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Artigo: Minha dor indignada

Juarez Marques Batista (*) - 03 de outubro de 2012 - 18:45

Minha dor indignada

Recentemente vivi a experiência mais dramática de minha vida. Fui obrigado a conviver com a dor e a revolta pelo bárbaro assassinato de meu neto, Leonardo Batista Fernandes, juntamente com um amigo, Breno Silvestrini. Esse crime abalou não somente nossas famílias, mas causou perplexidade entre a população de Campo Grande e de todo o País. Durante vários dias perdemos o eixo, ficamos incrédulos e psicologicamente abalados. Muitos de nós indagamos em silêncio, remoendo nossa perplexidade, perguntando-nos qual o limite da bestialidade humana, que sociedade é esta que gera monstros que ceifam vidas de jovens por motivos banais, deixando um rastro de tristeza, trauma e desespero irreparáveis para todo o sempre entre aqueles que permanecem seguindo pela senda da existência.

Acredito que a violência em nosso País não pode ser mais encarada como algo etéreo que pertence apenas ao noticiário do dia a dia. A violência é concreta, brutal, crescente, atinge a todos, em todos os lugares, não importando classe social, raça, religião, profissão ou idade. E o mais grave do que isso é a sua banalização, fazendo-nos crer que se trata de um problema sem solução, impossível mesmo de ser enfrentado, pois não há como sonhar com uma cultura de paz num ambiente em que os valores morais foram solapados, os traficantes e criminosos assumiram o controle de várias esferas do Estado e os governos se mostram impotentes para inverter um processo nefasto que se tornou socialmente crônico.

Estamos numa encruzilhada. Não podemos mais ficar insensíveis ou indiferentes. Temos que reagir, apesar do sentimento dolorido que muitas vezes nos torna impotentes, destruindo inclusive nossas perspectivas de futuro. Tenho lutado nos últimos dias para que esse drama pessoal e familiar ultrapasse os limites do luto íntimo e se una ao coro dos cidadãos indignados desse País.

Temos que gritar em alto e bom som que o Governo brasileiro está sendo derrotado e humilhado na luta contra a violência urbana, falhando institucionalmente em defender direitos inalienáveis das pessoas para preservar o princípio do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade.

Queremos abrir este debate com todos os homens e mulheres de bem para que as feridas que nos marcam profundamente não sejam simplesmente cicatrizadas, caindo no esquecimento. Não queremos somente a punição exemplar dos criminosos. Queremos que a nossa indignação se capilarize pelo tecido social e provoque reações e soluções institucionais.

Esta iniciativa, que cognominamos “Pedido de socorro de uma sociedade acuada pela violência”, visa discutir amplamente o tráfico de drogas que não tem encontrado resistência correspondente à sua audácia e crueldade, especialmente diante da inércia governamental, cujos representantes tem feito vistas grossas ante a imoralidade criminosa do Governo da Bolívia que, além de fazer exigências descabidas em prejuízo do interesse nacional, vem “legalizando” os automóveis que aqui são roubados e logo trocados por cocaína e outras drogas.

Na origem de muitos assassinatos – entre os quais o de Leonardo e de Breno – subsiste esta lógica perversa, que no fundo parece fazer parte de uma política de conluio entre governos que se afinam ideologicamente e que, por isso, transigem e permitem a criminalidade desenfreada. O Brasil precisa agir ante os tribunais internacionais visando estancar essa sangria de bens e de sangue de brasileiros, vitimas dessa condenável ação criminosa. O Brasil precisa estar mais presente nas fronteiras, para a defesa não só do nosso território, mas para o combate ao tráfico de drogas, o contrabando e o descaminho.

Nossa dor tem que gerar consequências práticas. Nossa revolta deve ser mitigada com a instituição de medidas concretas surgidas do clamor popular contra a violência. O conceito de cidadania plena deve ser aplicado para impedir o crescimento do tráfico de drogas e da consequente criminalidade que vem ocorrendo na região de fronteira. Nossa vulnerabilidade é explícita. Nosso medo é crescente. Queremos mais ações concretas e menos promessas. Só assim poderemos construir um Brasil melhor para nossos filhos e netos. Ao contrário, teremos que aceitar que a barbárie e a impunidade são invencíveis. E assim nossa tristeza e revolta não cessarão jamais.

Advogado e ex-secretário de justiça (*)

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