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Artigo: Os contos de fada e a personalidade infantil

Rogério Tenório de Moura - 18 de fevereiro de 2008 - 07:44

Os conteúdos dessas histórias infantis trazem a oportunidade da criança evoluir como ser humano, entendendo o seu mundo através da fantasia e da sua própria imaginação. Os livros infantis estão intimamente ligados com o processo de desenvolvimento humano, ajudam o infante nos seus momentos de inquietações, nas suas resistências contra os seus pais, nas suas decepções, ao descobrirem os defeitos dos adultos, e no seu medo de deixar a infância. Auxiliam a criança até chegarem à vida adulta, contribuindo de forma positiva na sua formação pessoal.
Os pais não devem radicalizar os contos de fadas, achando que somente as histórias que ouviram e gostaram na sua infância são “aquelas” adequadas aos seus filhos, principalmente porque cada criança tem problemas e valores diversificados, então um conto que chama atenção de uma criança não terá o mesmo valor para outra. Cada criança é dotada da sua individualidade, cada uma tem o seu próprio anseio, então o conto de fadas não pode tornar-se uma “receita” indicada para todos os tipos de criança. As reações infantis estão dentro do seu subconsciente, portanto mesmo que um pai consiga entender o porquê de seu filho ter se identificado com o conto de fadas, deve manter-se calado. Não é direito dos pais contarem aos seus filhos o motivo pelo qual gostaram tanto de determinado conto, esse fato seria uma invasão à privacidade infantil.
A criança não está preparada para entender com maturidade como o seu problema foi resolvido através do conto de fadas. Esse fato só poderá ser desvendado quando ela estiver mais madura e mostrar vontade de entender como resolveu tal problema na sua infância. Trazer uma explicação precisa para a criança seria sem dúvida, uma maneira de chocá-la e de desencadear outro problema na sua personalidade, já que a mesma não possui um deferimento concreto nessa fase da sua vida.
O conto de fadas está intimamente ligado à essência do ser humano, aos seus sentimentos mais escondidos, à história de um povo. Todos esses fatores associados com o maravilhoso fazem com que os contos de fadas jamais sejam esquecidos pela humanidade.
Os contos de fadas falam de todas as inquietações do espírito humano, de uma forma natural sem broncas ou menosprezo aos mais inusitados e terríveis dos sentimentos. Os personagens vivem num mundo de ilusões - a natureza conversa e toma atitudes humanas e os seres inanimados possuem vida. Toda situação vivida pelos personagens está intimamente associada ao mundo infantil, por isso a criança identifica situações reais e se apaixona rapidamente pelas histórias.
Os personagens das histórias são extremamente sedutores, até mesmo pelo fato de não possuírem apenas características positivas. O mundo do conto de fadas não é somente construído de belas princesas e príncipes e de palácios encantados. Existem também os personagens maus, esses são identificados pelas crianças ao compará-los, mesmo que inconscientemente, com as pessoas de sua realidade.
Os contos falam de medos: o medo que a criança sente de ficar sozinha no escuro, de gritar e não ser ouvida; o medo de perder os seus pais e não ter mais com quem contar; o medo de ser menosprezada diante dos olhos de outras crianças; o medo de ser tratada como um ser inferior diante da superioridade dos seus pais; e o medo cruel do adulto aproveitar-se do seu corpo, dizendo que sexo é também um ato de amor.
Falam de amor: o amor da criança com o seu animal e a falta de entendimento do adulto com esse sentimento; o amor pelos seus pais que pode ser decepcionante ao descobrir os defeitos dos mesmos; o amor por outras crianças; e o amor incondicional pela fantasia e pelos seus brinquedos.
Falam de dificuldades: a dificuldade de viver a falta de compreensão dos pais diante dos seus problemas; a dificuldade de encarar as outras crianças; e a dificuldade de conviver com a vergonha de expor as suas incapacidades e os seus sentimentos.
Também falam de descobertas: da descoberta de poder resolver situações diárias; da descoberta de perceber que outras crianças podem ter os mesmos problemas que ela; da descoberta do seu próprio valor, independentemente da sua raça e classe social.
Na verdade o conto de fadas tem uma infinidade de temas e propósitos e todos eles seguem a mesma direção: falar com o eu infantil e ajudar os pequenos a resolverem seus conflitos reais através do subterfúgio da fantasia.

Rogério Tenório de Moura
é licenciado em Letras pela UEMS,
especialista em Didática Geral e em
Psicopedagogia pelas FIC.



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