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Geral

Artigo: Saudade

Alcides Silva - 17 de fevereiro de 2005 - 08:10

Saudade é sentir a dor da ausência, é sofrer a angústia da separação. Não é só lembrança e nem somente um passado que insiste em ser presente ou um sentimento de perda. É muito mais: é um chorar escondido; um sorrir em lágrimas; um reviver de alumbramentos, uma lança que punge; uma âncora que revigora; um doce sofrer. É ter presente o que já não é; é não saber como passar os dias, que se encompridam em minutos sem fim; é não conter o suspiro. E a saudade sempre tem um nome e uma imagem: a minha, chama-se Eliza, a companheira de uma longa vida, que os Céus, carentes de luzes, tomaram-me de mim no domingo passado, para ornar-se com mais uma estrela, a mais bela do firmamento, pelo exemplo de vida que ela soube ser.
Lingüisticamente, porém, e esse é o tema da semana, saudade é um idiotismo, coisa que nada tem a ver com idiota ou idiotice, ou a ausência/presença da mulher amada.
O significado primitivo de “idiota” era a “pessoa comum”, o “homem do povo”. João Ribeiro, em “Curiosidades Verbais”, explicou: “Idiota, entre os gregos, era chamado o homem particular, por oposição ao que tinha ofício ou encargo. Mais tarde e por igual razão, eram chamados assim os que formavam a maioria do povo. Nesse sentido encontramos nos nossos clássicos o termo por vezes ligado a outro- o povo idiota – para designar os leigos e toda e gente não letrada e alheia à República ou ao governo. Fixou-se, então, o sentido de que idiota era não letrado, o que não sabia ler nem escrever. Havia nas aldeias portuguesas juízes idiotas, simples juízes de paz e de quem não se exigia mais que os bons costumes, a experiência, a probidade”.
Hoje idiota é o indivíduo pouco inteligente, incapaz de coordenar idéias, tolo, pateta. Uma pessoa que numa circunstância particular age de maneira insensata, desastrada ou irresponsável.
“Idiotismo” (do grego idiotismós), primitivamente, significava expressão especial a uma língua, uso próprio de um povo, e através do latim (idiotismus Há determinados modos de construção, de concordância e de regência que não encontram similares em outras línguas. São idiotismos (idiomatismos), formas privadas do português. Vejamos alguns:
1 – A mudança de sentido do adjetivo de acordo com a sua colocação: Um homem nobre - Um nobre homem; Um grande homem - Um homem grande; Um homem pobre - Um pobre homem
2 – A conversão de afirmativa em negativa de determinados pronomes indefinidos: Alguma coisa - Coisa alguma
3 – A posposição do sujeito ao verbo: Urge não demorar; Surgindo a noite
4 – A existência de verbos sem sujeito: Chove – Faz dois anos
5 – O objeto direito pleonástico: Os Céus tomaram-me Eliza de mim
6 – A omissão do sujeito quando já indicado na desinência: Creio em Deus – Acreditamos no Brasil
7 – Emprego de voz passiva ou particípio passivo com significação ativa: Ele tinha chegado - Homem viajado - Mulher instruída
8 – Divergência de número (singular e plural) entre o verbo com o sujeito: Seis meses é uma eternidade
9 – A mudança do sentido de acordo com a mudança do gênero do artigo: O cabeça - A cabeça; O cura - A cura; O lente - A lente
10 – A alteração do sentido do vocábulo determinada pela mudança do número: Bem - Bens; Féria - Férias
São dois os idiotismos fonéticos da língua portuguesa: o ditongo nasal ão e o x com valor de ks (anexo, fixo).

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