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Artigo: Lembranças de Viagens de Carlos Pulino

Carlos André Prado Pulino é médico oftalmologista em Cassilândia (MS) - 22 de fevereiro de 2010 - 07:28

Arquivo Pessoal
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VERONA
Quando colocamos Verona como parte do roteiro da nossa viagem à Itália, já começamos a imaginar o ambiente de romantismo que deve envolver esta cidade, desde que o famoso dramaturgo inglês, William Shakespeare, fez dela o palco da tragédia de amor de Romeu e Julieta, uma de suas obras mais famosas. As mulheres do nosso grupo de viagem se empolgaram tanto a ponto de reler e discutir os trechos mais emocionantes da aventura – ou desventura - dos “amantes de Verona”.
Cidade do norte da Itália e capital da província do mesmo nome, Verona foi fundada pelos celtas e, atualmente, possui cerca de 260 mil habitantes. Lá, realmente, se respira uma atmosfera mágica e que, direto, evoca o famoso romance. Todo o centro histórico da cidade é cercado por uma muralha da época medieval. Na praça central, há uma grande ruína circular, no mesmo formato do Coliseu Romano, chamada Arena, e onde hoje funciona um imenso teatro. A encenação dos espetáculos ocorre ao ar livre, em meio às ruínas da antiga construção, com o público acompanhando e se deslocando junto, conforme o desenrolar das cenas. À época de nossa visita havia imensas figuras de papelão, retratando mulheres com trajes antigos, convidando para a apresentação de uma peça medieval. Nesta mesma praça, achamos interessante uma placa de bronze fixada em uma sacada, com os seguintes dizeres: “Roma o Morte”, frase proferida daquele local pelo revolucionário e idealista Giuseppe Garibaldi, incitando os italianos à luta pela unificação da Itália, que ocorreu antes de Garibaldi vir ao sul do Brasil, onde também participou da nossa revolução. Recentemente tivemos uma mini série na TV, A Casa das Sete Mulheres, que mostrou esta fase de nossa história.
A cidade de Verona atrai muitos turistas, a maioria deles, casais enamorados, que fazem questão de ver de perto o local onde Romeu e Julieta viveram tão imenso amor. A obra imortal de William Shakespeare é baseada em fatos reais ocorridos na cidade. Outros escritores, antes dele, criaram enredos inspirados no destino dos dois jovens amantes, mas só Shakespeare conseguiu transformar uma história aparentemente corriqueira em termos literários, numa obra prima de dimensão universal.
O romance se passa no século XVI, época do regime feudal, em que as mulheres não faziam parte da sociedade no que dizia respeito à política. Os casamentos eram realizados por interesses, geralmente financeiros, sendo que elas só conheciam seus futuros maridos depois que seus pais firmavam acordo com a família do noivo. Os Capuleto de Verona e os Montechcchio de Cremona são as duas famílias rivais a que pertencem os jovens. Eles se conhecem na festa em que ela seria apresentada ao futuro marido escolhido por seus pais, e onde Romeu entra sem ser convidado. Apaixonam-se imediatamente e, por causa da oposição das famílias, conseguem que um frade amigo os case secretamente. Quando é marcado o casamento com o pretendente escolhido pela família, novamente o frade amigo os socorre sugerindo que ela tome uma poção que a fará parecer morta. Ao mesmo tempo, manda um mensageiro avisar Romeu para vir resgatá-la na sepultura. O trágico destino faz com que haja um desencontro entre o mensageiro e Romeu que, acreditando que sua amada está realmente morta, fica desesperado e consegue um forte veneno para tomar e morrer ao lado dela. Quando finda o efeito da poção e Julieta acorda, percebe o acontecido e se suicida com um punhal. A intensidade deste amor e seu triste final, até hoje suscitam a imaginação de quem visita a cidade.
Em Verona existe mesmo a casa de Julieta, e é com um misto de curiosidade e excitação que se acompanha a multidão seguindo pelas ruelas da cidade até deparar com ela. É toda de tijolinhos aparentes, tem portas, janelas, e o famoso balcão, de onde Julieta ouvia as declarações de amor ditas por Romeu. No pátio à frente da casa, junto a um muro cheio de trepadeiras floridas, há uma estátua de Julieta, em tamanho natural, de bronze, o vestido mostrando o seio direito lustroso de tanto que turistas e visitantes o tocam com a mão para terem sorte no amor. A gente fica mudo com tudo aquilo, emocionados mesmo, ao ver que todas as paredes, portas, batentes de janelas e até o chão, estão cobertas de inscrições, bilhetinhos, cartões com frases e declarações de amor, corações com iniciais de nomes, inscrições, quadrinhos, e.t.c... Tudo numa alusão veemente ao amor, palavras deixadas em vários idiomas, por casais enamorados do mundo todo, que fazem questão de deixar um pouquinho de sua história pessoal misturada à maravilhosa história de amor de Romeu e Julieta. O que se vê é uma verdadeira romaria de seres humanos reais querendo também fazer parte daquela fantasia, tornar a sua história de amor também eterna, intensa e tão bonita quanto à dos dois jovens do romance.
Assim como pessoas especiais e heróis que, ao morrer tornam-se lenda, também alguns personagens criados por escritores de obras famosas, são transformados em reais pelo povo. O aspecto medieval de Verona, a atmosfera de romantismo e o culto aos personagens de Shakespeare nos fazem imaginar ser possível escutar os passos e vozes das personagens que, saindo do romance, ganham vida própria. Ou então, somos nós que, sem perceber, entramos no romance e passamos a fazer parte dele.
Apesar de este romance ter ocorrido no século XVI, ainda hoje é possível reconhecermos traços de Romeu e Julieta em muitos jovens da nossa época, que desafiam leis e costumes para também viverem uma paixão proibida.

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