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Artigo: Lembranças de Viagens de Carlos Pulino

Carlos André Prado Pulino é médico oftalmologista em Cassilândia (MS) - 06 de janeiro de 2010 - 07:19

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

SALA DE SILÊNCIO

Visitando Berlim, capital da Alemanha, fomos conhecer a região central da cidade onde, após a 2ª Guerra Mundial, por forças militares de motivos políticos e ideologias contrárias, foi construído um muro que a dividiu em duas partes: uma oriental (comunista) e outra ocidental (capitalista). Este muro começou a ser erguido sem aviso prévio, na madrugada do dia 13 de agosto de 1961 e, não apenas dividiu uma cidade, como também separou famílias, amigos, uma nação enfim. Vem daí o termo “Cortina de Ferro”, cunhado por Winston Churchill, então primeiro ministro inglês, para designar o muro e depois a barreira entre os países do leste e do Oeste. Ele passava pela Praça Potsdam onde havia o famoso Portão de Brandemburgo, monumento erguido há cerca de 200 anos, em favor da liberdade, e conhecido como “Portal da Paz”. Embora seu uso no decorrer da história, especialmente durante o regime nazista, nem sempre tenha sido com este propósito, pois Hitler costumava desfilar seus tanques e imenso exército, exibindo todo o seu poderio bélico exatamente por ele.

Este muro permaneceu por 28 anos, período em que muitas pessoas perderam a vida tentando fugir da parte comunista para a parte capitalista. Só em 9 de novembro de 1.989, finalmente, começou a ser derrubado.
À época de nossa visita, ainda conseguimos ver os restos físicos do que sobrou deste muro: pequenas pedras no chão, restos de seu alicerce, ainda procuradas como souvenir por inúmeros visitantes e turistas.

Ao lado, na mesma praça, deparamos com um local chamado Sala de Silêncio. Entramos por pura curiosidade, não sabíamos do que se tratava, e acabamos tendo uma surpresa e uma experiência marcante.

Na entrada, só uma palavra: SILÊNCIO. Ao lado, numa escrivaninha, vários folhetos, em diversas línguas, esclareciam o significado daquele local.

A finalidade desta sala é, em primeiro lugar, dar oportunidade a qualquer ser humano independente de seu local de origem, cor da pele, ideologia, religião ou constituição física, de poder entrar e simplesmente relaxar, meditar, e esquecer por um momento o stress da cidade grande, obtendo energia e paz para superar os desgastes do dia-a-dia.

Um lugar tão cheio de história pode ter influência positiva na meditação, apesar do lado negativo das lembranças das guerras e da intolerância entre os homens. E, em segundo lugar, esta sala existe como um símbolo, um constante apelo à tolerância e irmandade entre os homens, uma advertência contra a violência e a xenofobia, um pequeno passo em direção à paz e à união.

A sala é pequena, totalmente neutra, sem qualquer apologia religiosa, política ou ideológica. Seu único adorno é um trabalho artístico na parede, simbolizando a luz penetrando nas trevas. Há bancos simples, de madeira, onde as pessoas sentam, algumas oram, outras meditam ou choram discretamente. Permanecemos longo tempo em silencio, confesso que fui tomado por uma estranha emoção e acabei orando também, agradecendo a Deus por não ter nenhum ente querido torturado ou morto nos horrores da guerra, coisa que muitos ali presentes talvez tivessem a lamentar. Ao mesmo tempo, constatava quão estúpida e sem sentido são as guerras

A idéia de criar, no centro de Berlin um lugar de meditação, independente de ideologia religiosa ou política, se originou pouco depois da queda do Muro de Berlin. Um pequeno grupo de berlinenses se formou com a meta de criar uma Sala de Silêncio num local central e próximo ao muro, que separava militarmente os ideais opostos e hostis. Inaugurada em 27 de outubro de 1.994, esta sala foi inspirada numa similar, existente em NovaYork e situada no edifício das Nações Unidas desde 1.954.

Foi uma experiência muito forte e marcante, estar naquela sala, sentindo e “ouvindo” todo aquele silêncio tão cheio de emoção.


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