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Geral

Artigo: Lembranças de Carlos Pulino

Carlos André Prado Pulino – médico oftalmologista - 25 de novembro de 2010 - 07:14

IGREJA DE SAINTE-CHAPELLE
Esta é uma igreja um tanto diferente das outras mais convencionais e já descritas por mim em artigos anteriores. Pelo que eu sei, atualmente nem são mais rezadas missas em seu interior, isto só em ocasiões muito especiais ainda acontece.
Foi construída por ordem de Luiz IX, na Idade Média, e era chamada de “Portão para o Céu”. Ela deveria receber e guardar relíquias religiosas, uma delas o que eles acreditavam ser a “Coroa de Espinhos” usada por Jesus Cristo no calvário. Este objeto sagrado teria sido comprado de um imperador bizantino pelo rei Luiz IX, em Veneza, no ano de 1239. A igreja é uma obra prima de arquitetura gótica e seu arquiteto foi provavelmente Pierre de Montreuil, o mesmo que construiu Saint-Germain-des-Prés. Na realidade, foram construídas duas igrejas, uma sobreposta à outra, e elas foram consagradas no ano de 1248.
A igreja inferior foi dedicada a Virgem Maria e era destinada aos servos e pessoas comuns, enquanto que a superior era destinada exclusivamente ao reis e membros da corte. A de baixo tem apenas 7m de altura, com o teto em forma de arco e colunas de três faces, pilares estreitos e muito coloridos. É, de fato, uma obra prima da arquitetura gótica. A gente atinge a parte superior subindo por uma escada espiral. Lá em cima o visitante tem uma bela visão dos enormes vitrais que estão em toda a volta, praticamente não existem paredes, somente os vitrais.
Esta capela superior tem uns 20m de altura, e os vitrais, de cerca de 15m de altura, belíssimos, revelam mais de mil passagens bíblicas do Novo e Velho Testamento. Os quinze vitrais da Sainte-Chapelle compõem, exatamente, 1134 cenas bíblicas e evangélicas e cobrem uma superfície de 618m².Tem ainda uma rosácea com 86 painéis representando o Apocalipse. A gente senta nos bancos de madeira, dispostos à volta da pequena área da capela, e se maravilha observando os detalhes e as cores daqueles pedacinhos de vidro dispostos perfeitamente a formar aquelas imagens. É lindo quando o sol atravessa aqueles vidros coloridos e inunda o ambiente de cores e luzes. Durante a Revolução Francesa, esta igreja foi bastante danificada e - olha só que abuso!- foi usada como depósito de farinha. Só um século mais tarde, em 1846, ela foi restaurada e recuperou o seu esplendor.
Mencionei esta capela pelo valor inestimável que têm estes vitrais. O ingresso para visitá-la custa 10 euros, o equivalente a R$ 29,00, e enfrenta-se uma fila enorme para entrar. Precisamos passar por um detector de metais, nossas bolsas e sacolas são revistadas e as próprias pessoas também passam por uma revista antes de poder entrar nela. Tudo com medo de atentados e bombas que possam destruir este tesouro. Tive a oportunidade de visitá-la por duas vezes e me encantei não só admirando tudo aquilo, como também usufruindo de toda a paz que exala naquele espaço.
Depois desta visita, pode-se aproveitar da proximidade e também conhecer La Conciergerie, que fica a uns 100m indo na direção do Rio Sena. É uma construção grande, às margens do rio, construída no final do Século XIII e começo do século XIV. Seu nome vem de “Concierge” que era o nome do governador real que dirigia o edifício. Nada mais é senão a antiga cadeia.
Lá tem um grande salão, bem grande mesmo, que era a sala de jantar do rei. Observei nas paredes desta sala a marca do nível que a água atingiu numa das maiores enchentes que Paris já sofreu: fica bem acima da altura de um homem normal, e a maioria dos presos que ali estavam acabaram morrendo afogados.
Vi a cela na qual Maria Antonieta passou seus últimos dias e vi também a guilhotina que foi usada na sua execução. Fica no subsolo, local lúgubre, onde o peso dos acontecimentos ali passados e descritos deixa na gente uma sensação de opressão e angústia. Esta visita nos faz lembrar dos conflitos e acontecimentos históricos, do sofrimento e do martírio de tantos que, dali, subiram ao palco da guilhotina e despediram-se desta vida.

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