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Artigo: Língua portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva - 16 de junho de 2005 - 13:48

Barbarismo e arcaização

O comodismo é próprio do ser humano; normalmente aceitamos as coisas como elas nos são apresentadas: é a lei do menor esforço. Daí porque, volta-e-meia, embarcamos em canoas-furadas.
Mas em língua portuguesa, o comodismo de aceitar as palavras e expressões sem se lhes buscar a exata significação, a grafia verdadeira ou a correta pronúncia, faz com que costumeiramente caiamos em erro. Há anos, determinado promotor denunciou certo rapaz que teria forçado uma moça a praticar com ele relações sexuais “no fundilho da estação rodoviária”. Fundilho é a parte das calças correspondentes ao acento. Esse mesmo promotor, de outra feita, concluiu seu arrazoado dizendo que estava provado ter o acusado praticado o delito e, por isso, pedia sua condenação “por ato de ‘pulsinânime’ Justiça." Pusilânime (a forma usada pelo promotor não existe em língua pátria) significa ‘fraco’, embora naquela peça de acusação o sentido que se lhe quis dar o troca-letras fosse o de “equânime justiça”...
Tenho visto em placas indicativas de minhocários e em anúncios de jornais apregoarem a venda de humus e ouvido ilustradas senhoras dizerem que o utilizam em seus vasos e xaxins (a maioria, aliás, pronuncia “xaxinhos”). Em português castiço, puro, a palavra é humo, derivada do latim húmus-i, significando matéria orgânica que dá fertilidade à terra. Mas o povo consagrou a forma húmus e assim permanecerá, porque consentânea com a estrutura da língua.
E há uma razão lógica para a arcaização do termo humo. É que em latim existe o verbo transitivo humo – ãs- ãre- ãvi- ãtum- com significado de “enterrar”, “cobrir com terra”, “fazer os funerais de alguém”. Com o advento do Renascimento, no século XVI, foram traduzidas obras dos grandes escritores latinos e gregos e essas traduções motivaram o aparecimento de palavras que, com pequenas modificações, já haviam ingressado na língua portuguesa, como o nome da matéria orgânica dos vasos e xaxins. Isso, porém, é assunto reservado aos doutores em gramática histórica.
Mas não é o caso “fundilho” e do “pulsinâmine” do promotor, vícios de linguagem que deturpam e desfiguram a palavra. A esses erros é dado o nome de barbarismo ou peregrinismo. Difere da arcaização, que não é erro, pois esta restaura o termo primitivo. Constitui barbarismo o emprego de palavras estranhas na forma (‘pulsilâmine’) ou na idéia (fundilho). Costumeiramente tenho lido ou ouvido – e tenho certeza de que o leitor também já se deparou com elas - expressões que me fazem lembrar daquele promotor, como as que aparecem abaixo, as grafadas em negrito, as corretas, as em itálico, as erradas.
Abóbada

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