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Artigo: O espírito do Caminho de Santiago de Compostela

Por José Slikta - 08 de maio de 2012 - 15:44

O que leva alguém a trilhar o Caminho de Santiago de Compostela? Se perguntarmos aos que o escolheram, encontraremos as razões mais diversas: aventura, turismo, curiosidade, misticismo, religiosidade, esporte, a busca de uma solução milagrosa para um problema pessoal ou um desejo profundo de mudança numa vida tediosa e frustrante. Seja qual for o motivo, dificilmente alguém voltará sem marcas no corpo ou no espírito.



Muitos peregrinos voltam sem conseguir seus objetivos. Com bolhas nos pés, lesões musculares, tendinites, exaustão, desânimo. Mas, o bom peregrino voltará com pelo menos duas lições.



O caminho ensina a necessidade do preparo físico e da prudência. O sol escaldante, pernoites em albergues, ter que lavar a própria roupa e esperar sua vez no banho podem ser interpretados como uma verdadeira aula de humildade. Dormitórios coletivos, sons estranhos e odores fortes. Raças, religiões, comportamentos diferentes. Uma bela lição de tolerância e de diversidade.



Em alguns dias, insensivelmente, o Caminho nos promove de aprendiz de caminhante a historiador fascinado por monumentos e catedrais medievais. Verdadeiros filósofos que reavaliam suas vidas. Sociólogos que observam os companheiros de caminhada. Ecologistas se despertando para as belezas do Caminho.



Na verdade, tudo não passa de um grande preparo para a chegada à Santiago, absolutamente emocionante. E é também (e principalmente) um grande preparo para a nossa volta para a casa.



Se conseguirmos assimilar, pelo menos em parte, as lições aprendidas no Caminho, com certeza a retomada de nossa rotina será muito mais amigável. Conseguir resgatar em nós mesmos sentimentos como humildade, tolerância e prudência (sensações que costumam ficar adormecidas em nosso cotidiano) é o nosso maior desafio.



Um de nossos amigos que já percorreu o Caminho é budista. O peregrino que recebeu a compostelana na minha frente era judeu. Minha família e eu, somos católicos. Assim resume-se o espírito único que se forma ao longo do Caminho.



Volta-se transformado. Renovado. Superado. E o melhor de tudo é que este espírito que se constrói ao longo do Caminho nunca mais se dissipará. Ele acompanha cada peregrino para sempre, fazendo de nós pessoas cada dia melhores, em busca de paz para nós e para os outros. Uma experiência de transformação que certamente se perpetuará pelo resto de nossos dias.



José Slikta é membro da ACACS/SP - Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela.

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