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Artigo: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 01 de setembro de 2005 - 11:10

Dúvidas
O rio deságua ou desagúa no Lago? Enxáguo ou enxagúo as louças? Na primeira hipótese a palavra é proparoxítona e leva acento agudo; na segunda, não tem acento e o que foi aqui grafado tem efeito unicamente de prosódia, isto é, de pronúncia da palavra.
Desaguar é um termo composto do prefixo dês mais o radical agu(a) e a desinência verbal (sufixo) ar. Desculpem, mas tenho que voltar ao latim, onde a raiz desse verbo é aqua (=água). Quando, em nossa língua, o g provém de c latino, não há dúvida: a sílaba gu tem acento na forma rizotônica, isto é, na forma em que o acento cai no radical e não na desinência pessoal: averigua (errada a pronúncia que rima com ambígua). Assim, verbos como apaniguar (do latim panificare), apaziguar (do latim pacificare) como averiguar (de verificare), todos com o a protético.
Mas voltemos à nossa questão: deságua ou desagúa, enxágua ou enxagúo?
Para um bom número de gramáticos (Napoleão Mendes de Almeida: “Gramática Metódica”, 360), este verbo segue, quanto à pronúncia, o averiguar. Assim deságua, enxágua, mingúa (aqui, o sinal diacrítico – acento gráfico – é meramente prosódico). O uso porém, não confirma a doutrina (“mais vale a prática que a gramática”, diz antigo e conhecido adágio). Nos verbos em que o g provém do q latino, a pronúncia do povo (“na língua gostosa do povo”, como versejava Manoel Bandeira) é deságua, enxágua, averigua, míngua.
Sucumbindo à corrente popular, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, consagra as formas proparoxítonas, as usadas pelo povo. Também Aurélio Buarque de Holanda (cf. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, verbete água).
Assim, na língua que se fala no Brasil, o correto é deságua e enxáguo. No português dalém mar, nas terras lusitanas, o acento cai no u.
Álibi ou alibi? A palavra é originária do advérbio latino alibi (= em outro lugar) e é empregada em linguagem forense para alegar que o réu, no momento do fato que está sendo apurado, encontrava-se em lugar diferente daquele em que ocorreu o delito. É proparoxítona e leva acento na primeira sílaba: álibi. Álibi, com acento na última sílaba, é pronúncia afrancesada, galicismo não admissível em linguagem correta.
Alto-falante, ou altifalante, ou autofalante? Em comerciais uma emissora de televisão da região vem apresentando é auto-falante. O correto é o primeiro termo (de alto – adj. latino altu=elevado + falante). Seria altifalante, se falante fosse uma palavra derivada do latim fabulare=falar. Falante, porém, é um adjetivo formado do vernáculo falar, não tem fisionomia latina. Por outro lado, autofalante (ou auto-falante, como está no anúncio televisivo) é aquele que fala de si mesmo (do grego autós=autocrítica, autobiografia) ou por si próprio (como autodidata – aquele que aprendeu sozinho, – automóvel – que se locomove por seus próprios meios-, automação – mecanismo que controla seu próprio funcionamento – etc.)
Apostila ou postila? Apostila (do latim postila, cuja tradução literária seria “após aquelas coisas”), tem o significado de anotações ou adições à margem de um documento (apostilar o nome de casada), de uma escritura (adiamento).
Os puristas chamam de postila aquele caderno de folhas mimeografadas onde os alunos estudam as lições. Da expressão latina post ill. A expressão completa no latim escolástico era post illa verba auctoris, ‘depois daquelas palavras do autor’. No francês existe postille, derivado do latim posta no sentido de página. Daí filólogos há que defendem o nome apostila (s) para aquele conjunto de páginas contendo pontos ou matérias de aulas publicadas para uso dos alunos, dizendo que aí houve a aglutinação do artigo feminino. O uso consagrou a primeira forma nominal: apostila.

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