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Artigo: Isabela, o Estado e a comoção nacional

Dirceu Cardoso Gonçalves – tenente-PM/SP - 23 de abril de 2008 - 11:15

O caso Isabela, que as autoridades dizem estar perto do desfecho, causa comoção nacional e chega a provocar um mal generalizado. Pessoas atemorizam e emocionam-se ao colocarem-se numa das posições. As sociedade e crianças, especialmente, confundem-se e impacientam-se diante do turbilhão de valores corrompidos. Chora-se, emociona-se, sofre-se tanto quanto em episódios anteriores que ficaram marcados na alma do sofrido povo, como os famosos casos de Aida Cury, do famigerado Bandido da Luz Vermelha, de Aracely, da Escola Base e outros, que conferiram um tempero amargo à vida brasileira das últimas quatro ou cinco décadas.

O Estado, pelo seu aparelho policial Público debruça-se, desde as primeiras horas, sobre o crime do Edifício London. Usa alta tecnologia e grande contingente humano para desvendar o crime e apresentar à sociedade, com a maior rapidez, o culpado – ou culpados – da morte de Isabela. Ao fazê-lo, tem de convicção demonstrar quem e como cometeu essa atrocidade ou, se não conseguir apurar esses dados com segurança, abster-se de acusar sem que isso lhe represente qualquer demérito. Jamais poderá ceder à emoção e ao clamor popular.

Terminado esse caso, restará a sensação do dever cumprido. Mas só a sensação, se levarmos em consideração que Isabela, essa criança de classe média, é apenas uma das milhares crianças mortas ou vitimadas neste país. Ficará faltando o mesmo empenho para a localização e penalização dos autores de chacinas, de estupradores, e até dos pais ou parentes que agridem ou descumprem sua obrigação de guarda. Embora sejam anônimas carinhas da periferia, de favelas, talvez, as outras pequenas vítimas também são credoras da atenção e até da indignação dispensadas à infelicitada Isabela, mas não as têm recebido.

Além do competente serviço policial que tem demonstrado, o Estado tem o dever de zelar pelo cidadão através de ações que o conduzam a uma vida social economicamente normal, com saúde, educação e outros requisitos primários. Cumprida essa tarefa básica, há que manter um aparelho social e de segurança eficiente para desencorajar as atitudes criminosas e punir aqueles que, mesmo assim, vierem a cometê-las. E, uma vez identificados e apenados os criminosos, há que se manter uma estrutura penal capaz de ressocializá-los, algo muito distante do que o disponível atualmente.

O martírio da pequena Isabela é um fato triste, que não podemos ignorar. Serviu, inclusive, para evidenciar o empenho e a eficiência da máquina estatal. Espera-se que sirva, também, para alertar os governantes quanto à necessidade de dispensar o mesmo tratamento às outras vítimas, sejam elas crianças ou adultos. Se isso, um dia, vier a ocorrer, não se repetirão o clamor e a comoção de hoje, mas a sociedade restará bem servida e grata...



Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

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