Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva

O uso da vírgula

O jornalista Cláudio Gazetta, diretor editorial do site Ethosonline, pede-me que volte a falar da vírgula, que, segundo ele, é um dos maiores problemas para quem escreve um texto. Não dá para resumir no espaço restrito desta coluna, em um único comentário, todas as regras e princípios de como usar corretamente o tal sinal gráfico, até porque a decoreba não funciona para o emprego desse sinal gráfico. São necessárias muitas leituras de bons autores.
Proponho que hoje nossa atenção se fixe exclusivamente da vírgula em períodos simples, aqueles compostos por uma única oração. A análise do emprego em períodos compostos ficará para a próxima semana.
Para início de conversa, a vírgula representa sempre uma pequena pausa, tanto na oração como na leitura. Não haverá vírgula se não houver oração ou frase.
Quando for necessário separar termos de uma mesma oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos:
1. Para isolar adjunto adverbial antecipado. Adjuntos adverbiais, na lição de Celso Cunha, são termos que denotam alguma circunstância do fato expresso pelo verbo ou intensifica o sentido deste, ou de um adjetivo, ou de um advérbio. As principais circunstâncias são as de tempo, lugar, causa, companhia, modo, meio, afirmação, negação, intensidade, finalidade, dúvida, condição etc.
Os adjuntos adverbiais estarão antecipados quando estiverem no início ou no meio do período: Em minha alma, a saudade é imensa.
2. Para isolar o aposto explicativo: Aquela morena, de olhos amendoados, foi a sua perdição.
3. Para isolar o vocativo: Que dor profunda, meu Deus.
4. Para isolar os objetos pleonásticos: Aos puros e mansos de coração, conceda-se-lhes a graça eterna. (Obs.: haverá objeto pleonástico quando um verbo possuir dois complementos que se referem a um elemento só).
5. Para isolar os elementos repetidos: De nada, absolutamente nada, valeram os conselhos que lhe dei.
6. Para isolar o predicativo do sujeito deslocado, quando o verbo não for de ligação: A platéia, entusiasmada, aplaudiu o cantor.
7. Para separar elementos coordenados: Elementos coordenados são termos que exercem a mesma função sintática: Geralmente os políticos modernos são discursistas, declamadores, cansativos, frívolos, ocos, triviais.
8. Para isolar conjunção coordenativa intercalada - (mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto, logo, portanto, por conseguinte, então): Era noite, porém não muito escura.
9. Para indicar a supressão do verbo já expressado: Uns gostam dos olhos, outros, da remela.
10. Para separar, nas datas, o lugar: Brasília, 10 de janeiro de 2006.
11. Para isolar as expressões explicativas (isto é, a saber, ou melhor, melhor dizendo, quer dizer): Gozarei férias no mês que vem, ou melhor, a partir de 10 de fevereiro.
12. Para separar frases iniciadas pelas expressões e sim, e não, mas sim: Se beber não dirija, e sim, peça que outrem o faça.
Voltarei ao assunto na próxima semana.