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Artigo: Língua portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva/O Jornal de Santa Fé do Sul - 20 de janeiro de 2005 - 10:14

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva

Eu computo, tu computas, ele computa?
Nenhum dos três. O verbo computar é defectivo. No presente do indicativo só se conjuga no plural: nós computamos, vós computais, eles computam. Substitua por: estou computando, estás computando, está computando. No subjuntivo não há problema: que eu compute, que tu computes, que ele compute.
Eu coloro (ó) ou eu coloro (ô)?
Nenhum dos dois. O verbo colorir é defectivo, não tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nem o presente do subjuntivo. Se precisar empregar esse verbo na primeira pessoa do presente do indicativo ou no subjuntivo presente, use o verbo auxiliar estar: estou colorindo – que eu esteja colorindo.
Eu delinquo ou eu delinco? Demulo ou demolo? Abolo ou abulo? Unjo ou ungo? Extorco?
Delinqüir – demolir – abolir – ungir e extorquir são verbos defectivos e, como observado no exemplo acima, não têm a primeira pessoa do singular do presente do indicativo e nem o subjuntivo presente.
Ele faliu antes e eu falo agora?
Falir é verbo defectivo e só se conjuga nas formas arrizotônicas e não possui nenhuma das pessoas do presente do subjuntivo. No indicativo presente só é conjugado na primeira e na segunda pessoas do plural (falimos – falis). Falo é presente do indicativo do verbo falar.
Afinal o que é defectivo?
Em Linguagem, é o vocábulo a que faltam formas flexionais que existem em outras palavras da mesma espécie. Em Gramática, defectivos são os verbos de conjugação incompleta. Em sua grande maioria, pertencem à terceira conjugação.
O termo defectivo é originário do latim deficio – defectivus, “o que tem falhas”, “o que possui defeito”. Não tem nada a ver com defecare, “lançar fora, expelir”.
Descomplicando: Todo verbo se compõe de duas partes: a raiz e a terminação. Raiz é a parte principal do verbo, geralmente invariável. Terminação são as últimas letras do infinitivo impessoal, geralmente o ar, o er ou o ir. Assim, raiz é o que sobra de um verbo no infinitivo impessoal sem a terminação: amar = am; dever = dev; aplaudir = aplaud; abençoar = abenç; adequar = adeq; passear = pass; anunciar = anunc.
Suprimindo o r do infinitivo impessoal, temos o radical ou tema. O radical é, pois, a própria raiz acrescida de uma vogal, à qual se dá o nome de vogal temática. Verbos da primeira conjugação, a vogal temática é um a; da segunda conjugação, um e; da terceira conjugação, um i.
Em certas formas verbais, o acento tônico cai na raiz verbal, como em amo, devo, aplaudo; em outras, é na terminação (vogal temática): amava, devemos, aplaudia.
Quando o acento tônico cair na raiz do verbo, chamamos de forma rizotônica (rizo = raiz); quando a acentuação for na vogal temática, denominamos de arrizotônica.
Resumindo: rizotônica, acentuação na raiz (louvo), arrizotônica, na vogal temática (louvemos).
Uma observação muito a propósito: a forma verbal rizotônica nunca é proparoxítona. Verbos como clinicar, datilografar, maquinar, medicar, silabar, telegrafar etc., devem ser conjugados: eu clinico, eu datilografo, eu maquino, eu medico, eu silabo, eu telegrafo etc.

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