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Artigo: Lembranças de Carlos Pulino

Carlos André Prado Pulino – médico oftalmologista - 23 de novembro de 2010 - 06:40

LEMBRANÇAS DE UMA PESCARIA I
Quem gosta de pescar nunca perde a oportunidade para contar as várias estórias, “causos” ou lembranças que tem de suas pescarias. Eu sou um grande aficionado e tenho várias lembranças deste tipo.
Desde pequeno meu saudoso pai me levava para pescar às margens do Rio Mogi Guaçú, perto da cidade de Barrinha, no Estado de São Paulo. Nas primeiras vezes em que ele me levou, como eu era muito arteiro, meu pai prendia uma corda em minha cintura e amarrava em uma árvore, tomando o cuidado de deixar o comprimento suficiente para que eu chegasse somente até o barranco e não caísse na água. Com uma varinha de bambu e umas minhocas, eu ficava por várias horas entretido, pescando pequenos lambaris, e dando o sossego necessário para que ele pescasse suas piaparas e pacus.
Nos anos de cursinho e faculdade não me foi possível pescar, por falta de tempo e local, mas quando vim morar em Cassilândia, novamente foram surgindo oportunidades. Já se começava a falar das maravilhas do nosso Pantanal, isto bem antes da novela do mesmo nome, que fez bastante sucesso e divulgou ainda mais as suas belezas.
Uma memorável pescaria de que participei ocorreu no ano de 1984, no famoso Rio Miranda.
Tudo começou num encontro na cidade de Jales com meu irmão David e os cunhados dele, Hélio, Cláudio, e Otávio. Jogando conversa fora, começamos a idealizar uma pescaria e eu acabei convencendo todos de que deveríamos ir ao Pantanal, não só pela fama de ter peixes grandes e em abundância, mas também pela oportunidade de conhecer aquela região.
Depois de muitas idas e vindas, começamos a discutir o que levar e o tipo de tralha mais adequado. Aconselhados pelos pescadores daqui e que já conheciam o Pantanal, escolhemos o mês de outubro já que, segundo eles, seria a melhor época para se pescar. Estávamos no mês de junho e parecia que tínhamos uma eternidade pela frente até chegar o dia da saída. Foram vários telefonemas e encontros em Jales para acertarmos todos os detalhes. A ansiedade e euforia pelo passeio crescendo a cada dia.
Na época eu tinha uma caminhonete Chevrolet C-15 a gasolina. Mandei fazer uma revisão geral na oficina do Negrinho, hoje morador da cidade de Campo Grande, deixando tudo nos trinques para o grande dia.
Meus companheiros chegaram à tarde da véspera da nossa saída trazendo toda a tralha de pesca, inclusive para mim, pois eu não tinha nem um anzol!
Carregamos a caminhonete e deixamos tudo pronto para a madrugada que iríamos fazer. Estávamos em cinco pescadores e, como na cabine da caminhonete só havia lugar para três, dois tiveram que ir sobre a carroceria!
Naquele tempo ainda era permitido transportar pessoas atrás. Saímos bem cedo, ainda não havia asfalto para o Chapadão, só tinha um trecho de 45km asfaltado entre Paraíso e Camapuã- aliás, eu nunca entendi o porquê daquilo- e, chegando a Camapuã é que pegamos o asfalto que nos levaria até Miranda.
Na viagem, antes de chegarmos a Campo Grande, o motor da caminhonete começou a falhar. Deu um trabalho danado para conseguirmos chegar até a cidade, onde procuramos uma oficina e foi preciso abrir o carburador que estava com bastante sujeira. Nisso perdemos um tempo precioso e nossa ansiedade de chegar ficou ainda maior, pois não conhecíamos nada para aqueles lados e tínhamos que chegar de dia para arranjar uma pousada e orientação de onde pescar.
Mas como quem anda com Deus tem sorte, logo na saída de Campo Grande fomos ultrapassados por um conhecido de nossa cidade: era o ex promotor de justiça de Cassilândia o Dr. Abel, que tinha sido transferido justamente para a cidade de Miranda. Ele nos reconheceu e paramos no próximo posto para conversar. Resumindo, nós o seguimos até Miranda e ainda ficamos hospedados em sua residência. Era a glória para nós, marinheiros de primeira viagem, pois tínhamos saído sem nenhuma referência sobre o lugar onde pretendíamos chegar. No dia seguinte, sempre solícito, o Dr. Abel ainda nos orientou sobre onde nos alojar e pescar.
O lugar sugerido por ele é chamado Salobra, e ficava logo depois de Miranda, junto à barra do Rio Salobra com o Rio Miranda. Ficamos no rancho do Sr. José e dona Augusta, ela uma cozinheira de mão cheia, comida excelente toda feita no fogão à lenha. Só depois do almoço é que começamos a tão esperada pescaria. Alugamos dois botes, colocamos nossos motores e nos aventuramos no rio. Descemos uma meia hora de barco e encontramos alguns pescadores profissionais e, pela orientação que tivemos, ali estariam também os peixes.
Foi dito e feito.
A tralha de pesca era tão precária que eu tive de pescar com uma vara telescópica e meu irmão enrolou uma linhada numa lata de cerveja Skol, que na época era mesmo de lata. Amarrou na linhada uma chumbada média, um anzol 7/0, iscou e arremessou o mais longe que conseguiu. Nem bem o anzol bateu na água, um belo dourado mordeu a isca ele deu a fisgada. Seu movimento foi tão brusco que ele caiu para trás, no assoalho do barco, mas levantou rapidinho, com medo de perder o bichão e conseguiu embarca-lo. O Cláudio estava com outra vara telescópica e o Otávio com linhada de mão. O Hélio era o único a ter uma vara com molinete, que tinha sido deixada pelo seu finado pai. Mas, no segundo arremesso que ele fez a manivela do molinete, que não estava bem apertada, escapou e caiu justamente na água. Foi uma decepção geral. Mas, talvez por causa da nossa sorte e da fome dos peixes, todos nós pegamos vários deles. Alegria e um grande entusiasmo tomou conta de todos nós.

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