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Artigo: o carnaval e seus efeitos auditivos

Angela Ribas - 18 de fevereiro de 2004 - 09:05

Esta época do ano no Brasil, onde comemora-se o Carnaval, é realmente uma festa. Bandas, trios-elétricos, bailes, desfiles em escolas de samba... As pessoas buscam diversão, emoções novas, querem desopilar suas angústias e estresses acumulados, e exageram em um aspecto relacionado à saúde que extrapola o excesso de atividade física, o uso de álcool ou a falta de sono: trata-se da exposição ao ruído ou som muito forte.
A exposição a ruídos de intensidade suficientemente fortes pode resultar em danos para o organismo humano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (1987), um ruído de até 50 dB(A) pode incomodar, mas o organismo se adapta com facilidade a ele. A partir de 55 dB(A) é possível a ocorrência de estresse leve e desconforto. A partir de 70 dB(A) as reações de estresse são mais acentuadas e ocorre um início do desgaste do organismo, com um aumento de ocorrência de várias patologias. O limiar de 80 dB(A) leva a uma sensação de prazer momentâneo, pela liberação de endorfinas. Recomenda-se o uso de protetor auditivo quando a exposição excede 85 dB(A), principalmente se a exposição for prolongada.
Os danos na audição devido à exposição permanente à ruído elevado é cumulativo e irreversível, sendo uma das maiores causas de surdez permanente adquirida.
Vários estudos têm procurado analisar os efeitos do ruído sobre as pessoas. A ação geral do ruído pode se exceder no comportamento do sistema neurovegetativo. Inúmeras observações clínicas e experimentais têm sido feitas neste sentido, levando alguns autores a atribuir à influência do ruído algumas afecções consideradas como verdadeiras doenças de adaptação ou a expressão de instabilidade neurovegetativa, como por exemplo, a dispepsia (azia), úlcera gastroduodenal, distúrbios digestivos, aerofadiga, obstipação, hiperreflexia, inquietação, estado de angústia, aumento do tônus muscular e o prejuízo energético.
Outro dano importante é a perda de audição temporária ou permanente. A perda auditiva pode ocorrer de duas diferentes maneiras: tanto por exposição prolongada a ruídos ambientais de risco (Perda Auditiva por Indução de Ruído) como por uma exposição de curta duração ou explosão de um ruído intenso (Trauma Acústico).
Muitas vezes, a perda auditiva é o último sinal de que alguma coisa não vai bem com o organismo de uma pessoa exposta ao ruído. Antes de sentir o déficit auditivo, o indivíduo reclama de outros sintomas, que podem identificar a influência do ruído sobre seu corpo.
Segundo Lacerda (1971) o ruído age sob o organismo humano de várias maneiras, prejudicando não só o funcionamento do aparelho auditivo como comprometendo a atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto. Todos conhecemos, por experiência própria, as sensações determinadas pela proximidade de fonte sonora de elevada intensidade, seja sob a forma de tensão dolorosa da cabeça, de contração dos músculos faciais, seja como distúrbios auditivos ou visuais, sensação de contração torácica, palpitações e mal-estar. Os ouvidos ficam zunindo, aparece a cefaléia (dor de cabeça), o atordoamento e, sobretudo, a sensação de fadiga semelhante à que ocorre após intenso esforço. Experimentamos a ação desagradável do ruído ao visitarmos fábricas ou participarmos de festas, discussões, debates acalorados, ou ao entrarmos em ambientes movimentados e barulhentos, como no caso das festas e bailes promovidos na época do Carnaval.
Pesquisas recentes no Brasil têm apontado para o som forte produzido por trios elétricos, por exemplo. A perda de audição, pode a primeira vista, não trazer grandes consequências para o seu portador, afinal, ela não aparece. Porém, relatos de pessoas que apresentam pequenas perdas auditivas apontam para grandes dificuldades, que vão desde o fato delas não entenderem o que é falado, o que pode gerar isolamento, problemas de relacionamento familiar e outros, até a perda de emprego ou dificuldades para conseguí-lo. Muitas funções, em nosso mundo moderno, exigem capacidade auditiva íntegra, e pessoas com leves perdas de audição já encontram aí uma barreira para inserção no mercado de trabalho.
Sabemos que o som forte causa prazer, e que deve ser bastante chato ir a um baile de Carnaval, ou correr atrás de um trio-elétrico que toque música bem baixinho, mas é importante alertarmos as pessoas para os riscos auditivos que correm, já que acreditamos ser a audição um bem precioso, que deve ser muito bem cuidado. Afinal ouvir bem é sinônimo de boa saúde.


Angela Ribas, fonoaudióloga e professora
da Universidade Tuiuti do Paraná
Diretora-secretária do CFFa
CRFa PR 4698


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