, o de despedida para a Copa da França, sendo perseguido pelos torcedores. Mal pegava na bola, o som ensurdecedor da vaia, seguida de um coro ofensivo, o acompanhava, sem trégua.

Mais do que atingir Cafu, a manifestação hostil deixou amargurado um torcedor que estava no estádio pela primeira vez na vida: seu Célio, o pai de Cafu, que fora ao Rio de Janeiro assistir ao jogo.

- Foi um momento muito difícil. O Maracanã todo me xingando e vaiando, eu só pensava no meu pai, que estava no estádio. No final do jogo, ele veio falar comigo, tentando me animar, mas percebi que estava quase chorando. Espero que nunca mais um jogador passe por aquilo - recorda.

Números de vencedor

O jogador que o torcedor naquele dia hostilizou de maneira tão contundente é o capitão do pentacampeonato mundial. Respeitado pelos companheiros, com títulos nos clubes por onde passou, Cafu é dono de uma marca que nenhum jogador de Seleção Brasileira conseguiu atingir: chegar a três finais de Mundial. Foi também quem mais entrou em campo com a camisa da Seleção Brasileira: 142 vezes, contabilizados os sete jogos que fez pela Seleção Olímpica. Além disso, é duas vezes campeão do mundo.

Titular absoluto da Seleção de Carlos Alberto Parreira, Cafu caminha para atingir marcas que serão inéditas: chegar à quarta final de Mundial e ser o único capitão a erguer duas vezes a Taça Fifa. Os números de vencedor fazem de Cafu uma pessoa o exemplo de quem soube superar todas as adversidades que a vida e a carreira lhe impuseram. E não foram poucas.

- A minha vida toda foi assim. Sempre tendo de dar a volta por cima. Até hoje, mesmo com tudo o que conquistei, ainda sou criticado. Só não entendo por que, já que nunca fiz mal a ninguém. Ou talvez seja por isso mesmo - diz.

A declaração de Cafu não tem o tom de amargura que as palavras possam sugerir. Ao contrário, vem à tona sem ressentimento e fica sem importância alguma diante de tudo aquilo que ele, aos 34 anos, construiu na carreira. De tudo o que viveu, sobrou o sentimento de orgulho.

- Sou feliz, realizado na profissão e na vida. Tenho uma família maravilhosa, somos muito unidos, e só tenho motivos para me orgulhar do que fiz até hoje - diz.

Orgulho maior ele sente toda vez que entra em campo para jogar pela Seleção Brasileira. Sempre que é chamado - e foram 171 convocações - Cafu recebe como se fosse a primeira.

- Não tem nada que se compare a vestir a camisa do Brasil. Não entendo até como chegam a dizer que os jogadores que atuam na Europa não têm mais motivação para isso. Para jogar pela Seleção, a gente faz de tudo: vem da Europa depois de um jogo, treina num dia e volta no outro, isso tendo de viajar 12, 13 horas e com diferença de fuso, como aconteceu agora para enfrentar o Equador. Mais motivado do que isso, impossível - diz.

Motivação, portanto, não falta e, se depender de Cafu, aos 135 jogos que têm pela Seleção Principal serão somados talvez mais três dezenas. Cafu quer ser o capitão da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.

- Entre querer e conseguir, claro que existe uma grande diferença. Mas, no momento, me sinto em perfeitas condições físicas para ir à Alemanha. Vamos ver como estarei em 2006 - diz.

Fundação Cafu

Para quem está, como já foi dito, habituado a superar dificuldades, é melhor não duvidar. Cafu nasceu e foi criado em um dos bairros mais carentes de São Paulo, o Jardim Irene, comunidade que é referência na sua vida e onde até hoje tem muitos amigos.

- Sempre que venho ao Brasil, vou ao Jardim Irene. Continuo com muitos amigos lá, fora os muito também que estão presos ou foram mortos - conta.

No Jardim Irene, Cafu conviveu com o lado marginal da vida muito de perto, mas teve forças para descobrir outros caminhos, proporcionados pelo futebol. Mas sem nunca dar as costas ao passado. A Fundação Cafu (informações no site fundaçãocafu.org.br) está presente na comunidade como uma forma de auxiliar as pessoas, dar-lhes alternativas na vida.

- Há uns 10 anos vinha colaborando com algumas instituições de assistência social. Então resolvi ter a minha própria Fundação, para atuar no Jardim Irene. Estamos conseguindo desenvolver um trabalho importante, que beneficia no momento 346 pessoas, com cursos de inglês, informática, arte, além do esporte - diz.

O Jardim Irene faz parte da vida de Cafu, que tem na sua família a base, a sustentação que lhe dá tranqüilidade para continuar jogando futebol e perseguindo objetivos. Cafu fala com orgulho dos pais, irmãos, da mulher Regina e dos filhos Danilo, Wellington e Michele - os meninos estão na escolinha do Parma, na Itália, e, segundo Cafu, levam jeito para o futebol.

A mulher Regina, mais do que ser motivo de orgulho, foi por ele reverenciada para o mundo todo. No dia 30 de junho de 2002, após a final contra a Alemanha vencida pelo Brasil por 2 a 0, Cafu repetiu o gesto de seus antecessores - Bellini, Mauro, Carlos Alberto Torres e Dunga - e ergueu a Taça Fifa como capitão do Brasil. Aproveitou para mostrar o quanto amava a mulher.

- Naquele momento de levantar a taça, não dá para pensar em nada. Aquela declaração (Regina, eu te amo!) saiu de maneira espontânea, por isso foi tão bonito e as pessoas gostaram tanto - diz.

Dois anos passados, Cafu e Regina continuam recebendo mensagens de pessoas de todos os cantos do mundo. A maioria, mulheres, contando o quanto aquele gesto foi admirado.

- Algumas mulheres brincam que chegaram a sentir inveja da Regina, queriam se sentir amadas daquele jeito também - conta Cafu, relembrando o momento que considera mais marcante da vida e da carreira.

- Só posso dizer uma coisa. É muito bom ser campeão do mundo. Sendo capitão, então, não dá para dimensionar.

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